Mortes: Mãe, avó e bisa, escrevia cartas para todos em datas especiais

Maria do Carmo Rodrigues priorizava a educação dos filhos em todas as decisões

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Belo Horizonte

Em ocasiões comemorativas, os familiares já sabiam que deviam esperar a chegada pelo correio de uma carta de Carminha. A prática começou com os filhos, logo se estendeu às noras e aos netos e bisnetos.

Com a caligrafia vaidosa de quem foi professora do primário, tecia elogios ao destinatário, dava conselhos de vida e recheava com orações e passagens religiosas.

Nascida em Ibimirim, no interior de Pernambuco (a 335 km de Recife), na adolescência Carminha trabalhou em um armazém por onde passavam pessoas vindas de diferentes lugares do estado. Acordava cedo e ia recebê-los com sua curiosidade: sempre perguntava para essas pessoas como era o lugar de onde elas vinham e como elas viviam.

"Sabe aquela coisa que você nasce em um lugar e sente que não pertence àquele lugar? Sente que pertence a um lugar maior? Ela sempre foi assim", conta Manoel Fernandes, seu filho.

Foi ali perto que conheceu o homem que viria a ser seu marido, em 1959, durante a construção do açude que até hoje é o maior de Pernambuco, Poço da Cruz.

Manoel era baiano, descendente de espanhóis e trabalhou na obra que serviria para mitigar os efeitos da estiagem. Mais tarde, os dois seriam servidores públicos do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas).

Mulher idosa sorrindo
Maria do Carmo Rodrigues Macedo (1930-2022) - Arquivo pessoal

Juntos, tiveram quatro filhos e mudaram-se para Arcoverde (PE) e posteriormente para o Recife, sempre em busca de oportunidades de estudo melhores para os filhos.

Carminha era muito decidida e totalmente apaixonada pelo conhecimento. "Todas as decisões que ela tomava eram em relação a proporcionar a melhor educação para os seus meninos, onde fosse. Se tivessem dado a oportunidade para ela, teria ido para São Paulo ou Nova York", afirma o filho.

O seu esforço incansável rendeu frutos: os quatro filhos estudaram até o ensino superior e são profissionais bem-sucedidos. Embora ela mesma não tenha avançado nos estudos, era muito inteligente e fazia contas matemáticas de cabeça com facilidade.

Depois de aposentada e viúva, Carminha gostava de frequentar a Igreja Católica do Apostolado Coração de Jesus. Manteve seu interesse e curiosidade pelas pessoas, razão pela qual conseguiu grandes amizades, que adorava receber em casa.

Com a família cada vez maior, se dedicava a cuidar de todos e também às cartas, que nos últimos anos chegavam a tomar dois dias para serem escritas.

Aos 91 anos, tinha a pressão e a saúde em dia. Teve uma morte tranquila em 16 de janeiro, consequência de uma infecção urinária que evoluiu para uma infecção pulmonar. Deixou uma filha, três filhos, seis netos e quatro bisnetos.

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

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