Mortes: Solidária, sempre tinha uma palavra de conforto e ânimo

Quem a conheceu diz que Francisca das Chagas tinha um brilho próprio

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Belo Horizonte

Durante décadas, a cidade de Sousa, na Paraíba (a 430 km de João Pessoa) recebeu Chica (ou Tidinha, como Francisca também era conhecida) e sua família, todo ano, religiosamente. Foi lá, ainda no colégio, que ela conheceu o homem com quem se casaria, teria um filho e se referiria para sempre como o amor de sua vida, Dimas.

Na juventude, o rapaz servia no Exército e se mudava constantemente. O romance acontecia por correspondência, em cartas de amor. Logo, Dimas voltou para buscá-la e levá-la para São Paulo, onde os dois criaram o filho, Hebno Morais.

Dimas trabalhava fora como engenheiro, e Chica trabalhava em casa, como dona de casa. Os dois não conseguiam ficar muito tempo longe da família paraibana: todo ano, nas férias escolares de Hebno, eliminavam os mais de 2.600 quilômetros que separavam Chica dos seus pais e 14 irmãos, a quem era muito apegada.

Francisca das Chagas Estrela de Morais (1950-2022) (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando ainda morava pertinho, sempre ajudava o pai no comércio da família e passava roupas para um dos irmãos. Gostava de contar a história de como livrou outro irmão de um casamento indesejado: no dia da cerimônia, quando o rapaz confessou as inseguranças, Chica o tranquilizou e orientou que fosse embora; resolveu tudo com a família e a noiva.

Sua solidariedade e alto-astral eram marca registrada. "Ela gostava sempre de conversar sobre tudo. Gostava muito de ter conversas agradáveis sobre religião, quando ela te encontrava de baixo-astral, gostava de te animar e te dar uma palavra de conforto, falar um pouquinho da palavra de Deus", conta o filho, Hebno.

Chica era católica, devota de Nossa Senhora de Aparecida, mas gostava de dizer que o importante era que Deus era um só, independente da religião. Todos os dias, conversava com alguns irmãos e irmãs, vizinhos, a nora e o filho. Adorava usar o celular e figurinhas do WhatsApp.

Gostava de sua independência e, durante a pandemia, deu alguns perdidos no filho para poder sair de casa sozinha. Usava as idas ao banco e ao mercado como justificativa para ver gente, tomar conta da própria vida.

Em 2001, perdeu o marido em um acidente de trânsito. A partir daquele momento, não se envolveu romanticamente com mais ninguém. Guardou fidelidade a Dimas, que continuou sendo o amor da sua vida.

Em casa, gostava de assistir novelas, filmes e jornais na televisão, em especial o longa "Como Eu Era Antes de Você", que narra um romance entre uma cuidadora e seu paciente tetraplégico. "Nunca vi alguém gostar tanto de um filme, ela assistiu esse filme pelo menos umas 50 vezes. Eu falava: ‘Mãe, eu tenho Netflix, tem 300 mil filmes para você assistir, e é esse que você quer assistir?’. Ela falava: ‘E é esse que eu quero assistir’", conta Hebno. Foi o último filme que ela viu.

Francisca, ou Chica, ou Tidinha, morreu no dia 15 de janeiro de 2022, aos 71 anos, em decorrência de complicações de um aneurisma. Deixou um filho e 11 irmãos.

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

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