Saiba quem era o paranaense apontado como serial killer nos EUA

Piloto de avião matou a esposa a tiros e agrediu prostituta em Londrina, antes de viver no exterior

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São Paulo

O paranaense Roberto Wagner Fernandes, recentemente apontado como o responsável pela morte de três mulheres nos EUA no início dos anos 2000, também esteve envolvido com a Justiça brasileira em pelo menos três ocasiões –na morte da esposa, agressão a uma prostituta e tentativa de abuso sexual de menor.

Piloto de avião morto em 2005, Fernandes ganhou o noticiário internacional e as manchetes dos sites de Miami, no fim de agosto, quando foi chamado de serial killer por ter assassinado três prostitutas duas décadas atrás. O corpo da primeira vítima identificada, Kimberly Dietz-Livesey, foi encontrado em uma mala em junho de 2000.

Dois meses depois, acharam o corpo de Sia Demas dentro de uma mochila à beira de uma estrada. A terceira vítima, Jessica Good, foi esfaqueada até a morte e seu corpo localizado flutuando na baía de Biscayne, em agosto de 2001.

Roberto Wagner Fernandes, suspeito de matar três americanas em 2000 e 2001, em Miami
Roberto Wagner Fernandes, suspeito de matar três americanas em 2000 e 2001, em Miami - Gabinete do xerife do condado de Broward

Mas o histórico criminal do paranaense começou no Brasil. Em 1996, ele esteve envolvido na morte da esposa, a professora Danyelle Bouças Fernandes. Como noticiou a Folha de Londrina, os disparos por volta da 1h30 acordaram os vizinhos e, assim que o corpo da mulher foi achado, o marido se tornou o principal suspeito.

À polícia, três dias depois do crime, Fernandes afirmou que o motivo do desentendimento do casal eram as constantes ligações de Solange Neves, prostituta para quem o piloto devia dinheiro.

Em seu depoimento, Fernandes disse que eles se encontraram apenas uma vez e, após uma discussão no motel sobre o valor a ser pago, ela tentou agredi-lo com uma garrafa quebrada. Houve uma briga e ambos se cortaram. Desde então, Solange passou a telefonar para a casa dele e a incomodar sua esposa.

Na noite em que Danyelle foi morta, de acordo com Fernandes, o telefone tocou enquanto ele estava no banheiro. Quando saiu, a esposa lia a Bíblia e, perguntada sobre a ligação, disse nervosa que "aquela vagabunda ligou". Ele foi, então, para o quarto e dormiu, mas acordou com os gritos da companheira, que segurava uma arma. Os dois brigaram e tiros foram disparados.

Quando viu que a esposa estava morta, Fernandes ligou para a mãe ir ao seu apartamento, pegou a filha de 5 anos e foi para a casa dos pais. Deixou a criança lá e "saiu sem rumo", chegando a Presidente Prudente, no interior de São Paulo, a cerca de 160 km de Londrina.

Inocentado da morte de Danyelle, Fernandes, no entanto, enfrentava ainda o processo de agressão contra Solange. Assim que viu as notícias sobre a morte da professora e que o piloto era o principal suspeito, a garota de programa procurou a polícia para denunciar a violência que sofrera.

Em sua versão, na noite da briga ele não quis transar, apenas companhia enquanto consumia cocaína e uísque. No segundo motel a que foram, após oferecer massagem para Solange, ele quebrou uma garrafa na cabeça dela e ainda tentou afogá-la na banheira de hidromassagem.

A prostituta disse, em depoimento, que só conseguiu se salvar porque tirou o ralo e a água escoou, mesmo que o piloto tenha tentado tampar o buraco com um lençol. Ele ainda deu vários socos e tentou sufocar a mulher. No fim, com cortes nas costas, glúteos e perna, ela o acalmou e os dois foram embora.

Solange disse que o piloto pagou o programa com um cheque da Transbrasil, empresa aérea onde trabalhava. Para cobrar os gastos médicos, ela ligou algumas vezes para a casa dele e, quando Danyelle atendeu, mentiu sobre quem era.

Outras duas colegas de Solange chegaram a prestar depoimento à polícia sobre Fernandes. Elas também tinham feito programas com ele e, em comum, falaram sobre o seu grande consumo de cocaína. Para elas, o piloto pediu sexo oral.

O processo, aberto em 1998, se arrastou por anos. O piloto se mudou para os EUA, onde trabalhou como comissário de bordo e motorista de ônibus de turismo, voltou ao Brasil e mesmo assim não foi encontrado pelos oficiais de Justiça. Virou inclusive réu em outro caso.

Também em Londrina, há um processo contra Fernandes pela acusação de tentativa de abuso sexual de menor. O caso de 2004, em segredo de Justiça, prescreveu 13 anos depois. A investigação da agressão a Solange também foi extinta, mas, nesse caso, porque o acusado não estava mais vivo.

Aos 40 anos, o paranaense morreu em um acidente de avião na divisa entre Paraguai e Argentina, em 2005. De acordo com a mídia local, ele fazia constantes viagens entre os dois países e o Brasil. Nos destroços da aeronave, foram encontrados 15 galões com 40 litros de combustível cada. Para as autoridades paraguaias, o piloto estava envolvido em atividades ilícitas.

Apenas em 2011 a polícia americana conseguiu ligar Fernandes ao assassinato das três mulheres em Miami graças às impressões digitais dele que foram guardadas durante a investigação da morte de Danyelle, em Londrina. E foi então que as autoridades dos EUA descobriram que o piloto morrera seis anos antes.

A confirmação de que o paranaense era realmente o autor dos assassinatos veio após a exumação de seu corpo, neste ano, quando seu DNA foi recolhido. A polícia dos EUA não descarta, porém, que o brasileiro tenha matado mais mulheres enquanto viveu em Miami.

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