Descrição de chapéu Rio de Janeiro chuva

Em Petrópolis, moradores e voluntários peregrinam em busca de roupas, alimento e água

Alguns locais atingidos pelas chuvas ainda estão sem água e luz

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Petrópolis (RJ)

Há três dias as cunhadas Sueli e Adriana sobem e descem a pé o Morro da Oficina, em Petrópolis (RJ), com uma missão: garantir água, alimento e roupas para a família.

A comunidade foi um dos locais mais duramente atingidos pelo temporal que devastou a cidade na última terça-feira (15), com inundações e deslizamentos, provocando a morte de ao menos 152 pessoas.

O fornecimento de água só voltou no Morro da Oficina no final da tarde de quinta (17), conta Adriana Santos, 41.

Moradores escolhem roupas doadas em quadra de esportes em frente ao morro da Oficina, em Petrópolis - Eduardo Anizelli/Folhapress

A água, porém, está barrenta. Por isso, três dias após o temporal, as cunhadas, que moram no mesmo terreno, ainda dependem de doações de garrafas d’água para beber e cozinhar.

Sem água limpa em casa, também não foi possível lavar as roupas molhadas durante a enchente. A reportagem encontrou Adriana escolhendo roupas para os dois filhos, de 4 e 11 anos, em uma grande cesta de doações.

"Só hoje estão liberando a via [após os deslizamentos], só dava para descer a pé", conta ela sobre a jornada que tem percorrido todos os dias.

Algumas pessoas atingidas pelas chuvas não conseguem sequer chegar aos locais onde estão sendo realizadas as doações.

Umas são idosas, com dificuldades de locomoção. Outras dependem de um carro, ou da circulação de ônibus, para poder buscar os itens. Em muitos lugares, porém, as vias ainda estão interditadas e só é possível percorrer as distâncias a pé.

Diante dessas dificuldades, missionários de uma igreja evangélica se organizaram para levar as doações a cinco famílias que não conseguem buscá-las.

"Estamos juntando para levar tudo o que conseguimos", diz a voluntária Mariane de Araújo, 30.

"As pessoas estão presas. Umas sem comida, outras no risco de ficar sem", afirma o pastor da igreja, identificado como Leonardo.

Neste domingo (20), bombeiros e moradores continuaram as buscas pelos 126 desaparecidos já registrados junto às autoridades.

Foram mais de 400 deslizamentos desde o temporal de terça, somando 553 ocorrências no total registradas pela Defesa Civil, incluindo alagamentos e avaliações de risco.

Por conta do risco de desabamento e novos deslizamentos, mais de 800 pessoas tiveram que deixar suas casas e procurar abrigo.

Rogerio Senra, 54, teve sua casa atingida pelas chuvas e encontrou abrigo na igreja Santo Antônio, no bairro Alto da Serra, em Petrópolis - Eduardo Anizelli/Folhapress

É o caso de Rogerio Senra, 54, abrigado na Igreja de Santo Antônio, no Alto da Serra. Morador da rua Sargento Boening, ele conta que na terça foi andando até a paróquia, com lama até o joelho.

"Muita água descendo, muito barro, muita lama. Fiquei apavorado", diz.

Em casa, deixou todos os documentos e o celular. Rogerio tinha de memória os contatos das filhas, mas sempre que liga cai na caixa postal, ele conta. Por isso, pede para ter sua foto publicada no jornal, na esperança de que elas o encontrem.

"Elas devem estar preocupadas comigo, não devem saber onde eu estou", afirma.

A catadora de latinhas Ana Maria Pereira, 49, também encontrou abrigo na igreja. Ela diz que a enchente foi uma tragédia anunciada, e relata ter ficado soterrada em outro temporal na cidade, em 1988. "Agora é tudo de novo", lamenta.

A catadora de latinhas Ana Maria Pereira, 49, descansa no abrigo da igreja Santo Antônio, no bairro Alto da Serra, em Petrópolis - Eduardo Anizelli/Folhapress

Ana morava na rua até o início do mês, quando uma sobrinha a convidou para ficar na sua casa, no Morro da Oficina. Na terça, a catadora de latinhas estava trabalhando no centro quando começaram as chuvas.

Sua sobrinha, que estava em casa, agora é um dos desaparecidos. "Voltou o vazio de novo por não ter mais casa. A habitação nessa cidade é muito desumana", diz.

Ana se cadastrou no programa de Aluguel Social, e torce para receber o auxílio. "Não queria ter que voltar a morar na rua. Agora não tenho mais família."

Colaborou Eduardo Anizelli

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