Franco da Rocha, cidade com a maior quantidade de vítimas fatais em razão das chuvas que atingiram São Paulo nos últimos dias, é o terceiro município da região metropolitana de São Paulo (sem contar a capital) com mais áreas de risco mapeadas.
A cidade tem 382 pontos com risco de desabamento ou alagamento, onde estão localizadas cerca de 18,8 mil moradias.
O Corpo de Bombeiros confirmou a morte de oito vítimas em Franco da Rocha e, até a manhã desta terça-feira (1º), seis haviam sido resgatadas com vida.
A cidade, com 156,4 mil habitantes, só não tem mais áreas de risco do que Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Ambientais da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente. A capital paulista, que tem 490 áreas de risco, não foi incluída no estudo.
Os dois municípios do ABC têm população entre sete e oito vezes maior do que a de Franco da Rocha, o que a transforma em uma das cidades com maior risco geológico do estado.
De acordo com Cláudio José Ferreira, pesquisador do Instituto de Pesquisas Ambientais, o alto número de áreas de risco é explicado pela formação do relevo e pela geologia da cidade. "O tipo de rocha condicionou a formação de morros inclinados e vales profundos", diz.
A rocha encontrada no subsolo da cidade tem mais camadas verticais, chamadas de foliação, o que deixa o solo mais arenoso.
Além disso, a falta de saneamento básico faz com que os moradores descartem o esgoto por meio de canos que deixam o solo encharcado.
Em vistoria no bairro Parque Paulista, onde ocorreu o deslizamento e soterramento das vítimas no último domingo (30), o pesquisador constatou que a inclinação do morro era cerca de 60 graus antes do desabamento, o que é considerado alto.
"É possível habitar morros com a mesma inclinação desde que haja um bom sistema de escoamento. Não pode deixar o solo encharcar", disse.
Os morros inclinados em Franco da Rocha formam vales profundos propícios para a formação da chamada chuva orográfica, quando nuvens carregadas encontram um obstáculo no relevo e concentram a precipitação em um só lugar.
O governo paulista pediu repasse emergencial de R$ 471,8 milhões ao governo federal para auxiliar os municípios mais afetados pelas fortes chuvas.
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, parte dessa verba seria direcionada a obras antienchente e melhorias que irão integrar o Plano de Macrodrenagem da região metropolitana. "Estamos em andamento com duas obras de piscinões em Franco da Rocha, além do desassoreamento do rio Juqueri", disse o secretário em relação às ações na cidade.
Em visita nesta terça a Francisco Morato, uma das cidades atingidas pelos alagamentos, porém, o ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL) negou o repasse emergencial ao estado, mas afirmou que irá suprir as necessidades das cidades afetadas.
Em nota, o governo estadual afirmou que irá se abster de qualquer resposta política ao presidente neste momento em que "a única preocupação é com as famílias e as cidades atingidas".
Como a Folha mostrou nesta segunda-feira (31), a gestão do governador João Doria (PSDB) gastou menos da metade do orçamento destinado a obras antienchente no estado em 2021.
Dos R$ 996,9 milhões aprovados pelos deputados estaduais, foram gastos R$ 453,2 milhões, ou seja, 45% do total.
Em nota, a secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, responsável pelas obras antienchente em São Paulo, afirmou que investiu R$ 333 milhões no combate às enchentes em 2021 e aumentou a execução orçamentária em 33% em comparação com 2019.
O Corpo de Bombeiros segue com as buscas por sobreviventes do deslizamento em Franco da Rocha. Há relatos de cerca de dez desaparecidos.
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