Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus

Militar da Marinha mata homem negro e diz tê-lo confundido com bandido

Vítima morava no mesmo condomínio que o autor do crime

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Rio de Janeiro

Um militar da Marinha matou a tiros o próprio vizinho e disse tê-lo confundido com um bandido na noite desta quarta-feira (2), em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.

Imagens de câmeras de segurança registram o momento em que Durval Teófilo Filho, um homem negro de 38 anos, caminha em direção ao condomínio onde morava quando é alvejado por disparos que partem de um veículo estacionado.

A vítima cai no chão ainda com vida, gesticulando para tentar se proteger, mas recebe novos disparos.

Homem sorri para foto
Durval Teófilo Filho foi morto a tiros na noite desta quarta-feira (2), em São Gonçalo (RJ) - Reprodução/TV Globo

Depois, o autor do crime, identificado como Aurélio Alves Bezerra, tentou socorrer Durval. Ele foi levado ao Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, mas não resistiu aos ferimentos.

À polícia, o militar disse que atirou no vizinho porque o viu mexendo na mochila e pensou que seria assaltado. Ele foi preso em flagrante por agentes da DHNSG (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí) e responderá por homicídio culposo.

Luziane Teófilo, viúva de Durval, considera que o crime foi motivado pelo racismo.

"Eu estive com o delegado e ele me mostrou as imagens da câmera de segurança. Na imagem, mostra o Durval tirando a máscara para falar que era morador quando ele recebeu o primeiro tiro. Ele caiu, mas o rapaz mesmo assim não se contentou e deu mais dois tiros, fazendo ele perder a vida ", diz ela à Folha.

"Para mim é racismo, sim. Se ele [Durval] avisou que era morador, o mínimo que ele [Aurélio] tinha a fazer era escutar o que o Durval tinha a dizer, já que ele não estava armado."

Luziane diz ainda que o marido, que trabalhava como repositor em um supermercado, estava ansioso para acompanhar a filha de seis anos no seu primeiro dia de aula.

"Sonho ele tinha um monte, mas o objetivo maior era aquele que ele ia realizar na segunda-feira: ia levar a filha à escola pela primeira vez, mas não vai poder fazer mais isso."

A criança ainda não soube da morte do pai. "A gente não teve coragem para contar. Ainda estou buscando forças", diz Luziane, acrescentado que quer justiça. "Ele não merecia morrer do jeito que morreu."

O crime aconteceu em meio à repercussão gerada pela morte de Moïse Mugenyi Kabagambe, jovem congolês de 24 anos morto a pauladas no dia 24 de janeiro. Segundo familiares, Moïse foi agredido após pedir salários atrasados no quiosque onde trabalhava como ajudante de cozinha, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Câmeras de segurança também registraram o crime e ajudaram a polícia a prender os suspeitos pela morte do congolês. Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, 27, Brendon Alexander Luz da Silva, 21, e Fábio Pirineus da Silva, 41, estão presos desde terça-feira (1º) por homicídio duplamente qualificado. Em depoimento, eles negaram que o crime tenha tido motivação racista e xenófoba.

À polícia, Aleson Cristiano disse que bateu em Moïse por estar com raiva, porque a vítima estaria bebendo muito e "perturbando há alguns dias".

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