Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus

Morte em ação policial no Jacarezinho, no Rio, causa protesto de moradores

Mãe afirma que filho estava desarmado; polícia diz que ele teria envolvimento com o tráfico

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Rio de Janeiro

Um homem de 23 anos morreu no final da tarde desta quinta-feira (10) em uma ação policial no Jacarezinho, favela ocupada no contexto do Cidade Integrada, programa de segurança pública lançado pelo governo do Rio de Janeiro.

A polícia afirma que João Carlos Sordeiro Lourenço, 23, conhecido como João do Jaca, reagiu ao ser abordado e foi atingido. Segundo a corporação, ele foi encaminhado ao Hospital Salgado Filho, mas não resistiu.

A mãe de João nega que ele estivesse armado no momento da abordagem.

Policias fazem ronda na Favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro, no programa Cidade Integrada
Policias fazem ronda na Favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro, no programa Cidade Integrada - Tércio Teixeira - 26.jan.22/Folhapress

A instituição diz que a Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) foi informada, durante patrulhamento na favela, que um traficante armado estava em uma residência da localidade. Com ele, segundo a polícia, foi apreendida uma pistola Glock calibre 40, com kit rajada. A Delegacia de Homicídios da Capital foi acionada após a morte.

A polícia afirma que João tinha diversas anotações criminais por tráfico de drogas, associação para o tráfico, resistência qualificada, porte ilegal de arma de fogo e porte de artefato explosivo ou incendiário.

Em transmissão ao vivo realizada pelo portal Voz das Comunidades, a mãe do jovem disse que policiais invadiram a sua casa por volta das 17h e afirmaram que iriam subir na laje, onde estava seu filho —segundo ela, desarmado.

"Deram um tiro em cima do meu filho(...) E meu filho agora que se foi? Estava sem nada, meu filho não estava armado. Me esculacharam, moro aqui já há 48 anos, sou cria da comunidade", disse.

A Folha conversou com uma moradora, que não será identificada para preservar a sua segurança. Ela diz que estava chegando em casa quando viu policiais descendo de um carro e entrando em dois becos. Segundo a moradora, um deles gritou para os demais: "É aqui, é aqui!". Em seguida, de acordo com o relato, mais de 15 homens entraram correndo em uma casa.

Ela diz que, logo depois, foi possível escutar dezenas de tiros e que tudo aconteceu muito rápido. Em seguida, segundo ela, os policiais deixaram a casa arrastando o corpo do jovem, que foi jogado em cima do carro da corporação.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram moradores gritando e chamando os policiais de covardes. Os agentes responderam com bombas de efeito moral.

As manifestações cresceram e a avenida Dom Hélder Câmara, nas imediações do Jacarezinho, chegou a ser interditada. Pneus foram incendiados em diversos pontos. Moradores pediram justiça e criticaram a nova ocupação na favela, com o Cidade Integrada.

À noite o clima ainda era de tensão na comunidade e moradores ouviam disparos de arma de fogo.

Diante da ação policial e do protesto, as partidas dos trens da Supervia da Central do Brasil para Belford Roxo foram suspensas temporariamente.

Anunciado pelo governador Cláudio Castro (PL) a nove meses das eleições, o Cidade Integrada contará com um investimento inicial de R$ 500 milhões. A primeira etapa teve início no dia 19 de janeiro, quando 1.300 agentes militares e civis ocuparam as favelas do Jacarezinho (e a vizinha Manguinhos), dominada pelo Comando Vermelho, e da Muzema, controlada por uma milícia.

Especialistas da segurança pública e defensores dos direitos humanos têm questionado uma suposta falta de critérios e metas concretas na elaboração do programa, assim como a ausência de diálogo prévio com outros atores.

Desde o início do projeto, moradores denunciaram violações de direitos humanos e invasões de casas por policiais, que ainda não usam as câmeras portáteis compradas recentemente pelo estado.

A ação policial desta quinta-feira ocorreu em meio à decisão do Supremo Tribunal Federal que restringiu as operações policiais para casos excepcionais em favelas do Rio de Janeiro enquanto durar a pandemia da Covid-19.​

Em nota, a Polícia Civil disse que a ação foi um patrulhamento. Em novembro, o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou à Folha que as polícias Militar e Civil não têm o dever de comunicar ações rotineiras ao órgão, responsável pelo controle externo da atividade policial.

A definição de patrulhamento não consta nas instruções normativas da extinta Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro. O próprio conceito de operação policial foi definido apenas em 2017, mas é vago. Por isso, não é precisa a diferenciação entre um patrulhamento e uma operação, sendo a última expressamente restringida pelo Supremo.

Segundo a "Instrução Normativa Seseg N° 01", "compreende-se como operações policiais o conjunto de ações policiais que necessitem de mobilização extraordinária de recursos humanos e materiais, executadas de forma planejada, dirigida, organizada, coordenada, monitorada e controlada, em ocasiões programadas ou em resposta a situações imprevistas ou emergenciais, obedecendo a táticas e técnicas pertinentes".

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