Mortes: Amorosa e apaixonada por arte, era entusiasmada com as pessoas

Maria Antonietta Spínola Montenegro esteve nos bastidores do início do ITA

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Belo Horizonte

Quando era moça, Antonietta Spínola não queria se casar. Não encontrava ninguém tão interessante a ponto de valer um compromisso tão profundo quanto o matrimônio. Nos bailes, vivia atrás das colunas para não ser tirada para danças e empurrava para suas amigas quem se interessava por ela. "Casei três assim", ela contou, bem-humorada, em uma entrevista.

A sua história foi escrita de forma diferente: encontrou seu amor na família. Aos 29 anos, casou-se com o irmão de seu pai, seu tio Mimiro, que entrou para a história como marechal do ar Casimiro Montenegro Filho, fundador do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial. Por isso, foi na residência oficial no ITA em que aumentaram sua família e, por anos, criaram seus cinco filhos.

Muitas vezes, as descrições e homenagens à Antonietta resumem-se à sua condição de viúva de um grande homem. Parte da história de seu relacionamento é detalhada na biografia de Fernando Morais "Montenegro – As Aventuras do Marechal que Fez uma Revolução nos Céus do Brasil". Entretanto, como conta sua sobrinha, Ana Luisa Martins, ela era muito mais do que isso.

Maria Antonietta Spínola Montenegro (1924 - 2022) - Arquivo pessoal

Antonietta nasceu em Salvador e logo se mudou para Santos, no litoral paulista, em razão de uma transferência profissional de seu pai, que era fiscal da alfândega. Na cidade, ela e sua irmã eram chamadas de baianinhas pela família vizinha. Ali, conheceu quem seria sua melhor amiga para toda a vida, Anna Maria Martins, escritora consagrada.

Suas sobrinhas a adoravam, tanto as de sangue quanto as muitas que adotou pela vida. Titony, como era chamada carinhosamente, era amável, delicada e generosa. Entusiasmava-se com o sucesso dos outros, "com os outros seres humanos", define Ana Luisa, sobrinha adotada, filha de Anna Maria.

Era apaixonada por arte em suas várias formas: arquitetura, design, artes plásticas, literatura, teatro, cinema. Seu pai não permitiu que estudasse balé no Theatro Municipal, e por isso, fez um curso no Museu de Arte de São Paulo. Transmitia seu interesse para o marido, que não era tão ligado em arte. Passava horas lendo em voz alta para Casimiro, quando o marechal ficou cego.

Na rigidez do meio militar, Antonietta foi uma mulher de rupturas. Gostava de conversar sobre sociedade e política e foi abertamente de esquerda –mais tarde tornou-se uma entusiasta do PT.

Quando se mudou para São José dos Campos, adorou a cidade pequena, totalmente diferente do ambiente urbano em que cresceu. No ITA, apreciava a convivência com pessoas de muitas nacionalidades e a possibilidade de soltar seus filhos para brincarem no bosque que tinha como quintal de casa.

Antonietta, ou Titony, morreu no dia 21 de janeiro de 2022, aos 97 anos, por causas naturais. Deixou quatro filhos e sete netos.

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

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