Descrição de chapéu Obituário Dida Sampaio (1968 - 2022)

Mortes: Dida Sampaio, premiado repórter fotográfico de O Estado de S. Paulo

Dilma passando de bicicleta por um lava-jato e o olhar de José Dirceu para Roberto Jefferson são alguns de seus principais trabalhos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O repórter fotográfico do jornal O Estado de S. Paulo Dida Sampaio morreu nesta sexta-feira (25), aos 53 anos, vítima de complicações decorrentes do rompimento de um aneurisma cerebral.

Um dos mais conhecidos, veteranos e premiados fotojornalistas do país, Dida já tinha passado por problemas similares há alguns anos, mas havia se recuperado e estava em plena atividade profissional.

Dida Sampaio paramentado com máquinas fotográficas
O fotógrafo Dida Sampaio, de O Estado de S. Paulo - didasampaio no Instagram (foto de Edu Andrade)

A Folha testemunhou, por exemplo, parte do trabalho do fotojornalista no último dia 9 de fevereiro, no Salão Verde da Câmara, o principal ponto de circulação de políticos no Congresso. Como era de seu costume, procurava quase sempre estar ao largo do turbilhão de repórteres, cinegrafistas e microfones do local, aguardando o momento que poderia lhe render uma foto especial e exclusiva.

Dois dias depois, em 11 de fevereiro, Dida passou mal e foi hospitalizado. Ele deixa mulher, três filhos e netos.

Classificado por colegas como um profissional aguerrido, inquieto e constantemente em busca do diferencial, o cearense Dida, que bem novo se mudou para Brasília com a família, também gostava de apurar as histórias que retratava.

O fotojornalista virou notícia em maio de 2020, quando, exercendo a sua atividade profissional, foi hostilizado e agredido por manifestantes pró-governo Jair Bolsonaro durante ato na rampa do Palácio do Planalto, com a presença do presidente da República.

O fotojornalista Dida Sampaio (de branco), durante ato em que foi hostilizado e agredido por bolsonaristas, na rampa do Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino - 3.maio.20/Reuters

Dida acumulou em sua carreira dois prêmios Esso —por anos a maior honraria do mundo jornalístico— e três Vladimir Herzog, entre outros.

Uma de suas fotos mais icônicas estampou a primeira página do jornal O Estado de S. Paulo em 3 de agosto de 2005, no auge no escândalo do mensalão.

Ela mostrava o rosto do então ex-ministro José Dirceu (PT) no exato momento em que ele encarou, no seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB).

Era a primeira vez que Dirceu e Jefferson, pivôs do maior escândalo da República na ocasião, se encontravam pessoalmente. Foi nesse dia, por exemplo, que Jefferson proferiu uma fase que ficou na história, a de que o petista lhe despertava "os instintos mais primitivos".

A foto foi finalista do Prêmio Esso.

"Ele foi o fotógrafo que conseguiu fazer, em uma fotografia, a acareação do José Dirceu e do Roberto Jefferson. Essa foto é incrível. Você vê o foco cravado no olho do Dirceu, olhando para o Roberto Jefferson. Foi capa do jornal, essa foto é impressionante", diz o colega e amigo Wilton Júnior, repórter fotográfico da sucursal do Rio do Estadão.

"Era amigo, mestre, professor. A minha relação era de muita admiração, eu admirava muito o Dida. Lembro dele me dizendo, 'Wiltinho, acorda cedo e bota beleza nas suas fotos porque é a hora que a luz está mais bonita, ou então no final da tarde'. Tenho inúmeras lembranças dele."

José Dirceu encara Roberto Jefferson
Primeira página do jornal O Estado de S. Paulo de 3 de agosto de 2005 com a foto de Dida Sampaio sobre o momento em que o ex-ministro José Dirceu (PT) olha para seu algoz, o deputado Roberto Jefferson (PTB), durante depoimento ao Conselho de Ética da Câmara - Reprodução

Outra foto icônica de Dida venceu o Esso de 2015. O fotojornalista clicou a então presidente da República no momento em que ela, de bicicleta, passava em frente a um lava-jato. Dilma seria afastada e sofreria impeachment meses depois em decorrência da crise política gerada pelo escândalo da Operação Lava Jato.

"Ele era muito aguerrido no trabalho do dia a dia, ele batalhava sempre para ter o melhor lugar, era difícil concorrer com ele. Brigava, até fisicamente às vezes, para ter a melhor foto. Foi generoso com muitos que precisavam de ajuda, no trabalho diário em Brasília. Essa talvez sejam as melhores palavras que simbolizam o que o Dida foi no trabalho", diz Sérgio Lima, que trabalhou por anos na Sucursal de Brasília da Folha e hoje é repórter fotográfico do site Poder 360, entre outras atividades.

Dida não teve atuação de destaque só em Brasília. Ele participou de várias reportagens, algumas delas premiadas, na Amazônia, no Pantanal e em muitas outras regiões do país.

"Dida foi o mais importante repórter fotográfico brasileiro da sua geração. A perda para o jornalismo e para o país é imensurável. Morre hoje um pouco da grande reportagem", disse Andreza Matais, diretora da Sucursal de Brasília do Estadão.

​"As fotos do Dida sempre tinham outros planos e sacadas geniais. Ao mesmo tempo que era um craque e competitivo, também sempre foi muito honesto e generoso comigo. Um grande fotógrafo e amigo", afirmou Eduardo Knapp, repórter fotográfico da Folha.

"Dida foi um dos fotógrafos mais importantes do Brasil nos últimos 30 anos. Dedicado e extremamente competente, ajudou a elevar o fotojornalismo brasileiro aos mais altos patamares", disse Pedro Ladeira, repórter fotográfico da Folha em Brasília.

A morte de Dida Sampaio motivou manifestação de pêsames não só de colegas de profissão e amigos, mas também do mundo político.

"O fotojornalismo brasileiro perdeu Dida Sampaio, um profissional arguto, sempre atuante e dedicado. Por meio de suas lentes, retratou com brilhantismo o cotidiano do Congresso, tornando-se o setorista [repórter destacado para uma cobertura diária específica] mais antigo do jornal Estado de S. Paulo na cobertura do parlamento. Meus sentimentos aos familiares, amigos e colegas de profissão", escreveu nas redes sociais o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também manifestou pesar aos familiares e amigos de Dida Sampaio, "profissional atuou mais de 30 anos na cobertura da política nacional, sempre cordial com todos".

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, enviou mensagens de solidariedade à família e aos colegas. "Em nome da Suprema Corte, registro que o jornalismo e o Brasil perdem um profissional de excelência, que retratava a realidade brasileira com brilhantismo e dedicação", disse o ministro.

"Minha solidariedade à família e amigos de Dida Sampaio, grande fotógrafo, nascido aqui no Ceará e que se transformou em um dos expoentes do fotojornalismo brasileiro. Sua morte prematura nos entristece a todos", afirmou o presidenciável Ciro Gomes (PDT).

Dida Sampaio segura uma câmera fotográfica
O fotógrafo Dida Sampaio, do jornal O Estado de S. Paulo - didasampaio no Instagram (foto de Franklin Rocha)

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.