Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus

MP-RJ diz que sargento da Marinha que matou vizinho cometeu homicídio doloso

Polícia Civil havia indiciado Aurélio Alves Bezerra por homicídio culposo, quando não há intenção de matar

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Rio de Janeiro

O Ministério Público do Rio de Janeiro pediu, durante audiência de custódia do sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, preso por ter matado seu vizinho, para o crime ser considerado homicídio doloso. A Polícia Civil indiciou o suspeito por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

A juíza Ariadne Villela Lopes acatou o pedido do órgão em sua decisão e também transformou a prisão em flagrante em preventiva.

A juíza entendeu que a prisão preventiva é necessária para a garantia da ordem pública e para o desenrolar do processo. Ela ressaltou a necessidade de resguardar a livre manifestação das testemunhas, possivelmente moradoras do condomínio onde vive o suspeito.

Na noite de quarta-feira (2), Aurélio Bezerra matou a tiros Durval Teófilo Filho, um homem negro de 38 anos, na entrada do condomínio onde moravam em São Gonçalo (RJ).

Em depoimento à polícia, ele afirmou que atirou porque viu a vítima mexendo "em algo na região da cintura" e pensou que seria assaltado.

Durval Teófilo Filho, morto a tiros na noite desta quarta-feira (2), em São Gonçalo (RJ) - Reprodução/TV Globo

Aurélio é citado como "vítima" em seu termo de depoimento à polícia, obtido pela Folha. Procurada, a Polícia Civil inicialmente negou que ele tenha sido classificado dessa maneira.

Novamente questionada pela reportagem, a polícia afirmou que o suspeito aparece como vítima no primeiro termo mas que, com o andamento das investigações, a tipificação foi alterada para autor.

Ao portal G1, o órgão também disse que Aurélio foi inicialmente registrado como vítima porque, em um primeiro momento, ele alegou se tratar de legítima defesa.

Com base em depoimentos e em imagens de câmeras de segurança, porém, Aurélio foi indiciado por homicídio culposo pela Polícia Civil.

"Deveras, nas imagens arrecadadas, é possível visualizar o momento em que a vítima caminha em direção ao veículo do indiciado e, concomitantemente, mexe no interior de sua mochila, bem como o instante subsequente, em que o autor efetua, do interior do seu veículo, disparos em desfavor da vítima", escreveu o delegado adjunto Leonan Calderaro na decisão do flagrante.

Após ter sido atingido, Durval caiu no chão ainda com vida, gesticulando para tentar se proteger, mas recebeu novos disparos. Em seguida, o autor do crime tentou socorrer a vítima. Ele foi levado ao Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, mas não resistiu aos ferimentos.

Luziane Teófilo, viúva de Durval, considera que o crime foi motivado pelo racismo.

"Eu estive com o delegado e ele me mostrou as imagens da câmera de segurança. Na imagem, mostra o Durval tirando a máscara para falar que era morador quando ele recebeu o primeiro tiro. Ele caiu, mas o rapaz mesmo assim não se contentou e deu mais dois tiros, fazendo ele perder a vida ", diz ela à Folha.

"Para mim é racismo, sim. Se ele [Durval] avisou que era morador, o mínimo que ele [Aurélio] tinha a fazer era escutar o que o Durval tinha a dizer, já que ele não estava armado."

Luziane diz ainda que o marido, que trabalhava como repositor em um supermercado, estava ansioso para acompanhar a filha de seis anos no seu primeiro dia de aula.

"Sonho ele tinha um monte, mas o objetivo maior era aquele que ele ia realizar na segunda-feira: ia levar a filha à escola pela primeira vez, mas não vai poder fazer mais isso."

A criança ainda não soube da morte do pai. "A gente não teve coragem para contar. Ainda estou buscando forças", diz Luziane, acrescentado que quer justiça. "Ele não merecia morrer do jeito que morreu."

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