Descrição de chapéu Rio de Janeiro

PM de folga mata vendedor ambulante em Niterói (RJ)

Polícia diz que agente reagiu a uma tentativa de roubo; família afirma que ele foi morto durante discussão

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Rio de Janeiro

Um policial militar de folga atirou contra um vendedor de balas na tarde desta segunda-feira (14), em frente à estação das barcas em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Hiago Macedo de Oliveira Bastos, 21, não resistiu ao ferimento e morreu.

O autor dos disparos foi preso e responderá por homicídio doloso qualificado por motivo fútil.

Em nota, a Polícia Militar afirmou que, segundo informações preliminares, o policial reagiu a uma tentativa de roubo na praça Araribóia, em frente ao terminal das barcas.

"O militar tentou intervir na ação e um dos envolvidos teria investido contra sua integridade, sendo atingido por disparo de arma de fogo. O ferido não resistiu", diz o texto da corporação.

Testemunhas que estavam no local, porém, negam a versão do assalto. Um enteado de Hiago que estava presente no momento do disparo, de 14 anos, disse à Polícia Civil que o familiar estava vendendo balas e que não tentou roubar ninguém.

Segundo o advogado Daniel Vargas, da Comissão de Combate à Intolerância da Assembleia Legislativa do Rio, que esteve na delegacia, o adolescente afirmou que, na verdade, ocorreu uma discussão entre Hiago e o policial, que tentou revistá-lo.

"O Hiago disse que era trabalhador, que não estava fazendo nada demais, e ele [o policial] puxou o revólver. O Hiago perguntou se iria atirar nele sendo trabalhador. Ele foi e disparou à queima-roupa", disse o advogado à Folha, com base em informações do depoimento do adolescente.

Bombeiros atenderam o jovem atingido no local, mas ele não resistiu
Bombeiros atenderam no local o jovem atingido, mas ele não resistiu e morreu - Reprodução/Redes sociais

De acordo com Vargas, a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, que investiga a ocorrência, não encontrou armamento com o vendedor. O policial militar também prestou depoimento.

A Polícia Civil diz que os agentes estão ouvindo testemunhas e que buscarão imagens de câmeras de segurança instaladas na região para elucidar os fatos.

A 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar também foi acionada e acompanha o caso.

Um primo do vendedor, identificado como Jonathan César, disse à imprensa que o sonho de Hiago era fazer uma festa para a filha de 2 anos, que faz aniversário daqui a quatro dias. Segundo a família, ele estava trabalhando desde as 5 da manhã para poupar dinheiro para organizar o evento.

Segundo o primo, uma pessoa para quem Hiago tentou vender balas reagiu mal à abordagem. Essa pessoa teria dito que ambulantes utilizam a venda de produtos como um meio de roubar celulares.

O policial de folga, em seguida, teria entrado no meio da discussão. "Meu primo é sujeito homem, debateu com ele de boca a boca. Ele [o policial] meteu a mão na arma e deu um tiro só", afirmou Jonathan.

"A bala dele custa 'uma é três, dois é cinco'. E a vida do meu primo, custa quanto?".

Nas redes sociais, políticos cobraram a investigação do caso. "Todo dia uma pessoa é morta no estado do Rio por ser preta. Durval, Moïse, Kathlen, João Pedro, Ágatha. Não é mais possível continuar vivendo sob essa tragédia do racismo", escreveu a deputada federal Talíria Petrone (PSOL).

"Estamos acompanhando o caso de um trabalhador e pai de família morto nas barcas em Niterói há pouco. Iago Macedo, de 21 anos, estava com a família, era vendedor de balas e morreu de um disparo policial que ACHOU que ele fosse assaltante. HORROR!", publicou o deputado estadual Carlos Minc (PSB).

Erramos: o texto foi alterado

O nome do vendedor ambulante é Hiago Macedo de Oliveira Bastos, não Yago Macedo dos Santos, como foi inicialmente divulgado por políticos fluminenses e confirmado à Folha pelo advogado Daniel Vargas, da Comissão de Combate às Discriminações da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, que esteve na delegacia acompanhando o caso.
 

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