Descrição de chapéu Alalaô

Sem Galo da Madrugada e folia nas ladeiras, Recife e Olinda têm pontos de Carnaval vazios

Maioria das pessoas seguiu a proibição de festas na manhã deste sábado (26) nos principais polos de PE

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Recife

"Falam tanto que meu bloco está dando adeus para nunca mais sair. E depois que ele desfilar do seu povo vai se despedir do regresso de não mais voltar. Não deixem não, que o bloco campeão guarde no peito a dor de não cantar. Um bloco a mais é um sonho que se faz. Nos pastoris da vida singular".

O trecho faz parte de uma das melodias mais tocadas no Carnaval pernambucano, a música "Último Regresso", do compositor Getúlio Cavalcanti.

Movimentação tranquila no sábado de Carnaval no Sítio Histórico de Olinda. Ladeiras da cidade, conhecidas pela lotação no período carnavalesco, estão sem foliões por causa da pandemia - José Matheus Santos/Folhapress

Quando foi tocada no Carnaval de 2020, os foliões pernambucanos não imaginavam que a essência da letra poderia ser verdade por duas vezes na pandemia. O adeus, espera-se que provisório, de diversos blocos se dá por causa da pandemia de Covid-19.

Neste sábado (26), as ruas do Centro do Recife e as ladeiras do Sítio Histórico de Olinda amanheceram com um tom diferente. Em razão da proibição das festas públicas e privadas em Pernambuco por causa da pandemia de Covid-19 no período carnavalesco, os dois locais estão praticamente sem foliões.

O sábado de Zé Pereira seria o dia do desfile do maior bloco de Carnaval do mundo, o Galo de Madrugada, na área central do Recife. Milhares de foliões ocupavam as ruas para celebrar manhã e tarde de alegria no evento ao som de músicas e embalados por trios elétricos, fantasias e orquestras de frevo com grupos de amigos e familiares.

A ponte Duarte Coelho, onde ficaria posicionada a alegoria do bloco, não tem mais as discussões se o Galo ficou mais bonito ou não em relação a edições anteriores. Neste sábado, em alusão ao bloco, apenas uma escultura numa cabeceira da ponte.

Na praça Sérgio Loreto, ponto de concentração do Galo da Madrugada, poucas pessoas fantasiadas e com adereços de circulavam em direção aos seus destinos, como lojas de comércio e repartições.

No Recife Antigo, na mesma imediação, apenas estabelecimentos comerciais estavam abertos pela manhã, sobretudo o informal. A vendedora de bombons, lanches e refrigerantes Lucy Alves afirma que ver o local vazio em pleno sábado de Carnaval traz sentimentos mistos.

"É triste ver isso aqui vazio. É como se uma parte da gente tivesse sido tomada à força, mas sabemos que é importante por causa do coronavírus. Quem sabe em 2023 o Carnaval volta", diz.

Por causa do avanço da variante ômicron, o governo de Pernambuco suspendeu o ponto facultativo do Carnaval. Como consequência da medida, o comércio —um dos setores da economia mais afetados na crise sanitária— funciona normalmente neste sábado.

Centro do Recife sem a alegoria do Galo da Madrugada na Ponte Duarte Coelho - José Matheus Santos/Folhapress

A prefeitura do Recife sancionou, na quinta-feira (24), o auxílio municipal para profissionais envolvidos no ciclo carnavalesco, atingidos pela pandemia pelo segundo ano seguido. Ao todo, cerca de R$ 10,5 milhões de recursos serão pagos a cerca de 20 mil pessoas, entre artistas, agremiações, técnicos, artesãos, entre outros.

Atrações e agremiações da cultura popular, que representam coletivos ligados ao evento, terão direito a 100% da subvenção ou cachê (valor unitário) recebido pela participação na programação —limitado ao teto máximo de R$ 60 mil. Na categoria de beneficiários individuais, será pago um valor fixo de R$ 1,2 mil. Para brincantes que participaram de concursos, o valor é de R$ 600. A previsão é começar os pagamentos ainda em março.

Um dos maiores polos de Carnaval do Brasil, Olinda, na região metropolitana do Recife, não tem o tradicional sobe e desce das ladeiras ao som de orquestras neste dia de Carnaval.

As ruas da cidade Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade sequer contam com foliões isolados. A frente da prefeitura de Olinda, onde o ápice do encontro de blocos e bonecos de Olinda acontecia em tempos pré-pandêmicos, está vazia.

"Concordo com a decisão de não ter Carnaval. De que adiantaria ter festa e dias depois haver internações e mortes? Na pandemia, perdi um primo, uma prima e colegas para a Covid", afirma Neomar, 53, vendedor de água mineral e água de coco há quase 30 anos na localidade.

No período de Carnaval antes da pandemia de Covid, Neomar relata que conseguia arrecadar cerca de R$ 9.000 em vendas de bebidas em frente à prefeitura de Olinda. As cifras ajudavam a pagar as contas durante todo o ano.

"Espero que, em 2023, tenhamos um Carnaval sem máscara e com muitos sorrisos".

Neomar, 53, vendedor de água de coco e água mineral em Olinda. Pelo segundo ano seguido, ele não atua vendendo no Carnaval - José Matheus Santos/Folhapress

A prefeitura de Olinda editou um decreto que proíbe a realização de apresentações de música ao vivo e a utilização de equipamentos de som mecânico e eletrônico desde a sexta-feira (25) até as 6h da quinta-feira (03) no Sítio Histórico da cidade.

Nas famosas ladeiras, viaturas da Polícia Militar de Pernambuco atuam para orientar as pessoas a evitar aglomerações e inibir qualquer manifestação carnavalesca em áreas públicas e privadas, como bares e restaurantes.

No Largo do Bonsucesso, o Homem da Meia-Noite não vai abrilhantar o Carnaval na virada do sábado para o domingo. O maior calunga da folia pernambucano foi um dos primeiros a confirmar que não desfilaria em 2022, em convocação à reflexão sobre a responsabilidade na pandemia.

As festas privadas também estão proibidas nos dias de folia por decisão do governo de Pernambuco. A ausência dos eventos fica evidente no acesso a Olinda, onde tradicionais produtoras de festas organizavam os espaços para receber público com ingressos de até R$ 2.000.

Em Olinda, a prefeitura também criou um programa de assistência financeira para artistas, catadores de recicláveis e comerciantes informais. Os pagamentos começam em março.

O benefício será de 35% dos valores dos cachês de artistas e agremiações que têm residência em Olinda e se apresentaram no Carnaval 2020. O valor mínimo é de R$ 1.000 e o teto máximo está orçado em R$ 10 mil.

Nos hotéis, apesar da suspensão do ponto facultativo, a expectativa média de ocupação da rede hoteleira em Pernambuco é de 56%, acima dos 42% de 2021. O Carnaval é a data mais importante para o turismo de Pernambuco.

Recife e Olinda, os dois maiores polos da folia, estão com 60% e 45% de média de previsão de ocupação.

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