Descrição de chapéu Rio de Janeiro chuva

Tragédias como a de Petrópolis resultam de combinação de fatores, diz especialista

Ocupação desordenada e desmatamento estão entre os possíveis motivos para desastre

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São Paulo

Os deslizamentos de terra, enxurradas e enchentes que deixaram dezenas de pessoas mortas em Petrópolis (RJ) após tempestade nesta terça-feira (15) podem estar ligados a uma combinação de fatores, entre os quais ocupação desordenada, topografia do local —cravada em uma região de serra— e desmatamento.

Os possíveis "responsáveis" por mais uma tragédia no município foram levantados pelo professor Antonio Guerra, do departamento de geografia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ele estuda há 30 anos o comportamento de Petrópolis durante a temporada de chuva, que se acentua no verão.

Moradores, bombeiros e agentes da Defesa Civil trabalham na busca por sobreviventes no Morro da Oficina, em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli - 16.fev.2022/Folhapress

"Na realidade não há um fator isoladamente que explique essas catástrofes. É claro que a chuva de alta intensidade e concentrada num período curto, como foi agora o caso de Petrópolis, onde choveu [o acumulado de] 259,8 mm em apenas seis horas, é um fator importante, mas a gente tem que levar em consideração também o mau uso do território", disse. ​

"O desmatamento para essas construções, a falta de galerias pluviais ou entupidas muitas vezes, a falta de rede de esgoto, a densidade de construções, são muitas casas construídas em terrenos pequenos, então isso tudo seria uma combinação de fatores que proporciona esse tipo de catástrofe", explica Guerra.

Durante a conversa com a Folha, Guerra citou o número de mortos a cada catástrofe desde os anos 1980, e a quantidade de água em milímetros que atingiu Petrópolis em cada uma delas. Segundo ele, a pior foi registrada em 1988, quando 171 pessoas morreram durante um temporal.

Questionado sobre qual a solução para evitar que novas vidas sejam perdidas, o professor ressaltou que apenas obras como a construção de muros de arrimo, galerias pluviais e bueiros se tornam insuficientes para conter deslizamentos e enchentes. Para ele, é preciso também deixar de construir em áreas com declividade muito acentuada e procurar vegetar alguns pontos anteriormente desmatados.

Guerra afirmou que o ocorrido em Petrópolis é uma situação recorrente, usando como exemplo os deslizamentos que resultaram em mortes em Franco da Rocha, no final de janeiro, além de outras cidades pelo país. "Tem que ser um projeto de médio e longo prazo. Não adianta fazer frases de efeito agora, bravatas, e depois esquecer tudo e esperar o próximo evento catastrófico."

Análise semelhante à de Guerra foi feita pelo professor Matheus Martins, especialista em drenagem urbana e docente da Escola Politécnica da UFRJ.

"A topografia da cidade de Petrópolis favorece muito o tipo de inundação que a cidade sofreu ontem. É uma região de encostas onde a água da chuva desce com velocidade. É similar com o que a gente vê nas cachoeiras, que o pessoal fala tromba d'água".

Martins ressaltou que é de grande complexidade realizar obras para lidar com cheias, sendo fator primordial uma melhor ocupação do terreno, como avaliar quais as regiões com risco de deslizamento e inundação, e tentar diminuir ao máximo o número de pessoas expostas ao risco, como emitindo alertas para que as pessoas deixem os locais.

Reportagem publicada pela Folha mostrou que a Defesa Civil do Rio de Janeiro recebeu um alerta de possibilidade de "chuvas isoladas ao longo do dia, podendo deflagrar deslizamentos pontuais, especialmente nas regiões de serra e/ou densamente urbanizadas" na região Serrana do Rio de Janeiro, onde fica a cidade. O aviso foi dado na segunda-feira (14) pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais).

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