Carnavalesco da Gaviões da Fiel está na UTI após agressão em barracão

Escola de samba não registrou boletim de ocorrência e demorou 24 horas para levar vítima a hospital, afirma advogada

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São Paulo

Carnavalesco responsável neste ano pelo desfile da escola de samba Gaviões da Fiel, Zilkson da Silva Reis, 42, está internado em estado grave após ser espancado dentro do barracão da agremiação, no Bom Retiro, região central da capital paulista, no domingo (27).

A violência sofrida por Reis fez com que parte de suas costelas fosse quebrada e um dos pulmões perfurado, conforme registros da Polícia Civil. A advogada dele, Ana Cláudia Vieiralves, disse que o carnavalesco respira com a ajuda de aparelhos.

Apesar da gravidade dos ferimentos, ele não foi levado imediatamente ao hospital, como afirmado por um integrante da agremiação em conversa telefônica gravada por Vieiralves, na manhã desta terça-feira (29).

O carnavalesco da Escola de Samba Gaviões da Fiel, Zilkson da Silva Reis, posa na Fábrica do Samba, no Bom Retiro, na capital paulista
O carnavalesco da Escola de Samba Gaviões da Fiel, Zilkson da Silva Reis, em visita à Fábrica do Samba, no Bom Retiro, na capital paulista - Reprodução Instagram Gavioesoficial

Esse integrante não atendeu aos telefonemas nem respondeu às mensagens encaminhadas pela Folha até a publicação deste texto.

A assessoria de imprensa da Gaviões da Fiel divulgou uma nota na qual afirmava que a vítima teria supostamente abusado de uma mulher, provocando as agressões. O posicionamento, porém, foi retirado das redes sociais nesta quarta-feira (30).

Em uma segunda nota, encaminhada à reportagem no início desta noite, a Gaviões disse apurar os fatos e colaborar com as investigações policiais (leia íntegra de ambas as notas no final deste texto).

A advogada de Reis disse que seu cliente foi até a escola de samba, por volta das 10h do domingo, sendo encontrado gravemente ferido por pessoas com as quais havia agendado uma reunião de trabalho, no mesmo local, por volta das 15h. As circunstâncias da violência, assim como o que a teria motivado, não são de conhecimento da defensora.

Ela afirmou "não importar, neste momento" o que teria motivado a agressão. "O fato é que a violência aconteceu dentro da escola [de samba]. A diretoria deveria ter feito um boletim de ocorrência no mesmo momento, para a polícia apurar os fatos. Se a Gaviões não fez, é porque quer apagar provas e esconder os fatos", afirmou à Folha, no início da tarde desta quarta.

De acordo com a conversa telefônica com o tesoureiro gravada por ela, a vítima foi levada para um hotel da região, onde permaneceu até segunda-feira (28), quando uma prima conseguiu localizá-lo, com a ajuda de membros da escola de samba. Depois disso, ele foi encaminhado à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Além da falta de boletim de ocorrência do caso, Vieiralves questiona a demora para que o carnavalesco fosse hospitalizado. "Para mim, isso se configura como tentativa de homicídio e vou denunciar a escola de samba por isso também", acrescentou.

O suspeito de agredir Reis já foi identificado, mas não foi ouvido pela polícia, pois está foragido. Um mandado de prisão temporária, de cinco dias, foi expedido contra ele. Investigadores do 2º DP trabalham para localizá-lo.

Na primeira nota, depois apagada da internet, a Gaviões afirmou ter registrado um boletim de ocorrência contra o carnavalesco, relacionado ao suposto abuso sexual. Porém, segundo a polícia, nenhum documento foi feito sobre o caso por parte da escola de samba.

O primeiro registro sobre o episódio foi feito, de fato, às 21h51 de terça (29), pela advogada da vítima, por meio da delegacia eletrônica. Como a defensora mora no Amazonas, ela não pôde fazer o registro presencialmente na capital paulista.

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que o caso passou a ser investigado pelo 2º DP (Bom Retiro) como tentativa de homicídio.

No documento emitido Polícia Civil paulista, na manhã desta quarta (30), consta que além do pulmão perfurado, o carnavalesco conta com coágulos no cérebro, permanece inconsciente e com hematomas pelo corpo.

Em nota, a Santa Casa de Misericórdia afirmou que não iria atualizar o estado de saúde dele, "em respeito ao sigilo médico".

No novo posicionamento enviado no início da noite à reportagem, a Gaviões disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que seu departamento jurídico irá se pronunciar assim que tiver acesso a mais informações sobre o caso e ao inquérito policial.

A agremiação afirmou ainda não compactuar "com qualquer tipo de violência" e que cabe à polícia apurar o caso. "Vale lembrar que não havia expediente de trabalho no dia em questão em nosso barracão, portanto não havia motivos para nenhuma pessoa estar no local a serviço da entidade", diz trecho de nota.

A Gaviões disse ainda prestar atendimento ao carnavalesco e à família dele, o que é refutado pela advogada da vítima.

A SSP acrescentou, nesta quinta-feira (31), que a suposta vítima de violência sexual registrou um boletim de ocorrência de importunação sexual, contra o carnavalesco, quarta-feira, na 1ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher). "Este fato, assim como a agressão contra o carnavalesco são apurados por meio de inquérito policial instaurado pelo 2º Distrito Policial, que segue com diligências para esclarecer todas as circunstâncias do fato", diz trecho de nota da pasta.

Leia íntegra da nota apagada pela Gaviões

Desde domingo (27), estamos apurando, como entidade, uma suspeita de abuso, que o até então carnavalesco, Zilkson, cometeu.

Ouvimos a vítima, uma mulher, em estado de vulnerabilidade que nos relatou os momentos de constrangimento que passou. A fim de protegê-la fisicamente, psicologicamente e evitar um maior desgaste emocional, estamos prestando todo o apoio a ela, desde o momento da realização do boletim de ocorrência, até agora.

Mensuramos também, por conta desse fato e para proteger a vítima, Zilkson foi agredido quando ela gritou por socorro. Sabemos que a lei existe para punir indivíduos que cometem crimes, não compactuamos com nenhum tipo de violência, entretanto, para defendê-la naquele momento de constrangimento, se deu o ocorrido.

O prestador de serviços que cometeu as agressões, está afastado da entidade, até que tudo seja esclarecido.

Por conta da situação, entramos em contato com a família do Zilkson, a fim de trazê-los para São Paulo, onde prestaremos assistência, para que possam acompanhar a recuperação dele e uma eventual investigação acerca deste fato.

Quanto ao suspeito, não prestará serviços para a entidade. Essa decisão se dá porque nos Gaviões da Fiel Torcida, não há espaço para situações como esta e qualquer outra forma de desrespeito com a mulher.

NÃO É NÃO.

DIRETORIA GAVIÕES DA FIEL TORCIDA

Leia íntegra da segunda nota da agremiação

Vimos por meio desta informar que estamos apurando os fatos e colaborando com as investigações sobre o caso do carnavalesco Zilkson Reis.

O Departamento Jurídico irá se pronunciar assim que o Inquérito Policial for instaurado e tivermos maiores informações.

Esclarece ainda, que não aprova nem compactua c om qualquer tipo de violência por parte de seus associados, cabendo à Autoridade Policial apurar com imparcialidade as versões apresentadas pelas partes envolvidas de modo que injustiças ou medidas judiciais prematuras sejam adotadas no curso do inquérito policial. Vale lembrar que não havia expediente de trabalho no dia em questão em nosso barracão, portanto não havia motivos para nenhuma pessoa estar no local à serviço da entidade.

Ressaltamos que os Gaviões seguem prestando atendimento ao carnavalesco Zilkson Reis e à sua família.

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