Entenda o que são os conceitos de tokenismo e lavagem da diversidade

Termo token foi citado em discurso de Martin Luther King na década de 1960

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São Paulo

"A noção de que a integração por meio de tokens vai satisfazer as pessoas é uma ilusão. O negro de hoje tem uma noção nova de quem é", afirmou Martin Luther King em um artigo publicado em 1962 durante a luta pelos direitos civis.

O ativista foi um dos primeiros a utilizar o termo "tokenismo" para definir um movimento de falsa inclusão racial. Depois, o conceito foi transportado para o ambiente corporativo.

"Tokenismo é basicamente pegar grupos que estão sub-representados dentro do ambiente de trabalho e usá-los em ocasiões muito pontuais para representar o todo", afirmou Luana Génot, diretora-executiva do ID_BR (Instituto Identidades do Brasil).

Foto em preto e branco mostra Martin Luther King e Malcolm X
Martin Luther King e Malcolm X, em 1964 - Handout / The Library of Congress/AFP

Segundo Génot, um exemplo de uma pessoa negra feita de token é quando uma empresa, na semana da Consciência Negra, usa a imagem da única liderança negra do seu quadro de funcionários para dizer que é diversa.

"É uma prática que se mostra muito superficial e de um esforço pontual para se mostrar diverso", afirmou.

Em inglês, a palavra token "é usada para se referir a algo que é feito para prevenir outras pessoas de reclamarem, apesar de não ser uma atitude sincera e de não ter nenhum significado prático", explica o Dicionário Cambridge.

​O tokenismo também está relacionado a um outro termo denominado "diversitywashing", ou lavagem da diversidade. Criado por Liliane Rocha, CEO da Gestão Kairós, uma empresa de consultoria, o conceito se define pelo esforço da iniciativa privada em se mostrar diversa quando, na verdade, não o é.

São empresas que se apropriam de atributos de diversidade porque entenderam a importância do mercado consumidor formado por pessoas negras, mas que não estão dispostas verdadeiramente a trabalhar a diversidade da porta para dentro, afirma Rocha.

Ela conta que o conceito de "diversitywashing" surgiu em 2016, quando assistia a um comercial. Em um primeiro momento, ficou empolgada com a representatividade, mas depois lembrou de reclamações que tinham chegado a ela daquela empresa.

"Como eu venho da sustentabilidade e o termo "greenwashing" [ação de algumas empresas que tentam se mostrar sustentáveis para os consumidores] era muito forte, eu fui procurar sobre e resolvi escrever", afirmou. Assim, transportando o conceito para a questão racial criou o termo diversitywashing.

Com a pauta antirracista sendo cada vez mais discutida, as especialistas concordam que os chamados tokens têm aumentado no ambiente corporativo. No entanto, afirmam que ele não é o principal problema das empresas que estão começando a se engajar. "O token é problema quando isso se perpetua ao longo do tempo", afirmou Génot.

Para evitá-lo, é preciso construir um plano de ação para que os profissionais tenham acesso, por exemplo, a investimentos dentro da empresa de modo que possam se desenvolver e ter um plano de aceleração de carreira, segundo Génot. "Assim deixamos de ter tokens para de fato multiplicar as oportunidades para as pessoas negras naquele ambiente".

Para Rocha, a primeira ação a ser feita para evitar a falsa inclusão racial é fazer um diagnóstico da diversidade da empresa através de um censo demográfico. Assim, a tomada de consciência sobre quem são as pessoas que compõem o quadro funcional pode ajudar a definir ações de forma mais efetiva.

Contar com o apoio de empresas de consultoria de diversidade também pode ser eficaz para elaborar esse plano de ação, mas não basta. É preciso ter o engajamento dos executivos de várias frentes da empresa, incluindo as altas lideranças, para que não sejam ações isolada s, defendem as especialistas.

"Podem [até] ter poucos negros na estrutura, mas para que eles não sejam tokenizados é necessário que haja um plano de ação que balize as atividades relativas à pauta antirracista, para que isso não fique só sob a alçada dos tokens", afirmou Génot.

Segundo Rocha, a diversidade está em todos os lugares porque os indivíduos são diferentes, porém inclusão é querer de forma propositiva trazer as pessoas para dentro da empresa de forma com que se sintam bem-vindas a ponto de falar, trazer as suas ideias e a sua forma de agir.

"Diversidade é essência e inclusão é intenção", afirmou Génot.

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