Quem conhecesse o trabalho do ator e diretor de teatro Mauro Soares saberia que era famoso por atuar sempre como coadjuvante. Os amigos mais próximos, porém, conheciam ainda um outro lado: por mais que não fizesse o papel principal nos palcos, era visto como um protagonista da vida.
Um homem que viveu o que queria, sem amarras ou pudores –exceto pela idade, o que fazia questão de manter o mistério.
Natural de Pelotas (RS), começou a fazer teatro ainda jovem em sua cidade natal, na década de 1960. Vivia em trânsito entre o município e Porto Alegre por causa da profissão e da vida noturna que a capital oferecia. A necessidade de ficar na capital se intensificou e, no final dos anos 1970, mudou-se para lá.
Viveu a juventude e parte da vida adulta durante a ditadura militar. Fez parte do movimento desbunde, entendido como uma contracultura ao momento político, social e cultural restritivo da época. Alguns chamavam os integrantes de hippies devido à forma como se vestiam e encaravam a vida.
Nessa época, passou alguns períodos na Aldeia de Arcozelo (RJ), uma antiga fazenda que se tornou um centro artístico no qual artistas, principalmente das artes dramáticas, se encontravam.
Sua história foi contada no livro "A Luz no Protagonista", de Roger Lerina. A obra traz no título uma das características mais marcantes de Soares no palco: o ator se destacou verdadeiramente nos papéis coadjuvantes.
Participou em 1983, poucos antes do fim da ditadura, da montagem da peça "Pode Ser que Seja Só o Leiteiro Lá Fora", de Caio Fernando Abreu. Recebeu duas vezes o prêmio de Açorianos de melhor ator coadjuvante.
Além de ator e diretor, era pai de santo e filho de Iemanjá. Sua religião era o batuque, uma crença de matriz africana característica do Rio Grande do Sul. Foi iniciado quando ainda morava em Pelotas.
Luís Francisco Wasilewski, pesquisador teatral e seu amigo há cerca de 25 anos, lembra-se de Soares como um baú de memórias do teatro brasileiro. Nos anos de amizade, frequentemente conversavam sobre momentos históricos do teatro. Enquanto um trazia o olhar de acadêmico, o outro oferecia o de quem viveu aquelas histórias.
"Ele tinha um humor que eu adorava, um humor cáustico e ao mesmo tempo um humor ferino", lembra Wasilewski.
Mauro Soares morreu no dia 24 de fevereiro de 2022. Além dos amigos, ele deixa uma sobrinha.
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