Descrição de chapéu Obituário Maria Eunice Martins Luz (1949 - 2022)

Mortes: Nicinha rodou o mundo com samba no pé e no nome

Maria Eunice Martins Luz se tornou um dos patrimônios culturais de Santo Amaro da Purificação

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Salvador

O nome de registro é Maria Eunice Martins Luz, mas foi como Dona Nicinha do Samba que a sambadeira se tornou um dos patrimônios culturais de Santo Amaro da Purificação, terra natal de personagens ilustres que levaram a história da Bahia para o resto do mundo.

Por toda a sua vida, caminhou pelo mesmo chão de onde saiu gente como Tia Ciata, Assis Valente, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Edith do Prato, Raimundo Sodré, Roberto Mendes, Jorge Portugal, Dona Canô, Teodoro Sampaio, entre tantos outros.

Foi por meio do ritmo acelerado do samba de roda —que se diferencia das demais vertentes pelo choro do violão como fio condutor— que a fundadora do grupo Nicinha Raiz de Santo Amaro passou por Europa, América do Norte e África.

Maria Eunice Martins Luz (1949-2022)
Maria Eunice Martins Luz (1949-2022) - Reprodução/TV Bahia

"Eu sou o samba e o samba sou eu, eu não posso viver sem o samba. O samba é meu marido, meu amante, meu filho, meu compadre, meu companheiro, meu advogado. Pra mim, o samba é tudo", declarou, certa feita, em um documentário.

Fazia extensão de sua casa a tradicional festa do Bembé do Mercado —celebrado anualmente como o único candomblé de rua, de 9 a 13 de maio, desde 1889, para comemorar o primeiro ano da luta abolicionista que levou ao fim do regime escravocrata.

A risada espaçosa era a marca registrada, que contagiava todo o ambiente, recorda o caçula dos três filhos, Valmir Martins, 47, percussionista do grupo. "Minha mãe era uma pessoa muito alegre, muito sorridente. Era a marca dela", lembra.

Foi a partir de um divórcio que Nicinha assumiu o protagonismo na carreira, a partir da década de 1980, conta Martins. A tradição cultural da família remonta a gerações passadas, desde os tempos da escravidão, continua.

"Na verdade, éramos principalmente um grupo de maculelê [manifestação originária de Santo Amaro que simula uma luta com bastões], que, após as apresentações, fazíamos o samba e o afoxé. Depois da separação, ela tomou a frente", detalha.

Apesar da relação indissociável com as manifestações culturais de matriz africana, não chegou a ser iniciada pelo candomblé, afirma o babalorixá Gilson da Cruz, 52, à frente do terreiro Ilê Axé Omorodé L’oni Oluaiê.

"Era ekedi [cargo de confiança que não chega a incorporar] do caboclo Caipó de Mãe Lídia, ialorixá mais antiga de Santo Amaro", explica. "Para mim, sempre foi como uma mãe. Uma pessoa acolhedora, de energia muito boa."

Nascida em Santo Amaro em 10 de outubro de 1949, Dona Nicinha morreu em casa, aos 72 anos, no dia 17 de fevereiro, em decorrência de complicações cardíacas. Deixou dois filhos do casamento com Valfrido de Jesus, nove netos e dez bisnetos.

Sua morte foi lamentada por Caetano na rede social Instagram, em vídeo no qual faz par com ela em uma roda de samba. "Perdemos Dona Nicinha, matriarca do samba de roda de Santo Amaro da Purificação. Dia triste para o Recôncavo Baiano", escreveu.

O sambista Roberto Mendes prestou homenagem à sambadeira pelo Instagram. "Você se foi e deixou uma saudade que nem imagina, um buraco, ah minha irmã." A Secretaria de Cultura da Bahia também emitiu nota de pesar.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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