Descrição de chapéu transporte público

Prefeito diz que só segura valor de passagem de ônibus em SP até abril

Nunes afirma que manutenção da tarifa depende de aprovação de projeto que transfere gratuidade de idosos ao governo federal

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São Paulo

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou, nesta quinta-feira (24), que se o projeto que transfere para o governo federal o custeio das passagens de idosos no transporte público não for aprovado e sancionado até o fim de abril, a cidade de São Paulo não vai conseguir manter a tarifa nos ônibus nos atuais R$ 4,40.

No início de fevereiro, o Senado aprovou um projeto dos senadores Nelsinho Trad (PSD-MS) e Alexandre Giordano (MDB-SP), para que o governo federal repasse aos municípios, estados e ao Distrito Federal, o valor gasto com a gratuidade dos idosos no transporte público em áreas urbanas. Isso evitaria aumento na passagem neste ano.

Segundo recente levantamento da Frente Nacional dos Prefeitos, a gratuidade dos idosos representa 8% do custo do transporte público.

Ônibus lotado na região do Grajaú, na zona sul de São Paulo; prefeito Ricardo Nunes (MDB) espera pela aprovação de subsídio do governo federal na passagem dos idosos para segurar tarifa em R$ 4,40 - Bruno Santos - 17.mar.22/Folhapress

A estimativa é que esse subsídio chegará a R$ 5 bilhões ao ano para os cofres públicos da União. Só na cidade de São Paulo, a gratuidade com a passagem de ônibus para idosos a partir de 65 anos representa R$ 500 milhões anuais, segundo cálculos da SPTrans.

"Falei na manhã de hoje [quinta] com o Arthur Lira [PL-AL, presidente da Câmara] e com o deputado Marcos Pereira [Republicanos-SP] e o Lira disse que não consegue votar o projeto nesta semana, mas que vota o mérito na primeira semana de abril", afirmou Nunes por telefone à Folha, logo após participar de reunião da Frente Nacional dos Prefeitos, em Curitiba.

Nesta quinta, a Câmara aprovou por 307 votos a 64 o requerimento de urgência do projeto que obriga o governo a pagar gratuidade de idosos em ônibus. O mérito, no entanto, só deve ser votado em abril, pois não há consenso em torno do texto. Além disso, o governo ainda não encontrou fonte para compensar o impacto de R$ 5 bilhões por ano que a proposta terá.

"Não tem fonte", afirmou o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). "Tem muitas demandas, mas todas elas só terão apoio do governo se cumprirem a lei de responsabilidade fiscal." Segundo ele, há uma pressão de líderes partidários que querem aprovar o projeto.

"Os prefeitos estão segurando aumento de tarifa, e muitos prefeitos estão fazendo subsídio com recursos do próprio orçamento municipal para que não haja um colapso do sistema", disse.

Nunes, que comemorou a aprovação do requerimento de urgência pela Câmara e se disse otimista, admitiu que o recente reajuste do diesel, de 25%, aumentou ainda mais a pressão dos municípios para que o governo federal aprove o subsídio de parte da tarifa, em pleno ano eleitoral. "Esse aumento [do diesel] representa 6,5% no preço da tarifa", afirmou o prefeito.

Nunes admitiu que o recente reajuste do diesel, de 25%, aumentou ainda mais a pressão dos municípios para que o governo federal aprove o subsídio de parte da tarifa, em pleno ano eleitoral. "Esse aumento [do diesel] representa 6,5% no preço da tarifa", afirmou o prefeito.

Na semana passada, o sindicato das empresas que operam o transporte público na cidade, o SPUrbanuss, afirmou estimar que haverá uma despesa adicional de R$ 600 milhões, o equivalente a 7,5% das despesas anual de todo o serviço, que é de R$ 8 bilhões. Não está inserido nesta conta o impacto da inflação sobre peças de reposição e pneus e nem os demais reajustes aplicados ao combustível ao longo do último ano.

"Há o tempo da Câmara, mas de abril não pode passar, já num nível máximo", disse Nunes. Segundo ele, a expectativa dos prefeitos é que o projeto seja aprovado na Câmara na primeira semana do mês que vem e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na primeira quinzena.

"A gente torce para não haver mudanças na Câmara, pois aí o projeto volta para o Senado e, assim, vai ser muito difícil segurar a tarifa", afirmou o prefeito, que disse ter conversado com lideranças partidárias, pedindo a manutenção do texto, e que tem trocado mensagens com Flávia Arruda, ministra-chefe da Secretaria de Governo, e que ficou otimista para sanção do presidente.

Histórico

Em dezembro, Nunes suspendeu o reajuste nos ônibus de São Paulo para esperar pelo subsídio do governo federal às passagens dos idosos.

Às vésperas do Natal, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito e técnicos da SPTrans sugeriram que o preço da tarifa passasse dos atuais R$ 4,40 para R$ 5,10 para recompor a inflação dos dois anos sem aumentos dos ônibus na capital.

O reajuste foi debatido durante reunião extraordinária online do Conselho Municipal de Trânsito e Transportes.

No ano passado, a prefeitura gastou cerca de R$ 3,8 bilhões com subsídios para equilibrar a tarifa. Na época das discussões do reajuste, Nunes disse que a gratuidade dos idosos custa R$ 450 milhões ao ano ao município.

No fim de 2020, a prefeitura e o governo estadual, gestão João Doria (PSDB), elevaram a gratuidade no transporte público para idosos a partir de 65 anos. Antes, quem tinha a partir de 60 anos não precisava pagar passagem em ônibus e nos trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e do metrô.

Na capital, é quase impraticável dentro do modelo de integração entre ônibus, metrô e trem alterar a tarifa de apenas de um modal. Enquanto a prefeitura administra a operação dos ônibus, cabe ao governo do estado gerenciar as linhas férreas.

O último reajuste das tarifas de ônibus, metrô e trem ocorreu em janeiro de 2020, subindo de R$ 4,30 para R$ 4,40. Um novo aumento em período eleitoral e num cenário em que famílias sofrem perda de renda poderá trazer prejuízos à imagem de João Doria (PSDB), que deixará o governo de São Paulo no fim deste mês para concorrer à Presidência da República. Rodrigo Garcia (PSDB) assumirá em abril o governo estadual de forma interina e disputará o cargo em outubro.

Além de o governo estadual não querer assumir o ônus de um reajuste, as operações de metrô e de trem não sofrem grandes consequências com reviravoltas no óleo diesel.

Erramos: o texto foi alterado

O nome do partido Republicanos foi grafado incorretamente em versão anterior deste texto. Além disso, Marcos Pereira elegeu-se por São Paulo, não pelo Espírito Santo.

 

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