Descrição de chapéu cracolândia drogas

Vizinhos da nova cracolândia alteram rotina por medo de aumento da violência

Comerciantes no entorno da praça Princesa Isabel, em São Paulo, fecham as portas de lojas mais cedo, e moradores evitam sair à noite

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São Paulo

Moradores e comerciantes que vivem no entorno da praça Princesa Isabel, novo ponto de concentração da cracolândia na região central de São Paulo, relatam mudanças na rotina por temerem aumento da violência na região.

O gerente de uma loja de automóveis localizada em frente à praça conta que tem encerrado o expediente mais cedo após a ocupação da praça pelos usuários de drogas. "Evito até dar a praça Princesa Isabel como referência de endereço. Se o cliente fosse eu, não viria até aqui", diz Rodrigo de Matos, 42.

Antes e depois da ocupação da praça Princesa Isabel
Antes e depois da ocupação de sem-teto o entorno do monumento a Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel - Rubens Cavallari/Folhapress; Danilo Verpa/Folhapress

Em um dos primeiros dias após a mudança da cracolândia para a porta do comércio onde trabalha, o gerente conta que foi orientado pela Polícia Militar a fechar as portas durante a operação de limpeza da praça. "Disseram que não tinha como prever se haveria algum tipo de violência", diz.

A poucos metros da loja de carros, o gerente de uma lanchonete reclama da queda no movimento de clientes desde a mudança no entorno. "As pessoas ficam com medo de vir", diz Maicon Carvalho, 20.

Segundo ele, os ocupantes da praça abordam os funcionários da lanchonete apenas para pedir água. "No geral, eles respeitam a gente", diz.

O funcionário de um escritório localizado a um quarteirão da praça disse que tem ido para casa mais cedo com medo de esperar pelo ônibus no ponto depois de anoitecer.

O mesmo temor é relatado pelo gestor financeiro Iézio Silva, 62, que vive na alameda Barão de Limeira há mais de 20 anos. "Não dá mais para sair a noite", diz o morador, que afirmou ter visto um vizinho ser espancado por três homens que o assaltaram quando desembarcou de um carro. "Não era nem meia-noite. Levaram tudo dele", diz ele sobre a ocorrência presenciada a poucos metros do prédio onde mora.

Ao andar pela alameda Barão de Limeira, Silva aponta dois comércios que foram invadidos recentemente, como sinal de aumento recente da criminalidade no bairro.

Segundo a Polícia Civil, o fluxo saiu do entorno da praça Júlio Prestes e se fixou na praça Princesa Isabel após ordem de uma facção criminosa.

Prefeitura, governo estadual e movimentos sociais divergem sobre as causas que motivaram a movimentação.

Segundo o secretário-executivo municipal de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, a saída do tráfico ocorreu devido a detenções feitas desde junho do ano passado, quando foi deflagrada a operação Caronte na cracolândia. Segundo a Polícia Civil, 92 pessoas foram presas sob suspeita de tráfico de drogas até o momento. "As prisões ocorreram em todos os níveis do tráfico. Ficou mais difícil chegar droga na cracolândia e os preços subiram", diz o secretário Vargas.

A mesma versão é dada pelo delegado Roberto Monteiro, da 1ª Delegacia Seccional do Centro, que tem feito operações para coibir o tráfico na cracolândia desde junho do ano passado. "O local ficou inviável para os traficantes", diz o delegado.

Segundo o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, a dispersão dos usuários de drogas não foi motivada por nenhum tipo de política pública e a causa ainda é nebulosa.

A cracolândia se mudou temporariamente para a praça Princesa Isabel em maio de 2017, quando uma operação policial desmantelou a feira de drogas a céu aberto na rua Helvétia e alamedas Dino Bueno e Cleveland.

Na ocasião, o fim da cracolândia chegou a ser anunciado pelo então prefeito de São Paulo João Doria (PSDB). Os usuários de drogas voltaram a ocupar as ruas no entorno da praça Júlio Prestes logo depois.

De acordo com a secretaria de Segurança Pública, não foram registradas ocorrências de roubos e furtos no entorno da praça Princesa Isabel nesta quinta-feira.

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