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A teoria contra a prática do modelo de Carnaval público em São Paulo

É muito raso, prematuro, apontar que solicitar um ingresso virtual tem objetivo comercial

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Rogério Oliveira

Empreendedor social, cofundador do Inumeráveis Memorial, da Yunus Negócios Sociais, em sociedade com o prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus, e fundador do Coletivo Pipoca, que idealiza e realiza projetos de cultura gratuitos

Acordamos hoje citados em um artigo escrito por ex-integrantes de gestões públicas passadas na área da Cultura, figuras com as quais acreditamos termos muito mais em comum na forma de pensar do que o contrário.

Sob o pretexto de uma defesa do Carnaval de rua público, Nabil, Juca e Varella estão se colocando contra as duas únicas iniciativas inclusivas, massivas e públicas viabilizadas na cidade para este abril de 2022. Duas iniciativas realizadas por grupos que têm enorme histórico de contribuição justamente ao modelo público, democrático e inclusivo do Carnaval paulistano.

Foliões, desde sempre, nós da Pipoca vivenciamos quase todos os modelos de Carnaval existentes no Brasil, passamos a atuar de forma estruturada em 2011. Nosso nome já revela de cara o modelo que preferimos, executamos e defendemos: sem camarote, nem abadás.

Bloco desfila no Carnaval de rua de São Paulo em 2020 - Eduardo Knapp - 24.fev.2020/Folhapress

Em 2016, realizamos os primeiros desfiles gratuitos na av. Pedro Álvares Cabral. Nos bastidores, dois dias antes, fomos chamados na Secretaria de Cultura e proibidos de realizar os desfiles em função de supostas pressões de algumas das associações de moradores. Produzimos um completo documento sobre nosso plano operacional para tranquilizar associações, comitê gestor do parque Ibirapuera, CET, PM e outros órgãos. Não fomos autorizados, mas não fomos impedidos de desfilar. Nasceu naquele ano um modelo de Carnaval com gradil de proteção com o único objetivo de poder revistar e assim evitar a entrada de todo e qualquer objeto cortante. Gratuito, livre, sem camarotes e mais seguro.

Nada que ferisse, nem de longe, o artigo 3º do decreto 58.857/2019, como citado no texto. Quem vive o Carnaval e os bastidores da construção deste decreto em São Paulo sabe que o objetivo dele é evitar a camarotização do Carnaval. O modelo foi vencedor, sem nenhuma ocorrência grave no Ibirapuera: grades, revista e uma clara redução de ocorrências em toda a cidade.

Não demonizamos a iniciativa privada, ao contrário. Preferimos estar próximos a ela para dialogar, educar sobre o contexto cultural do Carnaval de rua e, juntos, encontrarmos caminhos que ajudem a fomentar a arte, a cultura, a cidadania, a boa ocupação do espaço público.

O Carnaval Viva a Rua, se tudo der certo, acontecerá nos próximos dias 23 e 24 de abril. Eu sempre fui um defensor ferrenho para que o Carnaval não acontecesse antes do tempo, mas quando escutamos do prefeito que o Carnaval de rua só não aconteceria por falta de tempo hábil e de recursos para viabilizar a organização, decidimos entrar com um pedido de evento temporário. Nada diferente do que as corridas de rua fazem, do que fizemos no nosso primeiro Carnaval, quando ainda não existia arcabouço jurídico da cidade para realização de Carnaval.

As condições sanitárias se mostram favoráveis. As baladas voltaram. Máscaras não são mais exigidas nem em locais fechados. O futebol voltou, inclusive em estádios públicos. O Lollapalooza aconteceu em um local público. O Carnaval de rua não pode voltar de forma massiva para os foliões da cidade de forma gratuita, livre, de forma segura, com grades e revista como já acontece há tantos anos? Onde está a novidade? Só no ingresso virtual gratuito?

Por que achar que o objetivo do ingresso virtual é coleta de dados para patrocinadores? Não há essa exigência, nem esse pedido. Aliás, estes dados não serão disponibilizados a nenhuma empresa e garantimos isso publicamente aqui. Ainda vivemos uma pandemia e a informação do número de pessoas que planejam ir nos ajuda a prever lotação, infraestrutura adequada e número de agentes sanitários para conferir o comprovante de vacinação.

É muito raso, prematuro, apontar que solicitar um ingresso virtual tem objetivo comercial.

É muito raso citar que um evento cercado é para uma venda monopolizada de produtos, sem saber que ambulantes estão sendo convocados para trabalhar no dia. E que a venda de bebida será a preços promocionais populares, como aliás tem sido em todos os últimos Carnavais. É muito raso citar que a proibição de entrada é para benefício comercial em vez de medida de segurança adotada já pelo poder público no Carnaval em toda a cidade.

É a teoria, sem compromisso com a realidade prática, dos porquês cada detalhe de uma produção é pensado e colocado em prática.

Estamos do mesmo lado, senhores.

Mais diálogo profundo e mais encontros reais.

Ficaria muito feliz de ver vocês lá conosco nos dias 23 e 24 de abril.

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