Após morte de paraquedista, polícia pede suspensão de saltos em centro em Boituva

Delegado solicitou medida à Justiça enquanto não houver UTI móvel em local no interior de SP

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Paulo Eduardo Dias Jardiel Carvalho
Boituva (SP)

A Polícia Civil em Boituva, no interior de São Paulo, pediu à Justiça a suspensão das atividades do Centro Nacional de Paraquedismo enquanto a instituição não providenciar uma UTI móvel que possa prestar atendimento imediato no local.

A solicitação, feita pelo delegado Emerson Jesus Martins, ocorreu nesta quinta-feira (28). A medida foi tomada após a morte da paraquedista e sargento do Exército Bruna Ploner, 33. Ela morreu no último domingo (24) ao tentar pousar de um salto.

O administrador do centro, Marcello Costa, 55, criticou o pedido. "Isso é uma loucura. Quem tem que ter um leito de UTI é a cidade, que não tem. Aqui nós deveríamos ter um hospital modelo em ortopedia no mínimo. A cidade leva o nome do paraquedismo e não oferece nada​", afirmou ele.

Paraquedista Bruna Ploner morreu no último dia 24 após se acidentar em salto em Boituva, no interior paulista - Arquivo pessoal

A polícia já ouviu quatro testemunhas que estavam no local do acidente, que apontaram possível falha humana, descartando problemas no equipamento. O inquérito foi aberto como morte suspeita e periclitação da vida.

Segundo o delegado, Bruna fazia um "bico" filmando saltos duplos, em que saltam instrutor e uma outra pessoa, quando se acidentou.

"Ela não estava saltando de forma recreativa, ela estava trabalhando. Ela era instrutora. Essas pessoas que têm qualificação acabam sendo contratadas para filmar quem está saltando", disse o delegado.

O velame (estrutura superior do paraquedas) que Bruna usava era de alta performance, ou seja, mais veloz do que os convencionais e utilizado por praticantes mais experientes, como era o caso dela, para melhor desempenho em manobras.

Aparentemente, de acordo com informações da polícia, o velame não apresentou falhas, mas somente a perícia pode atestar suas condições antes do pouso. O que se sabe até agora é que Bruna utilizava um dos melhores itens vendidos no mercado.

"As testemunhas disseram que foi um erro dela. Erro de cálculo da própria vítima", relatou Martins sobre o que tem ouvido nos depoimentos.

No entanto, o delegado analisou falhas no procedimento adotado depois da queda. "Como estava cheio de gente, o local foi lavado, o que não deveria ter sido feito. A polícia deveria ter sido chamada e [a área] preservada para perícia", disse Emerson Martins.

A questão do socorro prestado para Bruna também é um ponto questionado pelo delegado, que acionou a Justiça para que uma ambulância e socorristas sejam contratados.

Conforme o delegado, a informação repassada para ele é que um bombeiro particular fez o atendimento, o que teria sido correto, porém a presença de profissionais e ambulância poderiam auxiliar no socorro.

"Por que um local que é chamado de maior do mundo não tem uma ambulância ou uma UTI móvel? Por que não ter uma cautela maior?"

Segundo o delegado, a ambulância equipada seria uma forma de contornar a ausência de leitos de UTI em hospitais da cidade. "Aqui em Boituva não existe hospital com estrutura de UTI, então tem que ser removido para Sorocaba, [o] que leva por volta de uma hora."

Além do pedido de suspensão das atividades até que o pronto-atendimento seja contratado, o delegado Emerson Martins solicitou ao Poder Judiciário que obrigue o Centro Nacional de Paraquedismo a centralizar sua direção e sua administração. Conforme o delegado, atualmente não há um único responsável, com cada escola criando suas regras, mesmo com a sede da confederação no local.

O delegado ressaltou que, nos mais de cinco anos em que trabalha em Boituva, não registrou mortes em saltos duplos, apenas em saltos simples, realizados por instrutores ou pessoas com experiência.

'Erro de julgamento'

A reportagem esteve no Centro Nacional de Paraquedismo na manhã desta sexta-feira (29). Em pouco mais de uma hora, cerca de 50 saltos foram realizados.

A Folha conversou com o instrutor de salto e administrador do Centro Nacional de Paraquedismo, Marcello Costa, 55.

Segundo ele, houve "erro de julgamento" de Bruna ao executar a manobra ao fim do salto. "Ela deve ter feito a manobra um pouco mais baixa do que deveria. O paraquedas não conseguiu ganhar o arco de repercussão", afirmou.

Costa disse que o esporte é seguro, já que cerca de 20 mil pessoas saltam por mês no local —em suas palavras, o "maior centro do mundo".

"Como é que você quer que não tenha acidente na marginal sendo que passa um milhão de carros? É a mesma coisa no paraquedismo. Não tem jeito."

Costa afirmou que possui mais de 30 anos na profissão, com mais de 15 mil saltos, sem nenhum arranhão.

Ele ainda explicou que, pelo número de pessoas que passam pelo local, são registrados poucos acidentes e incidentes. "As regras são respeitadas. Temos fiscais para isso o tempo todo."

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