Descrição de chapéu Alalaô

Blocos em SP fazem vaquinha e 'passam o chapéu' para sair no feriado

Arrecadação ajuda a pagar sistema de som e, às vezes, banheiros químicos e coleta de lixo

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São Paulo

Os blocos de Carnaval que decidiram fazer seus cortejos em São Paulo neste feriado de Tiradentes tiveram que contar com financiamento coletivo ou pagar do próprio bolso os sistemas de som, a oferta de bebidas —incluindo água para os integrantes das baterias— e o banheiro químico.

Isso porque, sem o apoio da Prefeitura de São Paulo, a infraestrutura mínima que antes era ofertada não ocorreu neste ano. Após intensas discussões, a gestão municipal sugeriu realizar as festas em julho, mas isso não impediu que pelo menos 50 blocos saíssem neste feriado.

Bloco Saia de Chita na Vila Ipojuca, zona oeste da capital - Danilo Verpa - 21.abr.22/Folhapress

"Até o momento, não houve nenhum comunicado oficial por parte desses representantes das festas. A falta de tempo hábil para a contratação de estrutura e planejamento logístico foi alertada desde o início e a decisão de realizar os eventos sem esses equipamentos foi exclusivamente dos blocos", disse a prefeitura em nota, por meio da Secretaria Municipal de Subprefeituras.

A prefeitura disse, ainda, que "apoia integralmente todas as manifestações culturais", e que, independentemente da dimensão dos blocos, "todos exigem atendimento às regras legais, como planejamento prévio, definição de rotas, alteração do sistema viário e de transporte público, infraestrutura sanitária, serviços de saúde e policiamento preventivo para garantir a segurança de todos".

De acordo com a gestão municipal, cem funcionários de limpeza e 400 agentes da Companhia de Engenharia e Tráfego (CET) estão de prontidão para auxiliar no que for necessário.

Com produções independentes e engajamento das comunidades, os blocos que decidiram ocupar as ruas da cidade tiveram que contar com a ajuda dos foliões de carteirinha ou utilizar o dinheiro em caixa para poder desfilar.

É o que aconteceu com o Baco do Parangolé, que sai há oito anos nas ruas em torno da praça Aureliano Leite, na zona oeste de São Paulo. Tradicionalmente, eles fazem vaquinha e contam com o apoio da prefeitura na organização. Sem esse apoio, tiveram que investir os R$ 6.000 que tinham em caixa, arrecadados com festas particulares que fizeram ao longo do ano, para alugar sistema de som e profissionais de limpeza.

"Ficamos na mão neste ano. Contratamos catadores de lixo, profissionais de limpeza e o aparelho de som com recursos próprios, mas o sistema de som, por exemplo, falhou. Não fizemos vaquinha coletiva porque ficou esse impasse se ia ter ou não Carnaval de rua", afirmou Maria Laura Bertazzi, uma das organizadoras.

Assim como o Baco do Parangolé, o Bloco do Fuá decidiu fazer um cortejo neste sábado (23) com o que conseguiu arrecadar internamente. O valor necessário para o aluguel da "pipoqueira" (como é chamada a caixa de som manual) e pagamento da percussionista, a mestra da bateria Cissa, veio do dinheiro juntado com as oficinas de percussão ofertadas desde outubro de 2021.

"Todo último domingo do mês fazemos uma oficina e pedimos uma contribuição, que é voluntária, dos participantes. Além disso, a gente arrecadava um pouco com a venda das camisetas, mas neste ano não fizemos. Nunca pegamos dinheiro de ninguém ou recebemos ajuda da prefeitura. Estamos contando com a ajuda de alguns comerciantes, que toparam fornecer bebidas, como água, e que vão possibilitar o uso dos banheiros", disse Marco Ribeiro, um dos fundadores do tradicional bloco que existe há mais de três décadas.

Outro bloco que resolveu "passar o chapéu" entre os integrantes foi o Ano Passado Eu Morri. Com cerca de R$ 2.000, eles conseguiram fazer seu desfile próximos à praça Rio dos Campos, em Perdizes, na última quinta (21).

"Nós conseguimos juntar o suficiente para pagar banheiro químico, comida, cerveja e coleta de lixo", afirmou Fábio Tremonte, um dos fundadores do bloco.

Tremonte contou que normalmente tinham dinheiro em caixa devido às apresentações que faziam em festa, mas que, no último ano, por causa da situação ainda preocupante da pandemia, não fizeram nenhuma. "Neste ano passamos o chapéu, cada um contribuiu com um pouquinho, e foi o que permitiu a gente sair."

O Saia de Chita, que também desfilou na última quinta (21), pedia aos foliões uma contribuição via Pix nas redes sociais. Segundo a organização, porém, a contribuição de R$ 7.500, necessária para pagar banheiro químico, caixa de som e ensaios, foi do próprio caixa.

A vaquinha coletiva foi também o método ao qual recorreram o Bloco Feminista, que fazia seu cortejo nesta sexta-feira (22), e a Cornucópia Desvairada, que irá ocupar as ruas de Perdizes neste sábado (23).

Enquanto as meninas do desfile feminino conseguiram arrecadar cerca de R$ 6.500 até a tarde desta sexta, a Cornucópia disse ter cerca de R$ 2.500, soma suficiente para contratar equipe de limpeza e banheiros químicos.

No caso da Charanga do França, que irá sair no domingo (24), a vaquinha coletiva em dois dias juntou R$ 10 mil, que serão divididos entre os membros do bloco e usados para pagar serviços de limpeza e segurança.

O Acadêmicos do Baixo Augusta irá participar da festa no Vale do Anhangabaú no domingo (24) com dinheiro próprio e ajuda de patrocinadores, como a cerveja Amstel e a bebida Mike’s.

Mas, mesmo com a ajuda dos foliões, houve blocos que decidiram não sair neste feriado. É o caso do Esfarrapado, no Bexiga. "Sempre recebemos ajuda de alguns comerciantes do bairro, mas essencialmente saímos com um financiamento próprio a partir de festas e atividades culturais que fazemos ao longo do ano. Como no ano passado não fizemos nenhuma, estamos zerados, e decidimos não sair", disse Mauricio Bianchi, presidente do bloco que existe há 75 anos.

Bianchi afirmou que a organização de um bloco é complexa e, por isso, a ajuda da prefeitura é essencial. "Nós não [fazemos parte de] uma empresa, temos uma ação muito mais local, e o fato de o Carnaval não ter sido confirmado [com a prefeitura] dificultou", afirmou.

O bloco afro Ilú Oba De Min também fez críticas à ausência do poder público. "A prefeitura não financia os blocos, mas ela dá infraestrutura que viabiliza o cortejo. O Ilú decidiu não sair neste ano, mas, se fosse, teríamos que ir atrás de patrocínio, fazer festas para viabilizar o cortejo", disse Baby Amorim, uma das organizadoras do bloco.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior grafou incorretamente o nome de Fábio Tremonte.

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