Descrição de chapéu Alalaô Rio de Janeiro

Blocos se espalham no Rio sem medo de repressão

Falta de estrutura pela prefeitura e de esquema especial de segurança levou cheiro de xixi e trânsito conturbado às ruas

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Rio de Janeiro

Com a memória do Carnaval de fevereiro, que correu sem grandes intervenções, e a garantia da prefeitura de que não haveria repressão, os blocos se espalharam sem medo pelo centro do Rio de Janeiro nesta quinta-feira (21).

Ao menos 14 cortejos saíram às ruas no primeiro dia deste feriado de Tiradentes. A data abrigou os desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, adiados pelo prefeito Eduardo Paes (PSD), o que estimulou a folia nas ruas.

Diferentemente de fevereiro, quando grupos de músicos se reuniram mais organicamente pela cidade, desta vez a folia contou com um calendário prévio que circulou por grupos de mensagens e páginas nas redes sociais.

Em primeiro plano homem toca saxofone; ao fundo, aglomerado de pessoas
Foliões durante o bloco Amores Líquidos pelas ruas do centro do Rio de Janeiro - 21.abr.2022 - Eduardo Anizelli/ Folhapress

A falta de estrutura de banheiros químicos e esquema especial de segurança, porém, deixou novamente as ruas com cheiro de xixi e o trânsito conturbado. Na avenida Marechal Floriano, o bloco Amores Líquidos se encontrou com carros alegóricos e teve que desviar o percurso, segundo um policial.

O motorista de uma linha de VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) que circula na avenida Rio Branco também foi surpreendido pela 5ª vez no mesmo dia com a passagem dos foliões. O trajeto teve que ser interrompido e os passageiros precisaram descer para abrir caminho para o desfile do Desculpe o Transtorno.

Desta vez também parece ter havido menos manifestações políticas. Ainda assim, em alguns momentos foliões entoaram gritos a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de crítica ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Algumas pessoas também circulavam com um adesivo de apoio a Lula e ao deputado federal Marcelo Freixo (PSB), pré-candidato ao governo do Rio.

Na região da Cinelândia, no centro da cidade, um casal se fantasiou de Jesus e de diabo. Segurando uma placa com os dizeres "o Estado é laico", Rafael Moraes, 44, afirma que escolheu a fantasia como forma de protesto.

"Nesse ano eleitoral, em que a gente se tocou dessa mistura horrorosa de religião e exercício político, achei que o Brasil merecia que alguém como Jesus Cristo lembrasse que o estado é laico. Talvez com Jesus dizendo as pessoas acreditem", diz.

Neste feriado o Carnaval carioca parece ainda ter atraído mais foliões de outros estados. Saudosos da festa que não aconteceu em fevereiro, paulistanos marcaram presença no bloco Amores Líquidos, que saiu às ruas do centro às 7h.

"Paulista quer carnaval, sol e praia", resume a estudante de psicologia Marina Nascimento, 22, na fila do banheiro de uma hamburgueria. O grupo veio em peso, aproveitando a casa de uma amiga que se mudou para a capital fluminense há pouco tempo.

A festa foi fraca em São Paulo dois meses atrás, diz, entre uma latinha e outra, o administrador Pedro Hsia, 28, que ficou quase completamente isolado na pandemia. Por isso veio atrás das amigas que curtiram os blocos cariocas no verdadeiro feriado de Carnaval.

"A gente precisa curtir a vida, não dá mais para esperar. Sei que a vacina não impede a transmissão [da Covid], mas impede que eu morra", afirma ele. Viajaram de ônibus durante a madrugada para chegar a tempo do bloco nesta quinta-feira.

A cidade agora espera ao menos dez blocos nesta sexta-feira (22), incluindo Pyranhas do Nilo, Loló de Ouro e Docinhos Carinhosos.

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