Descrição de chapéu Folhajus

Casa de avós é roubada após morte de menina em ritual de cura em MG

Queridos por vizinhos, idosa benzia amigos, e marido frequentava festa católica

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Frutal (MG)

O jardim da casa dos avós de Maria Fernanda, 5, a menina que morreu por queimaduras após um ritual de cura no bairro Princesa Isabel em Frutal, em Minas Gerais, ainda floresce apesar do espaço tomado pelo mato. Os avós, a mãe da criança, a tia e um líder espiritual foram presos pela polícia na quarta-feira (20).

Nos últimos dias, porém, nem a espada-de-são-jorge na entrada nem a guiné abundante na árvore que faz sombra na residência —plantas às quais a cultura popular atribui proteção contra males— foram capazes de preservar o lar onde a garota cresceu.

Logo após a prisão da tia e dos avós maternos, o local foi assaltado, segundo vizinhos. Foi ali que Maria Fernanda se queimou depois de um processo religioso para curar uma tosse persistente, segundo o advogado da família. De acordo com ele, a família diz que a morte foi acidental.

Na rua, vizinhos lamentam o episódio. "Eu até passei mal quando soube, vieram dois carros de polícia para prender um idoso doente", afirmou o publicitário aposentado e radialista Divino José de Oliveira, 73, amigo do casal preso.

foto de menina branca com vestido roxo e cabelos longos castanhos
Maria Fernanda de Camargo, 5, morreu após ser queimada em ritual religioso em Frutal (MG) - Reprodução

Na opinião de Divino, a família mudou a história porque práticas de umbanda ainda são vistas com muito preconceito, embora estejam integradas fortemente à cultura religiosa mineira.

"O avô cuida dos netos, nunca fez mal a ninguém, não tem pessoa melhor. Trazia pão para mim quando eu fiz cirurgias nos pés por causa da minha diabetes. São muito humildes e honestos", disse o radialista, com os olhos marejados.

A avó era lavadeira em um asilo, conta o vizinho. A mãe da criança, assim como o pai, trabalha em um mercado da cidade. A tia detida é professora em uma autoescola. "São pessoas de fé que acreditaram que essa pessoa [o líder religioso que comandou o ritual] ia ajudar", disse Divino.

Genésio da Mata, 83, é carpinteiro aposentado e conhece o avô de Maria Fernanda desde os 12 anos. "Ele era tirador de leite na fazenda, depois veio para cidade com a família. Vi essa menina nascer. Foi muito triste. Na casa deles não tinha briga, não tinha discussão, tudo em paz", contou.

Devoto dos reis magos, Genésio disse ainda que ele e o avô de Maria Fernanda eram seguidores das folias, festa tradicional católica.

"Todo 6 de janeiro, estávamos lá. Eu sempre fui pelo terço e nós dois tínhamos muita devoção. Não teve nos últimos dois anos por causa da pandemia, mas nunca desligamos", afirmou.

homem de farda preta conduz homem algemado com mãos pra trás ao lado de idosos
Policial conduz detidos após menina morrer queimada em ritual religioso em Frutal (MG) - Celly de Paula / Rádio 97 FM

O vizinho Garibaldi de Carvalho, 70, também confirmou o clima de tranquilidade na casa da família. "O pai era cruzeirense, sempre me cumprimentava quando passava e o avô era um homem muito tímido e calmo", disse Carvalho.

Depois de colher uns raminhos de guiné à porta da casa dos avós de Maria Fernanda, a dona de casa Rita Silva, 60, contou que ninguém desabonava a família no bairro.

"A menina era muito companheira da mãe, foi uma fatalidade e uma grande tristeza. A mãe deve estar de coração partido, não temos de julgar o medo de perder um filho", disse Rita.

Outra vizinha, que preferiu não se identificar, afirmou que a avó era benzedeira antiga e se recusava a qualquer prática que desrespeitasse a Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa celebrada pelos católicos.

A avó, pela descrição dos vizinhos, mantinha em casa, em um parte privada da residência não aberta ao público ou visitas, o que na umbanda é conhecido como "congá", um altar que contém geralmente estátuas religiosas.

Maria Fernanda vivia com os pais em outra casa, em um bairro próximo ao mercado em que trabalhavam. A residência também foi revistada pela polícia, que programa uma reconstituição da morte na casa dos avós para os próximos dias.

A garota passava meio período do dia com o avô e o tio materno, que é enfermeiro e frequentava a casa dos pais, mas não estava em casa no momento do incidente.

A pessoa que se dispôs a fazer o ritual não era conhecida dos vizinhos. "Era um trabalho pela saúde da menina, não para fazer mal como alguns meios de comunicação têm dito. Ela era muito inteligente e querida", disse Divino.

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