Descrição de chapéu Obituário IDALINA ROSA DE PAULA (1936 - 2022)

Mortes: Cria da Vila Maria, superou pai autoritário em vida de novela das 9

Operária sofreu na infância, descobriu a verdade sobre a mãe já adulta e tomou as rédeas da vida

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São Paulo

A vida de Idalina Rosa de Paula daria uma novela das nove. No primeiro capítulo, em uma fazenda que emprega imigrantes italianos no interior paulista, uma jovem dá à luz uma menina e logo dela é separada pela família do pai da criança, já comprometido a se casar com outra moça. A recém-nascida é levada pelo avô a cavalo para longe dali.

Em São Paulo, primeiro em um cortiço no Centro e depois em uma casa na Vila Maria, a menina cresce sob as regras rigorosas do pai e a vigilância ameaçadora daquela que acredita ser sua mãe.

"Ele usava botas grandes e batia um pé depois do outro quando chegava na porta. Pa-pa", contava ela aos netos anos depois, imitando os gestos do pai severo, que trabalhava como coveiro da prefeitura.

Idalina Rosa de Paula, nos anos 1970, com os cabelos curtos, como sempre quis
Idalina Rosa de Paula, nos anos 1970, com os cabelos curtos, como sempre quis - Acervo Pessoal

Ele a impedia de cortar os cabelos, usar calças, pintar as unhas e cruzar os portões da casa quando o cordão passava na rua no Carnaval. Ela batia tampas de panela no quintal para acompanhar o cortejo. Menosprezada pela mãe, que a tratava diferente dos irmãos e das irmãs, ela contava, entretanto, com o carinho da mãe de seu pai, a nonna.

Mais tarde, a jovem, operária numa fábrica de televisões e rádios, conhece um homem, também do interior paulista, que chega à capital após servir o Exército para ser seu vizinho. Ele a esperava na saída da fábrica para acompanhá-la em casa, tempo no qual conversavam sem que o pai dela visse. Numa ocasião, ela engole uma carta recebida do rapaz para que o pai não suspeite do interesse amoroso. No fim, o pai cede, autoriza o namoro e marca a data do casamento.

Casada, ela usa para sempre os cabelos bem curtos, por vezes pintados de vermelho, assim como as unhas e os lábios. Em 1961, nasce seu primeiro e único filho. Tempos depois, ela descobre a verdade sobre sua mãe, graças à nonna, que lhe conta a história antes de morrer.

Pequena e elegante, a mulher de olhos claros fuma cigarros e acampa na praia nos verões. Ela viaja pelo país, de Canela a Fernando de Noronha. Com a aposentadoria do marido, os dois vão morar no litoral sul paulista. Ele joga bocha e faz palavras-cruzadas, ela pratica ioga e faz caça-palavras. Os dois assistem a todas as novelas da programação e, quando recebem os dois netos em casa, ela faz rosquinhas cobertas de açúcar. O casamento com João dura mais de 50 anos, até a morte dele, em 2010.

No último capítulo, que foi ao ar neste domingo (24), Idalina morre aos 86 anos, após uma internação de três semanas depois de um acidente vascular cerebral. Ela gostava de Cauby Peixoto e de sorvete. Ela deixa o filho, Luiz, três irmãos e dois netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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