Descrição de chapéu Folhajus

Criminosos invadem Guarapuava (PR) para assaltar empresa de transporte, atacam a polícia e espalham terror

Dois PMs e um morador da cidade foram baleados; sangue nos veículos aponta que há bandidos feridos, diz investigação

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São Paulo e Guarapuava (PR)

Criminosos atiraram contra um batalhão da Polícia Militar, incendiaram carros e caminhões, fizeram reféns e espalharam terror em Guarapuava, no Paraná, entre a noite deste domingo (17) e o início da madrugada desta segunda-feira (18).

Um morador e dois policiais acabaram baleados, em situações ainda não detalhadas pela polícia. No início da tarde desta segunda, os dois policiais continuavam hospitalizados, mas fora de perigo.

O primeiro suspeito de envolvimento no ataque foi preso na tarde desta segunda. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, o detido é de Guarapuava e pode estar ligado à parte logística do fornecimento de armas à quadrilha. Ele foi liberado após cinco horas de depoimento e teve o celular apreendido para análises.

Os criminosos tentaram chegar à caixa-forte da empresa Proforte, porém fugiram ao perceber a chegada de policiais. Antes disso, fizeram várias ligações para o 190 relatando crimes falsos para tentar confundi-los.

Ao todo, cerca de 30 envolvidos participaram da ação. Eles abandonaram oito veículos, entre os quais alguns blindados. Foram recolhidos sete fuzis, uma arma .50, pistolas, dinamites, quatro capacetes balísticos, mochilas com remédios e mantimentos para fuga.

"O sangue nos veículos abandonados aponta que há bandidos feridos", disse o secretário de Segurança Pública, Romulo Soares.

Caminhão incendiado por bandidos durante tentativa de assalto na cidade de Guarapuava, na madrugada dessa segunda (18) - Mauren Luc/Folhapress

De acordo com Soares, os suspeitos podem ter ligação com quadrilhas que agiram de forma idêntica em Araçatuba (SP) e Criciúma (SC).

A reação ao ataque envolveu cerca de 200 policiais da região e três helicópteros. A polícia estima que deve estender por ao menos quatro dias a busca dos suspeitos pelas cidades da região.

Segundo a polícia, no momento do crime não havia ninguém na empresa de valores. As investigações estão sendo conduzidas pelas Polícias Civil e Militar do Paraná.

O Exército recorreu a um veículo blindado para garantir a segurança de instalações militares na cidade. A 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada utilizou o Guarani para transportar um efetivo do 26º Grupo de Artilharia de Campanha e reforçar a segurança fora do perímetro do quartel.

"Não houve nenhuma ação contra instalações militares", afirmou o Exército, em nota. "As providências adotadas seguiram o protocolo de segurança da organização militar, destinado a preservar a integridade física de patrimônio e pessoal."

De acordo com o comandante do batalhão da PM de Guarapuava, tenente-coronel Joas Lins, a cidade pode ter sido escolhida pela quadrilha devido a seus acessos a rodovias e também em razão da quantidade de dinheiro na empresa de valores.

O prefeito de Guarapuava, Celso Goes (Cidadania), relatou momentos de terror. "Foi muito tenso, houve muitas rajadas de metralhadora, tiros e não estamos acostumados com isso. Ficamos apavorados."

Escolas suspenderam as aulas, e parte do comércio não abriu as portas. Quem mora próximo da empresa de valores disse que passou momentos de terror.

"Nos primeiros tiros, achei que era bomba. Quando entendi que eram tiros, deitei no chão. Os disparos paravam um pouco e já começavam de novo. Eles pegavam quem passava na rua para fazer de refém", disse o artesão Trajano Soares, que mora e trabalha em frente à Proforte.

O motorista Kleber Klamer disse se lembrar do barulho forte provocado pela reação entre PMs e criminosos. "Faziam todos de escudo humano e atingiram a perna de um motociclista que passava. Moro a 1 km daqui e o barulho era tanto que parecia ao lado da minha casa."

"Nunca vi nada parecido. Eu tremia e quase morri de susto, achei que iam entrar no meu quintal", contou a aposentada Romilda Bortolanza, 75.

Na casa da agricultora Patricia Roth, todos deitaram no chão ao ouvir os tiros. Assim ficaram por duas horas, até os disparos cessarem. "Tenho duas crianças, de 10 e 12 anos. Meu menino teve uma crise de ansiedade e começou a ter falta de ar, com o coração disparado. Nosso prédio chegou a tremer com as explosões", afirmou.

A atriz Larissa Manoela, 21, nascida em Guarapuava, afirmou nas redes sociais que ficou com o coração apertado ao saber o que ocorreu. "Eu tô com vocês. Família, amigos, se protejam", disse.

Os ataques começaram por volta das 22h de domingo e terminaram no início da madrugada, quando os moradores relatam não terem mais ouvido barulhos de tiros ou explosões. Os criminosos fugiram em direção ao interior do estado.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal do Paraná, a rodovia BR-277 chegou a ficar fechada em dois pontos, nos kms 353 e 330, por causa de dois caminhões incendiados pelos criminosos. Os bloqueios faziam parte da estratégia de ação do bando.

Ações desse tipo acontecem desde 2018, são realizadas por quadrilhas especializadas e fazem parte do chamado novo cangaço. São invasões de cidades de pequeno e médio porte por criminosos fortemente armados, em grupos de 15 a 30 homens, que chegam durante a noite ou madrugada em comboios de veículos potentes.

Em agosto do ano passado, uma quadrilha fez uma das ações mais agressivas do novo cangaço em Araçatuba, no interior paulista. O grupo explodiu e roubou duas agências bancárias, fez moradores reféns, disparou bombas e ateou fogo em veículos durante a fuga. Três pessoas morreram na ação e outras quatro ficaram feridas.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, disse nesta segunda-feira (18) que esses ataques configuram um tipo de terrorismo. Também pediu mudança na legislação atual para aumentar a pena para quem se envolve nesse tipo de ação.

"É um crime gravíssimo, é um crime que nós não temos como dizer que você chegar numa cidade, incendiar uma cidade, tocar fogo em banco, na polícia, que isso não causa um terror naquelas pessoas. Isso na nossa opinião é um tipo de terrorismo e a gente precisa realmente jogar duro com isso. Isso porque as pessoas estão sofrendo, o povo está ficando extremamente assustado com isso e o Estado não pode permitir esse tipo de coisa", afirmou Torres, ao chegar para sessão no Senado para comemorar o aniversário de Brasília.

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