Descrição de chapéu datafolha

Falta de policiamento é principal problema de segurança em SP e RJ, indica Datafolha

Pesquisa aponta que moradores de SP se preocupam mais com qualidade do serviço prestado por policiais, enquanto no Rio questões giram em torno de tráfico, milícia e facções

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São Paulo

Pouco policiamento. Este é o principal problema de segurança pública para quem vive em São Paulo (24%) e no Rio de Janeiro (16%), segundo pesquisa Datafolha. Questionados sobre o tema, entrevistados paulistas e fluminenses indicaram, em resposta espontânea, aquele que julgavam ser o problema crucial de segurança pública em seus estados.

No estado de São Paulo, as queixas foram lideradas pela ideia de que há pouco policiamento e falta de policiais. Foram apontados ainda como problemas a falta de segurança (11%), os assaltos (4%), o despreparo da polícia (4%), o tráfico de drogas (4%), as leis que não funcionam (4%) e a corrupção (3%).

No estado do Rio de Janeiro, essa sequência de problemas, também encabeçada pelo pouco policiamento e a falta de policiais, inclui corrupção (9%), falta de segurança (8%), tráfico de drogas (8%), milícias (7%) e assaltos (6%).

O Governo de São Paulo decidiu mudar a identidade visual dos veículos utilizados pela Polícia Militar
Carros da Polícia Militar de São Paulo; pesquisa Datafolha mostrou que problema de segurança mais citado citado por entrevistados paulistas é a falta de policiamento - Reprodução

Para o economista Leandro Piquet Carneiro, coordenador da Escola de Segurança Multidimensional do Instituto de Relações Internacionais da USP, a convergência do primeiro resultado entre as falhas de segurança pública colhidos junto às populações de SP e RJ pela pesquisa Datafolha aponta para um problema ligado às polícias.

"Trata-se da causa mais citada entre os problemas ligados à segurança. Somada a outros problemas bastante citados e relacionados ao trabalho policial, como falta de segurança, falta de preparo de policiais e corrupção, tem-se que a polícia é percebida, disparada, como a principal causa de insegurança no eixo Rio-São Paulo", avalia ele.

"Por que esse problema é tão persistente para a segurança pública?", questiona Piquet. "Muito provavelmente porque as polícias são violentas, o que é um reflexo de uma série de problemas funcionais e organizacionais", diz o especialista, para quem esta é uma questão que precisa "ser enfrentada em níveis diferentes".

"As polícias têm um padrão de violência que é muito alto. Investir no uso de câmeras corporais é central para construir a legitimidade da força", diz. "Mas mudar o padrão de segurança da população não tem só a ver com polícia, mas com intervenções urbanas, via prefeituras, e com uma agenda complexa de ações."

A Polícia Militar de São Paulo, responsável pelo patrulhamento das ruas das cidades paulistas, tem hoje efetivo menor do que em 2001, segundo dados da corporação. Em fevereiro de 2022, a PM paulista contou 82.139 oficiais. Em 2001, eram 84.804 e, em 2006, recorde da série histórica, eram mais de 90 mil. Neste mesmo intervalo de tempo, a população do estado cresceu 20% e chegou perto das 45 milhões de pessoas. Hoje são cerca de 182 policiais para cada 100 mil habitantes de SP.

Procurada, a PM paulista informou, por meio de nota, que entre as razões para a impressão de falta de policiamento está o fato de 50% das prisões em flagrante realizadas são de criminosos condenados porém soltos por algum benefício da lei, segundo levantamento do Centro de Altos Estudos de Segurança Pública.

"Outro estudo revela que o total aproximado de condenados soltos é de 350.000. Ou seja, quando os criminosos não ficam presos, a polícia continua a prendê-los quando poderia estar promovendo mais policiamento", avalia o porta-voz da PMESP Major Davi Freixo.

Já a Polícia Militar do Rio de Janeiro tem cerca de 44 mil policiais e uma população de quase 17,5 milhões. São 251 policiais para cada 100 mil. Procurada, a PM do Rio não comentou os dados.

Para o sociólogo Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a pesquisa mostra que a população de São Paulo se preocupa proporcionalmente mais com a prestação do serviço de policiamento e sua qualidade.

Já no Rio de Janeiro, aponta ele, há maior percentual de pessoas preocupadas com corrupção, milícias, tráfico de drogas e facções. "No Rio, é o controle armado dos territórios que dá o tom do debate", avalia.

Enquanto o tráfico de drogas é duas vezes mais citado no Rio (8%) do que em São Paulo (4%), proporcionalmente, milícias são sete vezes mais citadas entre fluminenses (7%) do que entre paulistas (1%). Nos marcadores sociais, entre os que mais citaram facções como o principal problema estão pretos (4%) e pardos (5%), que mencionaram esse item pelo menos duas vezes mais que brancos (2%) do RJ.

A pesquisa Datafolha entrevistou, nos primeiros dias de abril, 1.806 pessoas em 62 municípios do estado de São Paulo, com margem de erro de dois pontos, sendo 840 entrevistas na capital, com margem de três pontos.

No Rio, foram entrevistadas 1.218 pessoas em 30 municípios fluminense, com margem de erro de três pontos, e 644 pessoas na capital, com margem de quatro pontos.​

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