Os homicídios seguem caindo no Rio de Janeiro. No primeiro trimestre deste ano, este tipo de crime voltou a atingir a menor marca em 31 anos no estado. Com isso, as mortes violentas em geral também chegaram a seu patamar mais baixo.
Foram 760 assassinatos de janeiro a março, número quase três vezes menor do que o registrado no mesmo período de 1991, quando se iniciaram as medições pelo ISP (Instituto de Segurança Pública). Isso representa uma redução de 18% em relação ao ano passado (928).
O estado já vê uma queda anual constante nos homicídios intencionais desde 2018, portanto antes da pandemia de Covid-19, que reduziu a circulação de pessoas. Essa tendência ainda intriga pesquisadores da área, segundo os quais há ao menos três fatores que podem estar influenciando na diminuição.
O primeiro deles é o aspecto demográfico: a população está ficando cada vez mais velha, poupando vítimas que são em sua maioria jovens. Um segundo elemento é o investimento nas polícias fluminenses depois da falência pela qual o estado passou, principalmente, em 2016.
"Houve uma injeção de recursos bastante importante a partir do regime de recuperação fiscal e da intervenção federal [de fevereiro a dezembro de 2018]", diz o sociólogo Daniel Hirata, coordenador do Geni-UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense).
O governador Cláudio Castro (PL) atribuiu os resultados à sua gestão ao divulgar os dados. "É consequência do trabalho que vem sendo realizado pelas polícias Civil e Militar, com reforço do [programa de patrulhamento] Segurança Presente", afirmou ele em nota.
O terceiro motivo passa por uma reconfiguração do controle territorial armado do estado, segundo Hirata. Locais que já tiveram guerras entre diferentes grupos e depois se estabilizaram, por exemplo, costumam ter quedas significativas.
Algumas das áreas que tiveram reduções consideráveis nos assassinatos neste primeiro trimestre foram Ipiiba e Sete Pontes, no município de São Gonçalo (de 32 para 12), o centro de Duque de Caxias (de 27 para 11) e São Pedro da Aldeia (de 10 para 1), na Região dos Lagos.
Há ainda uma ponderação sobre o aumento simultâneo de desaparecimentos no estado, na contramão dos homicídios. "Há uma concentração desses casos em áreas de milícias. Elas sabem como as forças policiais atuam e têm diversas estratégias de encobrir os assassinatos", diz o pesquisador.
No primeiro trimestre deste ano, foram registradas 1.416 pessoas desaparecidas, 413 a mais do que no mesmo período do ano passado. O número é superior ao de mortes violentas (1.099), que incluem homicídios, óbitos por policiais, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte.
"Uma outra dimensão dessa questão, igualmente importante, é que a gente vê uma redução nos indicadores dos crimes contra propriedade e homicídios bastante consistente, mas a letalidade policial não vem caindo na mesma proporção", afirma o sociólogo.
As mortes decorrentes de intervenções policiais passaram por uma alta vertiginosa no Rio de Janeiro entre 2014 e 2019, com a falência das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e outros fatores, batendo recordes ano a ano.
Depois, caíram em 2020 com a pandemia e uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que limitou operações em favelas. Em 2021, tiveram uma leve alta. Agora, uma nova queda de 30% no primeiro trimestre deste ano (318), em comparação ao mesmo período do ano passado (454).
Cerca de um terço das mortes violentas do RJ são causadas pela polícia, quase o triplo da média brasileira, que gira em torno de 12%. O plano apresentado por Cláudio Castro em março para reduzir esses números, exigido pelo STF, foi alvo de críticas de especialistas.
Nesta quarta (27), o governador divulgou que vai expandir o uso de câmeras portáteis nos uniformes de policiais militares para dez batalhões a partir de 16 de maio, incluindo os de Copacabana, Leblon, Botafogo (zona sul), Méier, Tijuca e Maré (zona norte).
Até agora, apenas agentes que atuam na Lei Seca e envolvidos no evento do Réveillon estavam usando o equipamento. O novo cronograma prevê que todas as unidades operacionais convencionais do estado estejam utilizando 8.000 câmeras até o final do primeiro semestre.
Os crimes contra o patrimônio também continuaram em queda no estado no primeiro trimestre de 2022, em relação ao mesmo período de 2021. Os roubos de rua, que incluem assaltos de celular, a pedestre e em coletivos, diminuíram 24% (de 19.029 para 14.499) e os roubos de carga, 5% (de 1.111 para 1.054).
Esse último tipo de crime, que explodiu entre 2013 e 2017, foi alvo de uma mobilização grande envolvendo associações patronais, de transporte, Firjan (Federação das Indústrias do RJ) e o governo do estado a partir de 2018, o que fez os índices despencarem sistematicamente.
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