Descrição de chapéu Obituário Teresa Aguiar (1934 - 2022)

Mortes: Diretora de teatro era temida por atores, mas acolhedora

Teresa Aguiar morreu no último dia 12 de abril em decorrência de um câncer

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São Paulo

"Vamos fazer teatro", disse a diretora de teatro Teresa Aguiar, 88, ao descobrir o sonho de Zilda Rubinski em se apresentar. Assim, Zilda se tornou, em 2020, a "mais nova" atriz do grupo Rotunda e, aos 90 anos, estreou em uma peça sobre Anne Frank.

Responsável por mais de 40 espetáculos de teatro e filmes, Aguiar era temida pelos atores que trabalhavam com ela, mas reconhecida por conseguir fazer com que os trabalhos florescessem.

"Essa fama de brava fazia jus porque ela era terrível. Ela não brincava em serviço", conta a professora universitária Ariane Porto, 57, que foi sua companheira por quase 40 anos.

A diretora de teatro Teresa Aguiar, que morreu aos 88 anos
A diretora de teatro Teresa Aguiar, que morreu aos 88 anos - Divulgação

Porto lembra que Teresa, além de ter sido uma grande diretora e criadora de espetáculos, tinha o dom da preparação e transformação do ator. "Ela gostava de trabalhar com pessoas que, muitas vezes, não tinham a menor experiência e sabia conduzi-las da melhor forma possível, com respeito, mas firmeza", resume.

Teresa Aguiar morreu no último dia 12 de abril, em decorrência de um câncer. Nascida em São Paulo, ela dividia o tempo entre São Sebastião e Campinas, onde fundou o Teatro de Estudantes de Campinas (TEC) e o Rotunda, o primeiro grupo de teatro profissional do interior de São Paulo.

Ainda jovem, ela entrou no mundo do teatro, que era repleto de diretores, mas não diretoras. "Ela fez isso", diz Ariane. "Teresa sempre teve cuidado em manter a vida pessoal dela de forma discreta, mas ela também era homossexual e isso não foi fácil."

Para Teresa, o camarim era um lugar de recolhimento e o palco, um lugar sagrado. Quem trabalhou com ela, costumava ouvir "estamos fazendo o sacrifício do teatro", uma vez que ela associava as peças a uma espécie de ritual, em que os atores ofereciam o que tinham de melhor.

Perfeccionista, véspera de estreia era sinônimo de muito ensaio e não era raro que o elenco virasse a madrugada treinando e só deixasse o local de manhã.

Apesar de ter trabalhado com grandes nomes da cultura, como Ney Latorraca, Lima Duarte e Regina Duarte, a paixão de Aguiar era por aqueles que chegavam ao teatro com vontade de entrar em um universo temido, no qual tinha o cuidado de introduzir essas pessoas.

Com forte ligação com a natureza e o mar, Teresa atuava em prol da defesa ambiental e dos direitos humanos, fundou o Centro Cultural Sebastião Tem Alma, em São Sebastião, litoral paulista, e também trabalhou com moradores de rua.

"Teresa era uma pessoa extraordinária, que se manifestava no cotidiano ordinário", diz Ariane. "Foi uma pessoa de uma generosidade enorme, sem ser boazinha. Essa braveza, competência e cuidado com o ator, eu acho uma coisa maravilhosa. Tenho certeza de que ela vai seguir inspirando."

Teresa Aguiar deixa sua companheira Ariane Porto, os dois gatos Chico e Bento, e os sobrinhos Inês, Eduardo e Vidal Aguiar.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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