Descrição de chapéu Obituário Julita Dantas Araújo Marques (1930 - 2022)

Mortes: Mãe de sete, sempre acolhia mais um

Julita Dantas Araújo Marques passou a vida dedicada aos afazeres do lar

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Salvador

O ditado em coração de mãe sempre cabe mais um parece pensado para a história de Julita Dantas Araújo Marques, que deu à luz a sete filhos, mas chegava a ter até umas 20 pessoas em casa, aos finais de semana, em busca de um delicioso prato de galinha ao molho pardo.

Sertaneja de Ipirá (a cerca de 210 km de Salvador), filha da lavradora Maria José com o vaqueiro Nicanor, chegou à capital baiana nos anos 1970. Estava acompanhada do marido, Elofilo. A ideia era que os filhos em idade pré-vestibular pudessem ter uma educação melhor.

Imagem em primeiro plano mostra mulher idosa de chapéu no meio de uma mapa
Julita Dantas Araújo Marques (1930-2022) - Arquivo pessoal

Dona de casa, passou a vida dedicada aos afazeres do lar, um trabalho duro nem sempre reconhecido pela sociedade brasileira. Cuidava dos filhos, cozinhava, bordava, pintava e fazia artesanatos para festas.

Com tantas atividades diárias, costumava se desligar um pouco do mundo quando fazia trabalhos manuais, conta o caçula Ernesto Marques, 54. "Apesar de não ter tido oportunidade de dar vazão ao talento dela, tinha uma alma de artista. Amava pintar", lembra o jornalista.

A casa de Julita servia como base para familiares agregados, saídos do interior em busca de uma vida melhor. Afora isso, prossegue Ernesto, funcionava quase como uma célula para alguns dos filhos, junto com amigos, envolvidos no movimento estudantil durante a ditadura.

"Ela nunca esteve envolvida, mas morria de preocupação, já que meu pai foi apoiador do PCB, meu irmão mais velho esteve preso, nossa casa vigiada, chegou a ser invadida por soldados. Era pacata, mas brigaria como uma mãe da Praça de Maio, se preciso", detalha.

Nos últimos anos, a saúde de Julita foi se debilitando a partir de uma condição que atingiu justamente seu coração, agravada pela pela doença de Alzheimer. Nascida em 24 de julho de 1930, morreu aos 91 anos, no último dia 7 de abril, após uma semana internada.

Nas redes sociais, Ernesto se despediu da mãe com a postagem de um bilhete deixado por ela para os filhos, ainda jovens, no qual dava orientações sobre como acondicionar o alimento e indicações das refeições que havia deixado prontas.

"Em cima do fogão, tem sopa. O feijão coloquem na geladeira. Não fiz isto porque fervi e era hora da minha saída. Este bolinho é para o café de vocês. Não sei se está bom, fiz de última hora. Mil beijos com muitas saudades. Da mãe, que adora vocês todos."

Julita foi cremada em Salvador, no cemitério Bosque da Paz. As cinzas delas serão transladadas pela família para Ipirá. Viúva, chegou a enterrar o filho Eloi. Ela deixou Angélica, Luís, Celeste, Cristina, Eduardo e Ernesto, além de nove netos e dois bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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