Descrição de chapéu Obituário Veridiana Mellilo (1989 - 2022)

Mortes: Tornou-se referência ao conscientizar sobre autismo

Veridiana Mellilo descobriu o transtorno já adulta e chefiava o 1º centro multidisciplinar de Jaguariúna

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Rio de Janeiro

Veridiana Mellilo era um trem que, quando passava, levava todo mundo junto. Queria que evoluíssem com ela, diz a sócia e amiga Jaqueline Ribeiro, 35. Talvez tenha aprendido com os super-heróis por quem era fascinada na infância, dividida entre Campinas e Jaguariúna, interior de São Paulo.

Foi na segunda cidade que, aos 12 anos, pôs seu primeiro empreendimento de pé: uma banda de pop adolescente, cantando ao lado da irmã gêmea. Manteve o duo por mais de uma década, com o mesmo foco que a levou a praticar hóquei, ninjitsu e instrumentos musicais ao longo da vida.

"Minha psicóloga dizia que não existia azul claro na minha paleta de cores", escreveu ela sobre a própria intensidade. Nessa época, ainda não entendia por que andava na ponta dos pés, por que aprendia com tanta facilidade e por que o apelido de "limão" quando ficava "azeda" diante de imprevistos.

Mulher jovem de roupa vermelha sorri para a câmera
Veridiana Mellilo, 32, tornou-se referência na conscientização sobre autismo - Arquivo pessoal

Só foi receber o diagnóstico do espectro autista há poucos meses, aos 31 anos, coincidentemente após vários anos se dedicando às pessoas com o transtorno. Veridiana gerenciava desde 2019 o primeiro Centro de Referência do Autismo de Jaguariúna (CAJ).

O projeto era de seu pai, Wilson, que décadas antes criou o Centro de Equoterapia de Jaguariúna (CEJ) para atender variados tipos de deficiência. Ele decidiu expandir o trabalho e, sem conseguir conciliar a gestão das duas ONGs, convidou a filha para a função.

A equipe multidisciplinar da organização —incluindo neuropsicopedagoga, psiquiatra e psicólogas— então passou a identificar os traços do transtorno em Veridiana. Foi o fim de um longo período tentando se encaixar numa sociedade que ela não compreendia, com aulas de teatro, cursos de oratória e salto alto.

"Negligenciei meus próprios sentimentos para evitar caminhos de dor ou constrangimento inúmeras vezes ao longo de minha vida", relatou num texto. Não passar por cima de si próprio era sua principal mensagem aos quase 18 mil seguidores no Insta gram, no qual começou a virar referência.

"O autismo não tem uma cara, e as pessoas têm vergonha de demonstrar. Ela quis ser esse rosto para que as pessoas se identificassem. Estava começando a sentir as pessoas procurarem por ela, pedirem ajuda, direção", conta a esposa, Andressa Rodrigues, 26.

Para isso, usou os conhecimentos em marketing, área na qual se formou, e criou a agência Tangerine, com a amiga Jaqueline. Ainda conciliava as atividades com palestras, eventos, workshops e uma mentoria para alunos de relações públicas da PUC-Campinas.

Sua vida era trabalhar, diz Andressa. Queria expandir os centros e levar a qualidade do atendimento gratuito para outras cidades. Fora isso, era caseira e só saía para o hobby do casal: conhecer restaurantes novos, de preferência japoneses e italianos.

Conheceram-se numa festa oito anos atrás, Veridiana já se reconhecendo como lésbica e Andressa ainda não, e nunca mais se soltaram. A esposa foi aprendendo a lidar com a rotina do autismo, limitando o tempo em supermercados e lugares cheios e anotando numa agenda os compromissos de Veri do dia seguinte.

O casamento já durava mais de cinco anos no último dia 8, quando deitaram no sofá para cochilar. Ela passou mal e foi levada ao hospital. Morreu devido a uma parada respiratória repentina, apesar de manter uma vida saudável com exercícios e boa alimentação.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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