Quando Ricardo Nunes assumiu a Prefeitura de São Paulo, em maio do ano passado, seu partido era uma sigla mirrada na Câmara Municipal, com apenas três vereadores. Um ano depois, o MDB já briga para ser a maior força da Casa.
As aquisições têm sido intermediadas pelo próprio prefeito, que lidera a sigla na cidade e tem bom trânsito na Câmara, e parte por ser ele próprio um ex-vereador.
Até agora, já migraram para o partido Janaína Lima, vinda do Novo, e Marlon Luz, do Patriota. A sigla espera anunciar ainda Ely Teruel (Podemos), Paulo Frange (PTB) e Thammy Miranda (sem partido).
Com isso, o MDB chegaria a oito nomes na Casa, mesmo número de PT e PSDB, exatamente as maiores bancadas. George Hato, Marcelo Messias e Delegado Palumbo eram os três emedebistas eleitos originalmente em 2020 —todos continuam na sigla.
"Tenho a agradecer a confiança dos vereadores em caminharmos mais próximos ainda no projeto de transformação da nossa cidade", afirmou o prefeito à Folha. Questionado se o aumento da bancada do MDB deverá contribuir com seu projeto de reeleição em 2024, Nunes escreveu por mensagem: "Naturalmente, sim."
Questionado se o PSDB, de quem é aliado, poderia ficar enciumado com a articulação, ele saiu pela tangente. "Estaremos juntos, somando forças", escreveu.
O crescimento do MDB na Câmara ajuda o prefeito a diminuir a dependência do PSDB de seu antecessor, Bruno Covas. O tucano morreu em maio de 2021 em decorrência de um câncer, abrindo caminho para Nunes, até então vice, assumir o comando da cidade.
O crescimento do MDB ocorre justamente em momento de maior fragilidade do PSDB. Há um racha entre os tucanos após o então governador paulista, João Doria, vencer as prévias para ser o pré-candidato do partido à presidência. Uma ala da sigla, porém, tem defendido o nome do ex-governador gaúcho Eduardo Leite, derrotado no processo interno.
Marco Vinholi, presidente do PSDB paulista, minimizou possíveis impactos da articulação de Nunes entre os tucanos. "Não vejo nenhuma relação conosco e acho muito positivo o fortalecimento do MDB e do prefeito Ricardo Nunes, nossos grandes aliados", disse ele.
Janaína Lima foi para o MDB após confusão no Novo, sigla na qual foi acusada de agressão pela ex-colega de partido Cris Monteiro, também parlamentar na Câmara, e acabou expulsa.
O motivo da briga foi por um desentendimento pelo tempo de fala que cada uma teria no plenário. Janaína também acusa a outra vereadora de agressão e disse que "agiu em legítima defesa do início ao fim do caso".
Ela disse que foi convidada pelo prefeito e outras lideranças da sigla. "Ingressei no MDB com o apoio de uma figura pública emblemática na história do nosso país, o ex-presidente Michel Temer, e de dois políticos que se distinguem no nosso cenário partidário, o meu amigo e prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o acolhedor presidente Baleia Rossi [presidente nacional da sigla]", disse, em nota.
Ela diz que ter em comum com o partido "o desafio de levar a patamar de maior qualidade a realidade socioeconômica dos brasileiros".
Marlon Luz também chegou ao MDB após ser expulso de seu antigo partido, o Patriota. Sua saída aconteceu junto com a de outros nomes ligados ao MBL, após a direção da sigla decidir se aproximar de do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Novamente, a chegada do vereador foi uma intervenção direta de Nunes. "Eu aceitei o convite dele, eu vi que as propostas que eu fiz para São Paulo foram bem recebidas pelo prefeito, no sentido do trânsito, que é minha principal pauta", diz ele, que tem como base eleitoral os motoristas de aplicativo.
Pré-candidato a deputado federal, ele afirmou que, na sigla, teria melhores condições de executar seus planos.
A reportagem procurou as assessorias dos vereadores Frange, Teruel e Thammy Miranda, que deixou o PL após a chegada de Bolsonaro à sigla, mas não obteve confirmação sobre a mudança.
Na Câmara, Nunes tem conseguido aprovar projetos com celeridade, como as mudanças nas regras previdenciárias do município e a prorrogação de contratos sem licitação.
No entanto, para tentar a reeleição, terá de lidar com a baixa taxa de aprovação. Após 11 meses no cargo, o prefeito é aprovado por apenas 12% da população paulistana, mostra pesquisa Datafolha.
Antes dele, e considerando-se os limites da margem de erro, só Celso Pitta (então no PPB), com 15%, Gilberto Kassab (então no PFL), com 15% no primeiro mandato, e Fernando Haddad (PT), com 18%, registraram marca tão baixa no ano inaugural de suas gestões, segundo a série histórica iniciada em 1986.
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