Descrição de chapéu cracolândia drogas

Ação policial e dispersão da cracolândia afetam mercado imobiliário no centro de SP

Movimentação de usuários já prejudica contratos de compra e aluguel nos bairros de Campos Elíseos e Santa Cecília

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São Paulo

À espera de um comprador para seu apartamento há oito meses, o ator Marcelo Mendes, 49, já tinha o contrato de venda assinado quando a cracolândia se instalou na sua rua, no bairro dos Campos Elíseos, região central de São Paulo, no último dia 19.

Ele conta que só faltava seu advogado avaliar o documento para ele fechar o negócio. "No dia seguinte, a minha rua foi invadida", diz. "O comprador mora na avenida Duque de Caxias e via da janela tudo que estava acontecendo. Me ligou e disse que ia desfazer o negócio", conta.

As ações policiais que tiveram início no último dia 11 na praça Princesa Isabel, também no centro da cidade, espalharam os usuários de drogas pelas ruas da região e paralisaram o mercado imobiliário nos bairros de Campos Elíseos e Santa Cecília, os mais afetados.

Usuários de aglomeram em um canto da rua; a foto mostra um estacionamento vazio ao lado, onde fica uma tenda de atendimento social
Vista aérea da concentração da cracolândia na rua Helvétia, antes da operação desta sexta (27) que dispersou os usuários - Danilo Verpa - 24.mai.2022/Folhapress

Há pouco mais de uma semana, a concentração de usuários passou a ocupar o quarteirão na esquina da rua Helvétia e da avenida São João. Na última sexta (27), uma nova operação para esvaziar a rua resultou na prisão de ao menos seis pessoas. A Prefeitura de São Paulo planeja instalar câmeras e cortar árvores que dificultam o monitoramento dos traficantes que atuam no local.

Corretora na região há 22 anos, Marina Varom, 57, diz que o aplicativo da imobiliária em que trabalha parou de receber mensagens de clientes. "Não temos nenhuma procura. Está totalmente parado", diz.

Desde o início das operações da polícia, moradores de prédios da região reclamam de aumento de furtos e roubos na vizinhança, além de maior sujeira nas ruas.

Na última quarta-feira (25), os moradores se reuniram com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) para cobrar uma solução. Foi combinada a retomada da rotina de limpezas diárias na cracolândia, como acontecia quando os usuários estavam acampados na praça Julio Prestes. Foi prometido também reforço do efetivo da GCM (Guarda Civil Metropolitana).

A chegada da cracolândia fez a professora Carolina Torres, 25, cancelar mais de dez reservas de uma plataforma de hospedagem nos dois apartamentos da família localizados na rua Helvétia. Ela calcula um prejuízo de R$ 5.000, porque havia reformado um dos imóveis recentemente.

"Liguei para cada pessoa para oferecer o reembolso", diz. "Se uma delas escreve na avaliação que o apartamento fica dentro da cracolândia, eu nunca mais ia conseguir alugar para mais ninguém."

Moradores carregam cartaz em protesto no largo do Arouche
Moradores da região central protestam contra a falta de segurança após a chegada da cracolândia na rua Helvetia - Ronny Santos 21.mai.22/Folhapress

O enfermeiro Newton Viana de Oliveira, 49, morador da rua Doutor Frederico Steidel, que chegou a ser ocupada pela cracolândia por alguns dias, conta que perdeu um inquilino que estava prestes a alugar uma das suítes da sua casa. "Ele é de fora de São Paulo, se assustou com a situação e desistiu do aluguel", conta.

O plano, até então longínquo, de vender a casa se tornou urgente. "Quero sair daqui de qualquer jeito", diz. Ele conta estar pensado em erguer um muro em frente à casa como medida de segurança.

Durante a operação policial que expulsou os usuários da Doutor Frederico Steidel, no último dia 19, o quintal do enfermeiro foi invadido por usuários de drogas tentavam fugir da polícia.

Sem perspectiva de vender seu apartamento, o ator Marcelo Mendes conta que irá adiar o projeto de equipar um trailer para viajar pelo Brasil e pela América do Sul. "Eu vivi a minha vida inteira no centro de São Paulo e nunca vi um cenário tão crítico. Não tenho mais como sair à noite da minha casa", lamenta.

Além da reclamação de moradores, voluntários e entidades sociais que atuam na região também dizem que o espalhamento de usuários dificulta o trabalho de assistência.

Em documento apresentado à prefeitura depois da megaoperação que esvaziou a praça Princesa Isabel no dia 11, a Associação Comunitária São Mateus, contratada pela gestão Ricardo Nunes e responsável pelo Seas (Serviço Especializado de Abordagem Social) na região, declarou que "a ação dificulta o acesso a essa população elevando sua migração a outros territórios".

Procuradas pela Folha, tanto a gestão municipal quanto a estadual defenderam a operação policial e afirmaram que o número de atendimentos aumentou desde que ela foi realizada.

Em evento na última quarta, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), afirmou que as operações policiais vão continuar. De acordo com o governador, a Polícia Civil tem realizado "um grande processo de investigação com muitas prisões efetuadas e outras em andamento".

"Novas operações policiais vão ocorrer", afirmou ele.

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