Descrição de chapéu cracolândia

Cracolândia e escuridão alteram rotina de usuários do Minhocão (SP)

Falta de luz no elevado se tornou mais comum após cracolândia mudar para a região, dizem frequentadores

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São Paulo

O elevado presidente João Goulart, o popular Minhocão, costuma ser utilizado como área de lazer à noite e aos fins de semana, quando fecha para veículos. Os frequentadores, porém, têm enfrentado nos últimos dias um empecilho: diversos trechos estão sem iluminação.

A escuridão na via, que corta o centro de São Paulo com seus 3,4 km de extensão, tem trazido ainda mais insegurança aos moradores já preocupados com um outro problema vizinho ao elevado: a cracolândia que se instalou no quarteirão da rua Helvétia entre a alameda Barão de Campinas e a avenida São João.

A reportagem esteve no Minhocão na noite da última quinta-feira (26) e pôde notar vários trechos sem iluminação. Um dos pontos mais escuros estava entre a saída para a rua Ana Cintra e a alça de acesso da avenida São João para o elevado, justamente na altura em que os dependentes químicos se fixaram após ação policial na praça Princesa Isabel.

Lanternas traseiras instaladas em bicicletas ficam mais visíveis em meio apagão
Falta de iluminação e a proximidade com a cracolândia afastam moradores que praticam atividades no Minhocão à noite - Ronny Santos/26.mai.2022/Folhapress

Na noite de sexta-feira (27), a prefeitura havia informado, em nota, que uma equipe estaria no local para detectar o problema. "Caso seja necessário e possível, fará a manutenção ainda no dia de hoje, no período noturno." No entanto, na noite de segunda (30), o problema persistia.

Nesta terça (31), a gestão municipal disse que uma equipe fez uma ronda em todo o elevado e resolveu o problema. "Em situações normais, a manutenção é realizada no prazo máximo de 24 horas. No entanto, em decorrência de fatores externos como queda de árvores, furto de cabos ou fenômenos naturais, esse prazo poderá ser estendido", diz o texto.

O apagão tem levado frequentadores a deixar de sair de casa para se exercitar. É o caso da artista plástica Cristina, 40, que preferiu não fornecer o sobrenome. Ela só usa o local enquanto há luz do sol.

"Não cogito ir desde que a cracolândia se instalou na Helvétia. Eles estão do lado da entrada por onde eu costumava subir. Só me sinto segura no Minhocão durante o dia, ou seja, sábado ou domingo", relatou.

O elevado Presidente João Goulart é fechado para automóveis de segunda a sexta-feira a partir das 20h, com pedestres e ciclistas podendo permanecer até as 22h. Aos sábados e domingos o trânsito de veículos é proibido durante todo o dia.

Quem também deixou de frequentar o elevado para a prática de atividades esportivas foi a jornalista Fernanda Martins, 33. Ela tomou a decisão há dois meses após sofrer uma tentativa de roubo ao deixar o Minhocão com duas amigas.

Conforme ela, a sensação de insegurança piorou com a migração da cracolândia para a região próxima à estação Santa Cecília do metrô. De sua varanda, ela conta já ter presenciado vários crimes.

"O que adianta morar ao lado do Minhocão, um dos símbolos de São Paulo, e não poder usar? Infelizmente, a violência nos torna reféns em nossas casas e a coisa só piora", acrescentou.

"Em relação ao furto de fios, isso é uma constante. Sinais de trânsito paralisados, iluminação pública, entre outras coisas, estão em falta. Os porteiros do prédio já foram avisados para monitorar a noite inteira para evitar o furto no prédio."

Os semáforos nos cruzamentos da avenida São João com rua Helvétia e com a rua Ana Cintra não estão operando. De acordo com a prefeitura, isso acontece porque os cabos foram furtados. "A manutenção já foi acionada. Nos últimos 30 dias, foram registrados três furtos nesses locais", afirmou a gestão Ricardo Nunes (MDB).

Imagem de drone mostra trecho sem iluminação
Falta de iluminação e a proximidade com a cracolândia afastam moradores de praticar atividades no Minhocão à noite - Ronny Santos/26.mai.2022/Folhapress

Fernanda ainda disse não sair mais a pé, utilizando apenas transporte por aplicativo, na tentativa de se esquivar dos roubos.

Há, no entanto, quem se arrisque na escuridão para se beneficiar das práticas esportivas ao ar livre, como o técnico de enfermagem Jefson Lobo, 34, e seu namorado, o professor Jucimar Lima, 36, que caminhavam sob os postes desligados.

"Com luz já é inseguro, eu só vim porque eu não sabia [da falta de iluminação]", disse Lobo.

"A gente está assustado, com um olho no peixe e outro no gato. Fui assaltado há cerca de um mês na República. Levaram dinheiro, celular, corrente, carteira e sapato", relatou Lobo. Segundo ele, cinco pessoas o atacaram.

Também aproveitando a noite no elevado naquele momento estava o casal Douglas Santos Silva e Mirian Vidal de Negreiros, ambos de 42 anos. Silva, que é sociólogo, destacou dois problemas naquele momento.

"Fica mais inseguro por questão de roubo e inseguro porque o trânsito de bicicleta às vezes não enxerga, porque está bem escuro."

Para ele, a pouca iluminação afasta as pessoas da área de lazer criada pela prefeitura. "Está vazio, porque está escuro. Essa parte sempre tem uma molecada jogando bola", diz, ao apontar a falta da turma do futebol naquela noite.

Morador de Santa Cecília, o cabeleireiro Alencar Souza, 64, disse à reportagem que há oscilações na luminosidade no elevado, com alguns dias com luz e, outros, sem.

"Ontem [quarta, 25] nem vim porque estava mais escuro ainda. Com a cracolândia, hoje nem dá para andar muito. São Paulo está abandonada, largada."

A reportagem permaneceu por cerca de uma hora e meia no elevado. Em alguns momentos, carros da GCM (Guarda Civil Metropolitana) passaram pelos dois sentidos da via, tanto em direção à zona oeste como ao centro.

Um dos guardas afirmou que a escuridão no elevado não era vista com frequência antes da chegada do fluxo de dependentes químicos na região.

A prefeitura disse que os agentes fazem rondas periódicas no elevado para coibir os crimes, incluindo o furto dos cabos. ​

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