Descrição de chapéu cracolândia drogas

Cracolândia fixa novos pontos no centro, interdita rua e faz comércio fechar

Após operação na praça Princesa Isabel, usuários de drogas se aglomeram em outras ruas de SP e são dispersados por guardas

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São Paulo

O fluxo da cracolândia passou a madrugada e a manhã desta quinta-feira (12) tentando se fixar em novos pontos do centro de São Paulo um dia após ação policial que esvaziou a praça Princesa Isabel, onde estava desde o dia 18 de março. Comerciantes da região baixaram as portas às pressas com medo de violência e de saques.

A correria dos que trabalham do local começa assim que se aproxima o grupo de moradores de rua e usuários de drogas expulsos de outros pontos tomados pela GCM (Guarda Civil Metropolitana). Isso ocorreu nas ruas Helvétia, do Triunfo e dos Gusmões, na avenida Rio Branco e na alameda Barão de Campinas.

A esquina das ruas dos Gusmões e do Triunfo foi totalmente fechada pela Polícia Militar, segundo informou a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) por volta das 11h30.

Na Helvétia, o dono de um restaurante tremia de nervosismo quando relatou à reportagem da Folha que correu para fechar portas assim que ouviu os usuários batendo nos vidros. Segundo o comerciante, eles gritavam que iam quebrar tudo. Um funcionário que voltava do supermercado conta ter sido cercado por dependentes químicos que queriam as sacolas.

Multidão de moradores e rua e usuários bloqueia rua
Concentração de frequentadores da cracolândia na rua Helvétia, próximo à avenida São João, um dia após operação na praça Princesa Isabel - Danilo Verpa/Folhapress

Uma moradora passeava com o cachorro na mesma rua e correu para dentro do prédio quando viu o fluxo indo em direção à esquina da Helvétia e da Barão de Campinas, onde os usuários ocuparam parte da calçada. Segundo ela, os usuários passaram ameaçando os moradores e dizendo que a rua era deles.

Por volta das 11h, a concentração de usuários bloqueava um dos trechos da Helvétia, entre a Barão de Campinas e a avenida São João, próximo ao estacionamento do 77º DP (Distrito Policial).

Antes disso, o grupo tentou ocupar a esquina das avenidas Rio Branco e Duque de Caxias e poucos metros da praça Princesa Isabel. Uma lanchonete em frente baixou as portas de segurança quando os usuários chegaram. A aglomeração durou menos de uma hora no local, até ser dispersada por carros da GCM.

Durante a madrugada a maior parte se instalou na esquina das ruas do Triunfo e Gusmões, na Santa Ifigênia. Ponto habitual de dependentes químicos há mais de 20 anos, as ruas voltaram a serem tomadas por tráfico e uso ostensivo de crack desde a noite desta quarta-feira (11).

O dono de uma loja de materiais de construção na rua do Triunfo esperou a GCM chegar e tirar os usuários para abrir a porta do estabelecimento. Mesmo assim, por segurança, abriu somente uma das portas. Ele mostrou imagens da câmera de segurança que mostram como a calçada em frente ao estabelecimento ficou intransitável durante a madrugada.

Proprietário de uma lanchonete na mesma rua desde 2002, outro comerciante reclamava do movimento baixo de clientes pela manhã, quando o balcão costuma ficar fica cheio de funcionários das lojas em busca de café.

Guardas-civis circulam pelo centro de carro e, assim que encontram uma concentração de usuários, ordenam sua retirada. Em seguida, equipes da zeladoria aparecem para tirar o lixo. Essa dinâmica se prolongou por toda a manhã.

A operação policial deflagrada na madrugada de quarta-feira esvaziou a praça Princesa Isabel, ocupada pelo fluxo da cracolândia desde o dia 18 de março, quando os usuários deixaram o entorno da Júlio Prestes por ordem do crime organizado, segundo a policia.

A 1ª Delegacia Seccional do Centro contabilizou seis prisões —a última foi confirmada nesta manhã— e a apreensão de drogas, armas, dinheiro e balanças de precisão. Havia 36 mandados de prisão para serem cumpridos.

Moradores dos bairros de Santa Cecília e Barra Funda passaram a noite postando vídeos nas redes sociais que mostravam o movimento de grupos de usuários de drogas pelas ruas.

Uma parte chegou a ocupar a praça Marechal Deodoro, em Santa Cecília, mas carros da Guarda Civil apareceram para tirá-los de lá. Houve registro de concentração na rua Apa.

Os vídeos também mostraram helicópteros da polícia sobrevoando os bairros com holofotes para acompanhar a movimentação.

Na rua do Triunfo, comerciantes disseram estranhar a nova pensão que passou a funcionar onde antes era uma loja de itens eletrônicos. A maioria dos estabelecimentos da via é comercial.

De acordo com as investigações da operação Caronte, da Polícia Civil de São Paulo, o tráfico de drogas usava pensões nas proximidades das praças Princesa Isabel e Júlio Prestes como ponto de apoio para guardar drogas.

Por volta das 18h30 desta quinta-feira (12), a reportagem presenciou quando profissionais que trabalham na coleta de lixo desceram de um caminhão e passaram a perseguir pela avenida Rio Branco um homem suspeito de ter praticado crimes. O caso aconteceu a menos de 30 metros da 1° Delegacia Seccional Centro, na rua Aurora.

No cruzamento da via com a Guaianases, um grupo com cerca de 200 pessoas ia em direção ao centro, muitos com cobertores sobre os ombros e carregando móveis e pedaços de madeira.

Além disso, um grupo usava crack na praça Júlio de Mesquita, que foi cercada com tapumes pela prefeitura, para uma futura obra de revitalização.

Outros blocos expulsos da praça Princesa Isabel perambulavam pela alameda Barão de Limeira, rua Vitória, avenida Rio Branco, avenida Duque de Caxias, e alameda Barão de Piracicaba.

De noite, todos os acessos à praça foram fechados pela polícia.

Durante entrevista coletiva na tarde de quarta-feira (11), horas depois da ação na praça, o delegado Roberto Monteiro, ao ser questionado se a dispersão seria um problema, afirmou que a situação era planejada. "Quando nós diluímos em pequenos núcleos, é mais fácil de fazer a abordagem", disse.

Nesta quinta-feira, Monteiro pediu a compreensão dos moradores da região. "Tem que ter uma compreensão da sociedade que é um processo. Nós vamos chegar na solução, mas é um problema complexo que exige soluções também complexas. Exige uma união, uma interação".

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