Email racista que vereador de Curitiba diz ter recebido foi forjado, diz sindicância

Ameaçado de cassação, Renato Freitas (PT) acusa relator de enviar mensagem ofensiva; parlamentar não foi localizado para comentar

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Curitiba

Um dia após a Justiça suspender a sessão que poderia cassar o mandato do vereador Renato Freitas (PT), a Corregedoria da Câmara Municipal de Curitiba concluiu parcialmente as investigações sobre o email que motivou a paralisação temporária da votação.

Freitas responde por acusação de quebra de decoro parlamentar pela participação em manifestação que invadiu uma igreja católica na capital paranaense, em fevereiro deste ano. Ele alega que o protesto foi um ato antirracista e denuncia a parcialidade da Comissão de Ética da Casa.

Na quinta (19), a juíza Patrícia de Almeida Gomes Bergonse, da 5ª Vara da Fazenda Pública, deferiu parcialmente um pedido de Freitas para que a votação sobre a cassação só fosse realizada após encerrada sindicância interna da Câmara que apura um suposto email com teor racista que o petista afirma ter recebido de Sidnei Toaldo (Patriota), relator do processo ético disciplinar.

"A Câmara de vereadores de Curitiba não é o seu lugar, Renato. Volta para a senzala. E depois de você vamos dar um jeito de cassar a Carol Dartora (PT) e o Herivelto [Oliveira] (Cidadania). Vamos branquear Curitiba e a região Sul, queira você ou não. Seu negrinho", dizia a mensagem supostamente destinada a Freitas.

Segundo a análise da Câmara, a mensagem não partiu de Toaldo. Com o resultado, a Câmara já pediu autorização para a nova votação ao Tribunal de Justiça do Paraná, que tem cinco dias para se manifestar. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Freitas para comentar.

homem de máscara e blusa vermelha com braços erguidos dentro de igreja ao lado de manifestantes
Ato contra o racismo violência no Largo da Ordem, em Curitiba, com o vereador Renato Freitas (PR), em fevereiro deste ano - @renatofreitasvereador no Instagram

A corregedora, vereadora Amália Tortato (Novo), disse que o fato do resultado de a sindicância sair um dia após a suspensão da votação pela Justiça foi "coincidência".

"Ontem [quinta], enviamos para a TI [tecnologia da informação] as informações coletadas na quarta (18) cedo e, como era de fácil verificação, eles responderam ainda ontem."

Questionada sobre a demora em enviar o pedido de análise, já que a sindicância foi aberta no dia 12 e a solicitação dos dados foi feita apenas no dia 18, Tortato disse que o órgão estava "fazendo o planejamento de quais seriam os passos a seguir, conversando com especialistas de TI para saber como dar andamento nas investigações".

A vereadora do Novo diz que os resultados são preliminares, mas que já é possível afirmar que a mensagem "não partiu da caixa de email institucional do vereador Toaldo".

Segundo a Diretoria de Tecnologia de Informação e Comunicações da Câmara, as ofensas racistas partiram de "um serviço de envio de emails anônimo, hospedado na República Tcheca, que não armazena logs, ou seja, não guarda registros para auditoria/mapeamento de informações, tais como data, hora, IP etc."

De acordo com a análise, "houve claro objetivo de forjar o remetente da mensagem, simulando as credenciais de envio como sendo as do vereador Sidnei Toaldo".

"A sindicância apenas não foi concluída, mas que em nada mudam o fato de que o email foi forjado e não partiu da conta institucional do vereador Sidnei Toaldo", diz texto da Procuradoria Jurídica da Câmara.

A sindicância interna tem prazo de até 30 dias úteis para conclusão, e a intenção agora, segundo a corregedora, é descobrir a verdadeira autoria do email. "Devemos concluir [o trabalho] em uma ou duas semanas e estamos esperando mais informações também para fazer sugestões de melhoria na segurança da Câmara", afirma Tortato.

O vereador Sidinei Toaldo disse confiar nos processos internos da Casa, em sua transparência e lisura, "do mesmo modo que foi conduzido o processo no Conselho de Ética contra o Renato Freitas".

"Gostem ou não, julgamos os atos do colega e, sim, eles foram compatíveis com abuso de prerrogativa. Ele foi ofensivo ao decoro, usou da prerrogativa de vereador, abusando do direito de manifestação", afirma Toaldo.

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