Descrição de chapéu indígenas

Exército nega apoio para comitiva parlamentar visitar terra yanomami

Deputados e senadores foram a Roraima para apurar denúncias contra garimpeiros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O Exército negou um pedido do senador Humberto Costa (PT-PE) de apoio logístico para que uma comitiva de parlamentares que foi a Roraima pudesse visitar as terras indígenas yanomamis.

A comitiva, composta por senadores e deputados federais, foi ao estado nesta semana para apurar as recentes denúncias feitas por indígenas contra garimpeiros. A expectativa inicial era de que seus integrantes pudessem visitar a aldeia de Aracaçá, que só é acessível de avião ou helicóptero e é próxima à base militar de Surucucu.

Por isso, o senador enviou um ofício ao comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, no último dia 5 de maio.

Helicóptero das Forças Armadas usado pela Polícia Federal, MPF e outros órgãos para ir à comunidade Aracaçá (RR), que foi encontrada vazia e parcialmente queimada
Helicóptero das Forças Armadas usado pela Polícia Federal, MPF e outros órgãos para ir à comunidade Aracaçá (RR), que foi encontrada vazia e parcialmente queimada - Reprodução - 27.abr.2022/Arquivo pessoal

"Pleiteio apoio a Vossa Excelência no sentido de disponibilizar apoio logístico para o deslocamento interno de alguns membros da comitiva, aproximadamente 15 pessoas, de Boa Vista ao distrito de Surucucus, no dia 12 de maio, para que cumpram o múnus de averiguar aquela situação indigenista, para a qual a nação ora volta os olhos", diz o texto, ao qual a reportagem teve acesso.

A resposta foi dada pelo general Francisco Humberto Montenegro Junior, apenas na última quarta-feira (11), quando os parlamentares já estavam em Boa Vista. "Não será possível prestar o apoio, tendo em vista a restrição dos meios aéreos disponíveis na região amazônica", afirma a negativa.

Questionado pela Folha sobre quais seriam essas restrições, os militares responderam que "a demanda foi analisada e constatou-se que a única forma de conduzir com segurança os parlamentares ao Distrito de Surucuru seria por meio aéreo. Infelizmente, o Exército Brasileiro não teve condições de prestar o apoio devido à restrição dos meios aéreos disponíveis na região Amazônica, na data solicitada".

Antes, no dia 4, a comitiva também pediu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que solicitasse à Força Aérea Brasileira (FAB) apoio logístico tanto para o deslocamento de Brasília a Boa Vista, como também da cidade até a aldeia.

Pacheco, no entanto, não colocou o ofício em votação nem o encaminhou à Presidência da República para que fosse repassado ao Ministério da Defesa. A reportagem o procurou, mas não obteve resposta.

Assim, a comitiva —composta pelos senadores Humberto Costa, Telmario Mota (Republicanos-RR), Chico Rodrigues (União Brasil-RR), Leila Barros (PDT-DF) e Elizane Gama (PDT-MA), pela deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR) e pelo deputado José Ricardo (PT-AM)— cumpriu agenda apenas em Boa Vista.

Os parlamentares se encontraram com lideranças indígenas, integrantes de instituições como Funai (Fundação Nacional do Índio) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), além de representantes da Polícia Federal e do Ministério Público.

A comitiva foi uma resposta à crescente tensão entre o garimpo ilegal e os yanomamis neste ano. Segundo relatos ouvidos pela reportagem sob condição de anonimato, lideranças indígenas, servidores da Funai e integrantes de ONGs vêm sofrendo ameaças e estão com medo de que a violência cresça ainda mais.

O paradeiro dos yanomamis da Aracaçá virou caso de polícia desde que a comunidade foi encontrada queimada e vazia, após a Condisi-YY (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana) denunciar que uma menina de 12 anos teria sido estuprada e morta por garimpeiros. A Polícia Federal diz que não encontrou indícios deste crime até agora.

Após o presidente da Condisi, Júnior Hekurari, afirmar que os desaparecidos tinham sido encontrados, ele revelou à Folha que diz ter descoberto que os indígenas foram cooptados pelos garimpeiros da região. "Estão na mão do garimpo. Eles estão coagidos, os garimpeiros entraram na cabeça deles", disse.

Cogitou-se, inicialmente, que o desaparecimento dos yanomamis fosse parte ou de um ritual de luto após a morte de um parente. Também especulou-se que eles poderiam ter se mudado por serem um povo nômade, ou até que estariam escondidos na floresta, como estratégia de defesa.

​Hekurari diz que, por enquanto, ainda não é possível ter certeza de quem queimou a aldeia e qual teria sido a razão. Mas afirma que é remota a possibilidade de que os yanomamis tenham feito residência em outro lugar. "Eu sou yanomami. Eles não fizeram preparo para ir para outro lugar", afirma, de acordo com o que viu na visita ao local, no fim do mês passado.

A violência de garimpeiros contra yanomamis em Roraima não é novidade. Na noite da última quinta-feira (5), por exemplo, a PF prendeu um condenado de participar do massacre do Haximu, ataque do garimpo que deixou 12 indígenas mortos, em 1993.

Em 2021, a região de Palimiú, vizinha de Aracaçá, sofreu ataques de garimpeiros armados. Em 2020, uma decisão do Tribunal Regional Federal determinou que o governo federal retirasse o garimpo ilegal da terra Yanomami em Roraima, o que ainda não aconteceu.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.