Descrição de chapéu cracolândia

Moradores na região do novo fluxo da cracolândia relatam medo, pessoas desmaiadas e sujeira

Usuários agora se concentram em trecho da rua Helvétia onde não há base da polícia

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São Paulo

A dispersão de dependentes químicos e moradores de rua que viviam de forma conjunta na praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, tem causado desespero e transtornos para moradores da região.

Muitos relatam que agora só saem de casa de carro ou em veículos de aplicativos —com usuários de drogas espalhados pelas ruas, poucos andam a pé na rua devido ao medo de roubos e furtos.

O início dos contratempos começou, segundo os moradores, após a ação conjunta dos governos estadual e municipal na madrugada de quarta-feira (11), que resultou na prisão de sete homens supostamente ligados ao tráfico de drogas na cracolândia e na apreensão de um punhado de drogas.

A partir daquele momento, as pessoas expulsas da praça passaram a vagar pelos bairros Campos Elíseos e Santa Cecília, ambos no centro, até o fluxo se concentrar na rua Helvétia, precisamente entre a alameda Barão de Campinas e a avenida São João.

Concentração de usuários de droga e moradores de rua na rua Helvétia
Usuários de crack na rua Helvétia com avenida São João, onde se concentra a cracolândia após operação da Polícia Civil, PM e GCM na praça Princesa Isabel - Danilo Verpa/Folhapress

Na noite desta segunda-feira (16), os usuários foram momentaneamente removidos pela Polícia Militar para que a Enel realizasse uma manutenção no local. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) disse que os semáforos do cruzamento da Helvétia com a São João tinham sido alvo de vandalismo.

Até por volta das 22h30, o fluxo estava na esquina da rua Doutor Frederico Steidel com a São João, a uma quadra do endereço anterior.

Segundo a prefeitura, a partir desta terça-feira (17) será montado um serviço de atendimento emergencial na esquina da São João com Helvétia. "A gente está fazendo o nosso papel de dar atendimento social e de saúde para esse público que agora está órfão de tráfico. O pessoal que agora está aceitando muito mais atendimento", disse à Folha o secretário-executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo, Alexis Vargas.

O ponto em que hoje estão os "ex-inquilinos" do entorno da praça Júlio Prestes e da praça Princesa Isabel possui imóveis residenciais e comerciais e fica na esquina de uma das principais avenidas do centro da cidade. Diferentemente dos locais em que o antigo fluxo estava, não há policiamento fixo na Helvétia. Carros da Polícia Militar e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) passam uma vez ou outra, conforme os relatos.

Moradores e comerciantes afirma que os usuários não foram parar ali por acaso, já que teriam recebido escolta policial até se instalarem na área.

"Minha rotina mudou completamente. Minha filha não vai para a escola, eu tenho medo de sair de casa. A rua está uma sujeira, um cheiro, um fedor. Eles sujam a rua inteira. São ONGs que vêm dar comida de quatro a cinco vezes por dia e eles deixam a rua uma sujeira. Não tem como a gente sair do nosso prédio", disse Maria (nome fictício —todos os moradores entrevistados pela Folha pediram para não ter seus nomes verdadeiros divulgados).

Segundo ela, sua filha, uma adolescente, foi morar com o pai, uma vez que estava com medo de permanecer dentro de casa.

Outro morador, que é arquiteto, relatou à Folha que, desde a chegada dos dependentes químicos, as imediações da Helvétia foram tomadas por fezes humanas, vômitos e pessoas desmaiadas. Ele classificou a situação de infernal e assustadora e reclama da falta de explicações do poder público sobre a situação.

Quem também se mostrou assustado com a situação foi um professor que mora a duas quadras do novo fluxo, mas que precisa passar diariamente em frente ao local para tomar o metrô. Segundo ele, andar pela região ficou muito perigoso.

À Folha, ele relatou que mudou sua rotina desde a última sexta-feira, quando deixou de andar a pé, por temer por sua segurança.

Praça Princesa Isabel vazia e limpa após ação policial
Praça Princesa Isabel limpa e vazia após operação da Polícia Civil e da GCM contra traficantes da cracolândia - Danilo Verpa/12.mai.2022/Folhapress

Além dos moradores, quem sofre com a chegada do fluxo são os comerciantes, que estão preocupados com o rumo que suas atividades vão tomar, já que os clientes passaram a minguar.

O proprietário de uma mecânica, que há 42 anos está praticamente no mesmo endereço, disse que pretende deixar o ponto, uma vez que tem enfrentando uma série de dificuldades, como manobrar os automóveis, com a permanência de um grande número de pessoas na via.

À reportagem, o presidente da Associação Pro Campos Elíseos Melhor, Iézio Silva, contou que as queixas de moradores são constantes, independentemente do local do fluxo, seja quando era na alameda Cleveland, na praça Princesa Isabel e, agora, na rua Helvétia.

No entanto, para Silva, o policiamento atual, o qual afirma não ter, está bem diferente dos outros locais, em que era possível notar um grande contingente de policiais e viaturas.

"A cracolândia era [quando estava na praça] cercada de polícia, tinha quatro bases de polícia, um monte de viatura, um monte de GCM, e, quando veio para cá, você não tem nenhuma viatura, não tem uma base de polícia, nada ali", disse.

De acordo com o presidente da associação, é necessário que uma viatura permaneça no local, não só para dar segurança para a população fixa, como para quem está somente de passagem.

Outro lado

À Folha, o secretário-executivo de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, afirmou que a gestão municipal está atenta às movimentações dos dependentes químicos.

"O que a gente tem hoje, em alguns pontos espalhados pela região central, pela região da Luz, Campos Elíseos, são concentrações menores de usuários. Não é a mesma coisa que tinha nem na praça do Cachimbo e nem na praça Princesa Isabel. Temos agora concentrações pequenas de usuários espalhados e a gente tem acompanhado isso aqui todo dia."

Segundo ele, a descentralização foi benéfica para ações de redução de danos, já que mais pessoas estão sendo abordadas e aceitando encaminhamentos.

"Vemos uma vantagem, uma vantagem muito grande. Porque, agora, que ele não está mais submisso ao tráfico e no meio de uma multidão, as nossas equipes de saúde e de assistência estão conseguindo um sucesso muito maior para atendê-los."

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública disse que a "Polícia Civil, no momento, avalia todas as possibilidades para combater o tráfico e o uso aberto de drogas, dentro dos limites da lei, nas ruas de São Paulo".

Ainda segundo a SSP, a Polícia Militar também atua na região nas atividades de policiamento preventivo e ostensivo com a presença de duas bases fixas e duas móveis, por meio de uma série de programas, incluindo policiamento comunitário e Força Tática.

O governo estadual ainda apontou que a busca de dependentes químicos por tratamento aumentou 23% na região central da Nova Luz, após a intervenção policial no início da semana na praça Princesa Isabel. Desde 2019, foram realizadas 6.000 internações hospitalares e 13,1 mil acolhimentos de assistência social.

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