Descrição de chapéu Obituário Welington Braz Carvalho Delitti (1953 - 2022)

Mortes: Amoroso, ajudou os outros sem esperar nada em troca

De origem humilde, professor de ecologia fez uma importante pesquisa internacional

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São Paulo

Quando pequeno, Welington Braz Carvalho Delitti tinha um brinquedo que simulava o Velho Oeste americano, com personagens de indígenas e soldados. No roteiro comum de algumas décadas atrás, seria de se esperar que os indígenas fossem pintados como vilões e os soldados como mocinhos, mas Welington mudava essa narrativa.

"Na sociedade de mais de 60 anos atrás, o índio era um assassino ou bandido, mas Welington tinha essa sensibilidade de perceber que, na realidade, eles só estavam defendendo suas terras. Era dessa forma que ele dramatizava essa brincadeira", afirma Marco Eid, primo de Welington, o qual considerava como um irmão.

Marco diz que essa história ilustra muito bem algumas características do primo, como a bondade. "Ele tinha muito carinho e consideração pelas pessoas e se relacionava com os outros sem preconceito, julgamentos e sem esperar [que receberia algo em] troca", afirma.

Homem de terno falando ao microfone
Welington Braz Carvalho Delitti (1953-2022) - Arquivo pessoal

De origem humilde, Welington nasceu em Penápolis, no interior de São Paulo, e viveu parte de sua infância em um ambiente rural. "Era uma criança que desde muito cedo tinha uma interação com a natureza pelo fato de morar numa fazenda", afirma Marco.

O contato prévio com a natureza tem relação com a profissão que seguiu. Depois de cursar o ensino médio, Welington ingressou no curso de biologia na USP e lá continuou no mestrado e doutorado. Daí, virou professor do departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da universidade.

Durante a sua carreira, uma pesquisa iniciada na pós-graduação sobre o ciclo de nutrientes de vegetais teve repercussão internacional. "Em função dessa pesquisa, ele recebeu um convite do governo da Espanha para fazer um grande trabalho de ecologia", conta Marco.

A filha de Welington, Luana Delitti, também recorda a dedicação do pai pelo trabalho, mas ele não se gabava de sua posição, mesmo tendo alcançado o título de professor titular, o mais alto da carreira docente da USP.

"Neste mundo acadêmico, sabemos que existe uma certa luta de ego, principalmente em relação a títulos, mas eu nunca ouvi meu pai falar [desse jeito]", diz Luana.

A filha também relata que o pai sempre se dedicou à criação dela e de seu irmão, sendo extremamente "maternal, amoroso, brincalhão". Até durante os últimos dois anos e cinco meses em que tratava de um câncer no pâncreas, Welington não deixou a família desamparada.

"Ele enfrentou com muita resiliência toda a doença e nunca ficou muito agressivo conosco, por exemplo", afirma.

Luana acompanhou o pai durante todo o processo de tratamento da doença, que envolveu até procedimentos experimentais. Mesmo com todos os cuidados, o biólogo não resistiu.

Welington deixa a esposa, Maria Cândida, dois filhos, sobrinhos e primos.

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