Descrição de chapéu Obituário Eduardo Gallotti Póvoa (1964 - 2022)

Mortes: Mestre das cordas e figura onipresente das rodas de samba no Rio

Cavaquinista Eduardo Gallotti, 58, morre em decorrência de câncer nas cordas vocais

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São Paulo

A paixão pela música fez Eduardo Gallotti Póvoa, o Gallo, abandonar a faculdade de biologia após cursar poucos meses. Criado em Botafogo e torcedor fanático do Fluminense, ele trocou o estudo da vida pelas partituras e se tornou um mestre das cordas.

"Ele pegava o cavaquinho de um dos irmãos, sem o irmão saber, e ia para um bar ao lado de sua casa, onde tinha uma roda de samba", conta o percussionista Marco Basílio, seu amigo há mais de 30 anos.

Cantor, compositor, cavaquinista e pandeirista, Gallotti foi, segundo os amigos, o principal responsável pelo surgimento de tradicionais rodas de samba no Rio de Janeiro —Sobrenatural, Severina, a do bar Emporium, do Trapiche Gamboa— e em Niterói, a do Candongueiro.

Eduardo Gallotti Póvoa (1964-2022)
Eduardo Gallotti Póvoa (1964-2022) - Eduardo Gallotti Povoa no Facebook

"Gallotti foi onipresente nas rodas do centro e da zona sul da cidade nas últimas décadas, não só com sua voz e cavaco, mas com seu estilo, sua maneira de conduzir uma roda de samba, encadeando músicas a partir dos motes mais diversos e pontuando com ironia, bom humor e crítica social. Sabia capturar os momentos no instante em que aconteciam, mais ou menos como os grandes fotógrafos, e o que revelava ali, na hora, era sempre algo muito perspicaz", afirma a amiga Manu da Cuíca.

"O Gallotti era o motor das rodas de samba, a alma total. Tinha paixão pelo cavaco e principalmente pelas rodas. Eu dizia que ele tocava pra caramba e perguntava porque não iria estudar solo. Ele falava que não queria ser músico profissional, mas tocar na roda de samba", conta o amigo João Pimentel, jornalista, compositor e escritor.

"Ele tinha o poder de agregar as pessoas. Maluco no melhor sentido, era um personagem cheio de histórias engraçadas, uma alma lúdica, de arte", diz João.

Na década de 1980, Gallo integrou dois grupos de pesquisa musical. Com o Éramos Seis participou da novela "Kananga do Japão", da extinta Rede Manchete.

Compôs vários sambas para os blocos do Carnaval de rua do Rio de Janeiro e desfilou com o seu cavaquinho em mãos.

No projeto Roda de Bamba, no MIS (Museu da Imagem e do Som) do Rio, dividiu o palco com Elza Soares e Paulinho da Viola.

Segundo o médico Luiz Gallotti Póvoa, 59, um dos irmãos, Gallo conviveu profissionalmente com grandes nomes, como Beth Carvalho. "Nas rodas de samba que ele fazia na casa da nossa mãe você encontrava desde grandes sambistas até o vigia do supermercado", diz o irmão.

O músico tem dois CDs lançados: "O Samba das Rodas" (2002) e "Quem Me Conhece" (2015). Como ator e cantor participou dos filmes "Noel Rosa, o Poeta da Vila" e "Samba no Botequim do Seu Zé", um curta.
Em 2011, apresentou-se e foi responsável pela direção musical da série de shows "Lapa de Todos os Santos", realizada no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

Com o cavaquinho em mãos, colaborou ativamente para a revitalização da Lapa como bairro boêmio. Em 2012, participou da gravação do DVD "Casuarina – 10 anos de Lapa", homenageando o evento "Samba em 4 Tempos". No mesmo ano esteve no projeto "Musicafinidades – Ecos de 22", em comemoração aos 90 da Semana de Arte Moderna.

"Ele cantava sambas da década de 40. Conhecia tudo sobre samba. Perdemos um grande sambista. Ele não fazia para ganhar dinheiro, mas por amor. Com certeza, ele está na luz", diz Basílio.

Eduardo Gallotti Póvoa passava por tratamento contra um câncer nas cordas vocais. Morreu no dia 12 de maio, aos 58 anos. Deixa a filha, dois irmãos, a mãe e a namorada.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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