Hudson Pereira Rosa dos Santos foi um produtor cultural e DJ que impulsionou a cultura negra na Grande Florianópolis. Idealizador do projeto Batuk Freak, que nasceu com o objetivo de promover e divulgar a arte e a música negra na região, ele realizou eventos para dar visibilidade a artistas negros, periféricos e LGBTQI+.
"Ele balançou as estruturas de Florianópolis e foi o primeiro negro que teve essa potência [na região]", afirma Caroline Luzia Pereira Terra Silveira, irmã de Hudson.
Nascido em Canoas, no Rio Grande do Sul, Hudson teve uma infância pobre ao lado da mãe e dos dois irmãos.
Desde a adolescência, ele demonstrava o gosto pela leitura e pelos estudos, além de estar sempre rodeado de amigos.
Segundo a irmã, ele tinha também um espírito muito acolhedor, herdado da mãe. Da matriarca também veio o gosto pelos eventos culturais.
"Minha mãe é uma mulher afrocentrada que sabe dos preconceitos e sempre falou para nós sobre questão racial, e o Hudson ia abraçando isso", afirma a irmã.
Caroline lembra que o irmão tinha uma "mania" que ela nem sempre aprovava, mas que com o tempo passou a admirar. Ele tinha o costume de acolher moradores em situação de rua.
"Eu brigava com ele, porque ele trazia para dentro de casa, dava comida, banho e às vezes eles dormiam na nossa casa", recorda.
Algumas vezes, Hudson doava roupas da mãe, aquelas que ficavam guardadas no armário. "Ele falava que ela não precisava, porque não estava usando. Ele era desde pequeno muito agregador", afirma Caroline.
Durante a pandemia, o produtor cultural também não deixou de ajudar o próximo. Segundo a irmã, ele não era de falar, mas transformou a vida de muitas pessoas, tirando-as da marginalidade, dando dignidade, apresentando a cultura e dando até emprego.
Em 2014, ele se mudou de Canoas (RS) para São José (SC). Dois anos depois, fundou a Batuk Freak. "Ele começou a produzir festas e eventos para a comunidade negra e a promover a justiça social ", lembra Caroline.
Com o projeto, apresentou para comunidades carentes a capoeira, exposição, grafite, hip-hop, além de ensinar crianças a discotecar.
"Ele disse que tinha cinco projetos na rua e que precisava dar continuidade em um para finalizar o outro que ficou pendente e conseguir trazer mais gente e exaltar mais a cultura negra", lembra Caroline.
"Tudo que o Hudson queria era a chance, que eu estou tendo aqui, de poder falar no jornal para os pretos, trans, LGBTQI+, para as crianças em estado de vulnerabilidade social, para as mulheres que sofrem violência doméstica, para todo mundo que precisa de uma justiça social e se sente isolado, que eles não estão sozinhos", conclui a irmã.
No último dia 28 de abril, Hudson Pereira Rosa dos Santos morreu, aos 37 anos, depois de um acidente de moto. Ele deixa a mãe e dois irmãos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.