Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Polícia apreende armas de agentes envolvidos em ação que deixou ao menos 23 mortos

Armamento passou por perícia; policiais e testemunhas foram ouvidos pela Delegacia de Homicídios, no Rio

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Rio de Janeiro

Policiais envolvidos na operação que resultou em 23 mortes na Vila Cruzeiro, na última terça-feira (24), entregaram suas armas para a realização de perícia. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital.

Por meio do confronto balístico com eventuais projéteis alojados nos corpos das vítimas, é possível identificar, por exemplo, de quais armas partiram os tiros.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que os agentes foram ouvidos, que testemunhas também prestaram depoimento e que outras ainda devem ser chamadas. "As investigações seguem para apurar todas as circunstâncias que envolveram o fato", diz a corporação.

A polícia não respondeu se o laudo da necropsia dos 23 corpos foi concluído pelo IML (Instituto Médico-Legal).

Moradores levaram corpos de homens baleados ao Hospital Getúlio Vargas, na zona norte do Rio de Janeiro, após operação da Polícia Militar na Vila Cruzeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Esse tipo de perícia pode mostrar, por exemplo, a quantidade de tiros, se eles foram disparados a curta distância e a localização das perfurações no corpo. Essas informações podem ajudar a identificar se as mortes ocorreram em confronto ou se há indícios de assassinato mesmo após a rendição.

O laudo também pode responder se houve perfurações com uso de faca, como alguns moradores relataram após a operação.

A ação na Vila Cruzeiro foi a segunda mais letal da história recente na Região Metropolitana no Rio de Janeiro. Ela foi deflagrada na madrugada de terça, por cerca de 80 agentes da Polícia Militar e mais 26 da Polícia Rodoviária Federal.

As forças de segurança se referem à operação como uma ação de inteligência. A polícia diz que tinha informações de que um comboio com dezenas de traficantes do Comando Vermelho deixaria a Vila Cruzeiro e se deslocaria pela cidade até a favela da Rocinha, na zona sul, comandada pela mesma facção criminosa.

O objetivo, de acordo com as forças de segurança, seria interceptar o comboio fora da favela e prender os criminosos em flagrante. Ainda segundo a polícia, o plano teve que ser abortado quando uma equipe à paisana na favela foi atacada pelos suspeitos, iniciando o confronto.

Moradores relataram indícios de assassinatos. Ao longo da terça-feira, eles afirmaram que ainda havia homens feridos na mata onde aconteceu o principal confronto, trocando mensagens com a família desde a madrugada. Segundo esses relatos, eles não tinham a possibilidade de sair diante do risco de serem mortos pela polícia mesmo após a rendição.

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro enviou um ofício ao Comando de Operações Especiais da Polícia Militar, pedindo a indicação da autoridade que determinou ou autorizou a operação; o envio de cópia da ordem da missão para realização da ação; informações sobre as pessoas vitimadas; número do registro de ocorrência e cópia do Boletim de Ocorrência Policial Militar.

O órgão solicitou urgência na resposta e deu um prazo até este sábado (28). Ainda não houve retorno.

Na terça-feira (24), o Ministério Público do Rio de Janeiro também deu um prazo máximo de 10 dias para que o comando do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) envie "o procedimento de averiguação sumária dos fatos ocorridos durante a operação, ouvindo todos os policiais militares envolvidos e indicando os agentes responsáveis pelas mortes, além de esclarecer sobre a licitude de cada uma das ações letais".

O MP-RJ requisitou ainda ao Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil informações sobre os inquéritos policiais instaurados para apurar os fatos.

A 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada também encaminhou ofício à Delegacia de Homicídios, recomendando que todas as armas dos policiais militares envolvidos na ação fossem apreendidas e enviadas para exame pericial, comparando com os projéteis que fossem retirados das vítimas.

O MPF (Ministério Público Federal) também pediu com urgência aos superintendentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal informações sobre a operação.

O órgão quer dados sobre o efetivo dos agentes que participaram da operação conjunta, assim como a qualificação completa deles e a cópia de suas respectivas fichas funcionais; o relatório final da operação; detalhes sobre o cumprimento dos mandados de prisão expedidos pela 1ª Vara Criminal da Regional Madureira e o número da ação penal; o inquérito policial e a cópia dos mandados de prisão expedidos; o local da realização do "briefing" da operação; e a cópia da ordem de serviço relacionada à incursão.

A PRF e a PM entraram em contradição a respeito do cumprimento de mandados de prisão como motivação para a ação na Vila Cruzeiro. Documento interno da PRF, usado para autorizar o emprego dos agentes na operação desta semana, mencionava pedido de apoio do Bope para o cumprimento de mandados de prisão de dois traficantes apontados como líderes do Comando Vermelho.

Porém, em entrevista à imprensa após a operação, o comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais), tenente-coronel Uirá do Nascimento Ferreira, afirmou que a incursão não visava cumprir mandados de prisão, mas sim interceptar o comboio de traficantes e prendê-los em flagrante.

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