Polícia Civil investigará se houve negligência na queda de balão em Boituva

Veículo levantou voo mesmo com alerta da Defesa Civil sobre possibilidade de ventos fortes na região

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Boituva (SP) e São Paulo

A Polícia Civil de Boituva (120 km de São Paulo) investiga se houve negligência na queda de um balão na manhã desta terça-feira (17), na zona rural de Porto Feliz, no limite entre as duas cidades do interior do estado.

Segundo o delegado Emerson Jesus Martins, a Defesa Civil estadual fez um alerta dizendo que entre terça e quarta (18) uma instabilidade no oceano iria provocar fortes ventanias nas regiões de Campinas e Sorocaba, onde ficam Porto Feliz e Boituva.

O alerta da Defesa Civil informa ainda que as rajadas de vento serão intensas, com pico no período da tarde desta quarta, de até 75 km/h.

Um funcionário da Aventurar Balonismo, dona do balão, disse por telefone que a empresa não iria se posicionar. A operadora também foi procurada por aplicativo de mensagem e por email, mas não respondeu.

Bombeiros atendem a ocorrência de queda de balão tripulável em Porto Feliz, no interior de São Paulo, na manhã desta terça-feira (17); sete viaturas foram para o local; cinco ficaram feridos
Bombeiros atendem a ocorrência de queda de balão tripulável em Porto Feliz, no interior de São Paulo, na manhã desta terça-feira (17) - Divulgação/Bombeiros

"Recomenda-se não praticar esportes influenciados pelo vento", diz trecho do alerta, emitido na segunda-feira (16).

O balão tinha sete passageiros, um fotógrafo e o piloto. Todos foram socorridos pelos bombeiros para hospitais de Boituva. O acidente ocorreu por volta de 7h.

Ricardo Almeida, presidente da Associação de Balonismo de Boituva, afirmou que o piloto foi surpreendido por um vento inesperado, que os sites de meteorologia não acusaram.

"No local foi dito que o balão decolou sem vento, mas que começou a ventar depois", disse o delegado à Folha. "Pelo que investigamos, parece que esse foi o único balão que subiu hoje. Precisamos saber se eles sabiam do alerta de ventos", afirmou.

O presidente da Confederação Brasileira de Balonismo, Johnny Alvarez, também disse que as condições para voo estavam normais, sem qualquer indicativo de que a prática deveria ser suspensa.

Segundo ele, havia um aviso de que ventos mais fortes poderiam ocorrer na região, mas a previsão era que isso só ocorresse no fim do dia. "Inclusive, eu tenho um vídeo do piloto decolando em 5 km/h, condições perfeitas para a decolagem. [A microexplosão] Acabou se adiantando e ele fez um pouso forçado", disse ele.

O fenômeno conhecido como microexplosão ocorre quando uma camada de ar, em altura acima de 5.000 metros, despenca rapidamente por estar muito fria. "Nessa queda, o vento acelera em direção ao solo", explicou o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

O órgão disse ainda que até o momento não há evidências que o fenômeno tenha acontecido na região nesta terça.

Alvarez disse explicou que o pouso forçado acontece geralmente quando há um aumento repentino do vento. "Ele viu que a intensidade do vento ficou mais forte e ele resolveu pousar o balão", analisou. De acordo com ele, a velocidade do vento estava em 49 km/h quando ocorreu o pouso.

"Os riscos são quando acontece o chamado caso fortuito. Um fenômeno da natureza. Estava programado matematicamente e numericamente pelas condições que iria entrar hoje a tarde ou hoje a noite e acabou se adiantando."

De acordo com a Prefeitura de Boituva, o balão pegou ventos de 39 km/h na hora do pouso. Segundo o capitão Márcio de Lima Renó, do Corpo de Bombeiros, as vítimas disseram que o piloto tentou pousar em um lugar aberto, onde três pessoas desceram. Depois o balão subiu de novo e tombou mais à frente, em um canavial.

Na delegacia de Boituva, para onde o balão foi levado, um funcionário da empresa disse que ele tombou a cerca de 500 metros de onde o piloto tentou pousar.

"Parece que ele chegou a bater uma outra vez no chão antes de parar", afirmou o policial.

O caso foi registrado como lesão corporal e perigo para a vida ou saúde de outrem.

Até as 15h desta terça, a polícia ainda esperava a documentação do balão, que precisa ser registrado na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Procurada para falar da velocidade do vento na hora do acidente, a Defesa Civil Estadual não respondeu até a publicação desta reportagem.

Em nota, a Prefeitura de Boituva disse que uma comissão de avaliação e monitoramento da atividade de balonismo, formada pela associação da categoria e produtores rurais, foi procurada nesta terça, mas ainda não tinha informações.

Segundo a associação, Boituva tem cerca de 20 operadoras de passeios de balões.

Outros acidentes

Em maio do ano passado, três balões, que ainda estavam no chão, foram atingidos por uma rajada de ventos e bateram na rede elétrica. O acidente deixou quatro feridos em Boituva.

Em 2010, um casal morreu após a queda de um balão na cidade, quando comemorava aniversário de casamento.

Na última quarta-feira (11), dois paraquedistas morreram e outras 14 pessoas sofreram ferimentos após o avião em que estavam atingir uma torre de alta tensão e cair em Boituva.

O avião caiu numa área de pasto ao lado da estrada vicinal Alfredo Boratini, de acordo com o Corpo de Bombeiros. A cidade é considerada a capital nacional do paraquedismo.

Estavam a bordo o piloto e 15 paraquedistas. Um dos mortos foi André Luiz Warwar, 53, gerente da competência de imagem, estratégia e tecnologia da TV Globo. O outro foi o instrutor Wilson José Romão Júnior, 38.

O acidente ocorreu menos de três semanas após outra paraquedista morrer na cidade.

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