Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus

Operação na Vila Cruzeiro vira alvo de investigação de promotores e procuradores

Defensoria e líder comunitário dizem que moradores de favela no Rio pedem socorro e há vítimas com sinais de execução

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Rio de Janeiro

A operação conjunta que terminou com ao menos 22 pessoas mortas na favela da Vila Cruzeiro virou alvo de investigação nos Ministérios Públicos federal e do estado do Rio de Janeiro. O objetivo é apurar eventuais violações de direitos durante a ação da Polícia Militar, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal na comunidade da zona norte carioca.

No Ministério Público Federal, os procuradores pediram em caráter de urgência aos superintendentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal informações sobre efetivo que participou da operação desta terça-feira (24), com cópia de suas respectivas fichas funcionais e relatório final sobre a ofensiva.

Já a Promotoria estadual instaurou procedimentos sobre as circunstâncias das mortes e solicitou ao comando do Bope (batalhão especial da PM) que envie em até dez dias um relatório que aponte os responsáveis pelas ações letais.

Além disso, pediu à Polícia Civil informações sobre os inquéritos abertos para apurar os fatos.

Duas mulheres se abraçam e choram; outra olha para as duas
Amigos e familiares de mortos na operação na favela da Vila Cruzeiro, no Rio, na porta de hospital - Eduardo Anizelli/Folhapress

David Gomes Lobo, liderança da Faferj (Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro), diz que recebeu denúncias de moradores sobre indícios de execução nos corpos.

"Há relatos de pessoas assassinadas que foram esfaqueadas, inclusive há imagens disso. Morte com faca não acontece em situação de confronto, portanto foi uma execução", diz ele, acrescentando que há mais vítimas do que o estimado na área onde houve o tiroteio.

"Tem vários corpos na região da mata, entre os complexos da Penha e do Alemão, que a gente não conseguiu acessar com instituições de direitos humanos por causa da operação."

A vereadora Tainá de Paula (PT), que esteve na Vila Cruzeiro nesta terça-feira, disse que ainda há relatos de pessoas feridas na mata. Segundo essas informações, os feridos têm enviado mensagens a familiares desde a madrugada, mas não conseguem sair do local com receio de serem mortos pela polícia.

A vereadora também afirmou que viu o corpo de um homem, estirado no meio da favela, com diversas perfurações e um pó branco semelhante a cocaína espalhado pela boca. A Folha teve acesso a fotos do corpo, envolvido em uma manta e deitado sobre o chão, com sangue na região do nariz e um pó branco sobre a boca e o queixo. As imagens não serão publicadas para preservá-lo.

Segundo Lobo, membros das comissões de direitos humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) não conseguiram entrar na comunidade para falar com as famílias das vítimas.

"Infelizmente, não conseguimos subir. Era um tiroteio muito intenso. Aí voltamos para a associação de moradores, que foi o local onde a gente conseguiu se reunir para traçar estratégia."


Onde fica a favela da Vila Cruzeiro


Suspeita de chacina

A Ouvidoria e o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Rio de Janeiro foram ao Complexo da Penha para coletar informações e fornecer auxílio. Em nota, o órgão disse que "os moradores pedem socorro enquanto relatam desespero, angústia e muito medo" e que escolas, aparelhos públicos e o comércio local estão fechados.

Além das 22 mortes confirmadas até o momento, outras duas foram informadas pela comunidade local. Os órgãos afirmam que a "alta letalidade da operação levanta suspeita de que uma chacina" pelos policiais. "O eventual envolvimento de algumas vítimas com o crime não autoriza, por si só, o homicídio por agentes do Estado", dizem, em nota.

Questionada pela reportagem, a Polícia Militar do Rio de Janeiro não se manifestou sobre os relatos de que pessoas teriam sido mortas sem possibilidade de rendição.

A Polícia Militar diz que equipes do Bope e da Polícia Rodoviária Federal se preparavam para a incursão quando suspeitos começaram a efetuar disparos de arma de fogo na parte alta da favela.

Segundo a PM, a operação desta terça tinha como objetivo prender em flagrante lideranças criminosas, inclusive vindos de outros estados como Alagoas, Bahia e Pará, que se deslocariam da comunidade para a favela da Rocinha, na zona sul.

Segundo a assessoria do Hospital Getúlio Vargas, o total de mortos já chega a 21 pessoas, além de 7 feridos. A conta não inclui uma moradora identificada como Gabrielle Ferreira da Cunha, 41.

De acordo com a Polícia Militar, ela foi baleada na localidade conhecida como Chatuba, comunidade vizinha à Vila Cruzeiro, durante o confronto. A corporação diz que os demais mortos são criminosos. Assim, no total, são ao menos 22 mortos.

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