Projeto de camping para sem-teto causa desconforto na Prefeitura de SP

Secretário Carlos Bezerra diz que é preciso de uma 'solução assertiva, e não asséptica'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O projeto que envolve a criação de camping para moradores de rua em São Paulo, anunciado pela secretária de Direitos Humanos e Cidadania, Soninha Francine, causou desconforto na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, encabeçada por Carlos Bezerra, que não concorda com a proposta.

"Acho que o que faltou foi sintonia com as políticas que já estão em andamento na prefeitura", diz Bezerra. "Creio que, como a secretária acabou de chegar, ela ainda não está a par do esforço intersecretarial nesta questão, e que foi construído ao longo de meses."

O secretario afirma que a ideia de camping para a população em situação de rua se mostrou sem sucesso no mundo. "É uma ideia paliativa, errática e que criou guetos. É só ver o modelo nova-iorquino que vem sendo desmontado."

Moradores de rua no Viaduto do Glicério, na região central de São Paulo
Moradores de rua no Viaduto do Glicério, na região central de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Em entrevista à Folha, publicada nesta segunda-feira (9), Soninha disse que o modelo prevê destinar um terreno onde os moradores de rua possam montar suas barracas e ter acesso a uma estrutura de banheiros, chuveiros e onde lavar as roupas.

Segundo ela, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse que, sabendo da agudeza da situação da cidade, dinheiro não seria um entrave. Soninha disse ainda que o camping seria uma forma flexível de abrigo.

Bezerra afirma que "portas de saída não se dão a partir de um acampamento de moradores em situação de rua, que se tornam guetos ao longo do tempo."

A seu ver, não se trata de "dar um jeito", mas uma busca de "solução assertiva, não uma solução asséptica."

"É preciso, sim, retirar as pessoas da condição de rua", acrescenta ele. "Quando o prefeito Ricardo Nunes diz que haverá recursos para tratar as políticas para a população em situação de rua, ele está priorizando a dignidade humana. Então, não se trata do que é mais barato, mas do que é mais digno."

Segundo Bezerra, a gestão municipal criou, neste semestre, 1.500 vagas em hotéis para moradores de rua, elevando o total para 3.200. Além disso, de acordo com ele, nesta semana sairá o resultado de um pregão que permitirá a oferta de 350 moradias temporárias.

O secretário ressaltou ainda que a Secretaria de Direitos Humanos tem o papel de formular diretrizes, porém a execução das políticas públicas cabe a outras secretarias, caso da Assistência Social, Habitação, Saúde e a do Trabalho, "que além de pensarem nas propostas, executam as políticas."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.