Descrição de chapéu cracolândia drogas

Vizinhos da nova cracolândia reclamam de barulho e falta de policiamento

Moradores contam que mudaram rotina com medo do aumento de violência no entorno da Helvétia, onde está o fluxo

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São Paulo

Moradora da rua Ana Cintra, no Campos Elíseos, região central de São Paulo, há 18 anos, a autônoma Fátima Maria Silva, 59, só sai de casa a noite acompanhada por um vizinho desde que a cracolândia se estabeleceu na Helvétia, a rua de cima.

"Toda noite eu vou buscar minha filha no metrô porque ela chega da faculdade às 22h30", diz encostada na fachada do prédio. Do outro lado da avenida São João, a cracolândia funcionava a todo vapor no meio da tarde desta terça-feira (17). Não havia nenhum carro de polícia por perto.

Usuários de drogas se concentram na rua Helvetia
A rua Helvetia se tornou o novo local da cracolândia no centro de São Paulo - Danilo Verpa 16.mai.22/Folhapress

"Não temos polícia nem GCM para garantir segurança dos moradores. Jogaram novamente o fluxo na Helvétia e viraram as costas para os moradores", diz Antonio Iezio Silva, morador da alameda Barão de Limeira, a dois quarteirões de distância do fluxo.

Em nota, a Polícia Militar, por meio do 13º Batalhão, que atua na região, afirmou que executa policiamento preventivo e ostensivo com a presença de duas bases fixas e duas móveis. A Polícia Civil informou que, no momento, avalia todas as possibilidades para combater o tráfico e o uso aberto de drogas, dentro dos limites da lei. Entre janeiro e março deste ano, 62 pessoas foram detidas e 10,2 quilos de drogas foram apreendidos em toda a região, segundo a polícia.

Os usuários passaram a noite de segunda-feira (16) e a tarde de terça-feira (17) em uma via próxima à Helvétia, a rua Frederico Steidel. De acordo com o secretário-executivo de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, a mudança ocorreu a pedido da concessionária Enel, que precisou isolar a Helvétia para um reparo na rede elétrica.

Segundo o secretário, os usuários arrancaram fios no subterrâneo o que comprometeu o fornecimento de energia na região.

Na tarde desta terça, o morador Silva organizou um protesto com os vizinhos na avenida São João. "Quando a cracolândia era no largo Coração de Jesus ficavam viaturas da GCM e bases da PM. [Os usuários] vieram para dentro do bairro e todo aparato de segurança ficou lá no entorno do futuro hospital. A população que se lixe. Não estão dando a mínima", diz.

O largo Coração de Jesus fica na região onde por décadas funcionava a cracolândia, nas proximidades da praça Júlio Prestes. Em março, porém, os dependentes deixaram o local e se mudaram para a praça Princesa Isabel, que fica a duas quadras do antigo endereço. Na semana passada, uma operação policial retirou os usuários dali e eles se espalharam pelo centro de São Paulo, criando o cenário atual.

Taxista no ponto da rua Ana Cintra há 28 anos, João Ferreira, 83, diz estar acostumado com o movimento de dependentes químicos pelo centro, mas nunca assim tão de perto. "Acabou o movimento do ponto", disse.

A diarista Josineide Lopes de Paiva, 54, mora em um prédio próximo ao novo fluxo e reclama do barulho a noite. "Eles gritam 'viva a cracolândia' a noite toda. Ninguém mais dorme", diz.

Comércios próximos passaram a tarde com as portas fechadas com medo de ataques. A vendedora de salgados na esquina na avenida São João não abriu nesta terça, assim como o restaurante que fica na calçada oposta.

Motorista de aplicativo e vizinho da nova cracolândia, Cícero Pires, 48, conta que tem evitado sair a pé desde que os usuários se fixaram no outro lado da rua. "Todo mundo concorda que eles têm que ir para algum lugar, mas ninguém os quer na porta de casa", diz.

Dispersão de usuários

A operação policial que esvaziou a praça Princesa Isabel, na última quarta-feira (11), dispersou os usuários de drogas pelas ruas do centro.

Os grupos tentaram se estabelecer na praça Marechal Deodoro, na avenida Rio Branco e nas ruas do Triunfo e dos Gusmões, na Santa Ifigênia, mas foram impedidos pelos carros da GCM que apareciam para tirá-los de lá.

O quarteirão da Helvétia onde a cracolândia está neste momento fica atrás do estacionamento do 77 DP que investiga o tráfico de drogas na região central.

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