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Defensoria e OAB pedem redução de 70% das mortes por policiais no RJ

Propostas foram encaminhadas ao estado após determinação do ministro do STF Edson Fachin

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Rio de Janeiro

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro e a Ordem dos Advogados do Brasil no estado pedem que o governo reduza em 70% as mortes por intervenção policial no prazo de um ano. As propostas foram encaminhadas ao Palácio Guanabara entre quarta (15) e esta segunda-feira (20).

Ao fim de maio, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin decretou que o Governo do Rio de Janeiro ouvisse, em um prazo de 30 dias, o Ministério Público, a Defensoria Pública e o Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil para concluir o plano de redução da letalidade policial no estado.

A ordem se deu no bojo da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, na qual o STF decidiu, em 2020, restringir as operações policiais em favelas do Rio de Janeiro para casos excepcionais enquanto durar a pandemia da Covid-19. Ela ocorreu depois da operação na Vila Cruzeiro, zona norte da cidade, que resultou na morte de 23 pessoas.

Corpo de vítima da Operação da Vila Cruzeiro chega ao hospital Getúlio Vargas, na zona norte do Rio de Janeiro
Corpo de vítima da Operação da Vila Cruzeiro chega ao hospital Getúlio Vargas, na zona norte do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli - 24.mai.2022/Folhapress

Em março, o estado já havia apresentado um plano de redução da letalidade policial, obedecendo determinação do Supremo. O PSB, autor da ADPF, pediu, porém, que as propostas fossem desconsideradas.

Apoiado por instituições de defesa dos direitos humanos, o partido argumentou que as propostas eram genéricas e que não contavam com cronograma ou previsão de recursos financeiros para a sua implementação.

No plano encaminhado ao governo, a Defensoria afirma que a redução de 70% nas mortes por intervenção policial "é perfeitamente viável e razoável". A proposta é baseada em cálculos do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense).

O órgão lembra que tal diminuição chegou a ser atingida nos quatro meses seguintes à decisão do STF que restringiu as operações policiais, ao mesmo tempo que também houve redução dos principais indicadores criminais.

A Defensoria também cita pesquisa coordenada pelo sociólogo Ignácio Cano, que indicou que 5% das
mortes violentas intencionais são causadas por agentes do estado e que, sempre que esta porcentagem ultrapassa 10%, há claros indícios de abuso da força.

"Com base nos números de 2021, seria necessário reduzir em 72,3% o número de mortos por intervenção de agentes do Estado para que não fosse ultrapassada a proporção máxima de 10% do total de mortes violentas", escreveu o órgão.

A Defensoria menciona, ainda, estudo de Paul Chevigny, professor da NYU (Universidade de Nova York) especialista em Justiça criminal, que estabeleceu como indicador de abuso da força oficial a razão entre
pessoas mortas por agentes do Estado e agentes mortos em serviço.

Segundo esta pesquisa, se esta razão passar de 10 para 1, há indício de abuso da força. O órgão escreve que, em 2021, a razão foi de 136 pessoas mortas pela polícia no Rio de Janeiro para cada policial morto em serviço.

"Logo, a queda da letalidade policial necessária para que esse indicador fosse atendido seria de 92,6%, percentual bastante superior à meta recomendada no presente documento."

A Defensoria também pede que sejam implementadas ações de garantia de perícia independente, o controle de armas e munições, o fortalecimento de programas de proteção e que seja assegurado o direito à participação das vítimas nas investigações.

O órgão defende, ainda, melhorias no treinamento, reciclagem e nas condições de trabalho dos agentes de segurança, com formação voltada para os direitos humanos e contra o racismo estrutural. Também pede a criação de uma ouvidoria externa da polícia, com participação de entidades da sociedade civil.

"Urge que a violência e a criminalidade não sejam enfrentadas apenas com o uma questão restrita à polícia, buscando mitigar suas causas, através de políticas voltadas especialmente para a juventude negra, pobre e residente em favelas, principal alvo da brutalidade institucional", escreve a Defensoria.

Segundo a decisão de Fachin, o governo deverá acolher ou rejeitar as sugestões elaboradas pelos órgãos, informando a respectiva justificativa.

Depois, em um prazo de 30 dias, o estado deverá ainda realizar audiência pública para colher propostas da sociedade civil. Mais uma vez, o governo deverá dizer por que acolheu ou rejeitou cada uma das sugestões.

O Estado convocou a audiência no Diário Oficial desta segunda-feira —ela será realizada no dia 28 de junho.

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