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Gesseiro fica 22 dias preso por engano no lugar do irmão em Mato Grosso do Sul

Homem foi detido em delegacia em Campo Grande quando buscava atestado de óbito da mãe

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Campo Grande

No dia 30 de maio deste ano, o gesseiro Edimilson Rodrigues da Costa, 49, já enfrentava a tristeza de ter perdido a mãe, vítima de infarto, quando foi até a delegacia da Polícia Civil, em Campo Grande, para registrar a morte dela. O sentimento passou para a perplexidade ao ser preso em flagrante, acusado de ser fugitivo do sistema prisional em Mato Grosso do Sul.

Ele passou 22 dias preso até que conseguisse provar que o foragido era o irmão, Emilson Rodrigues da Costa, 52, que usou os documentos do gesseiro ao longo da vida. O criminoso tem sentenças de 22 anos e 9 meses por homicídio, tráfico de drogas e roubo.

homem abraça mulher, com casa atrás
Edimilson Rodrigues da Costa é recebido pela família ao deixar prisão; gesseiro foi detido quando buscava na delegacia atestado de óbito da mãe, em maio - Campo Grande News/Mirian Machado

"Já era um dia tão complicado", disse Costa à Folha, lembrando-se da morte da mãe. Ele contou ter ido à polícia com a esposa para registrar boletim de ocorrência e seguir com trâmites do sepultamento da mãe.

Logo após entregar documentos pessoais ao agente, foi chamado para acompanhá-lo. Em outra sala, foi informado que estava preso.

Surpreso, perguntou o motivo da prisão e o agente respondeu que ele estava "na quebra". O gesseiro continuou sem entender. "Tô na quebra do quê?"

O policial disse que Costa era considerado foragido do Centro Penal da Gameleira desde 19 de abril e havia quebrado o regime semiaberto. O gesseiro já sabia do uso indevido dos seus documentos pelo irmão, que foi acusado de falsidade ideológica em 2011. Tentou argumentar com os policiais. "Não teve conversa, nem me deram atenção."

Costa conseguiu pedir que a mulher fosse chamada, entregou chave, celular e carteira, e pediu que ela cuidasse do sepultamento. Dormiu na delegacia e, no dia seguinte, foi transferido para o IPCG (Instituto Penal de Campo Grande).

"Vixi, na hora que cheguei, assustei, um tumulto de gente", lembrou Costa. Nos primeiros dias, dormiu "na praia", o chão da cela, destinado aos recém-chegados.

Enquanto isso, o advogado José Gondin, contratado pela família, entrava com pedido de liberdade do gesseiro, anexando documentos comprovando que o preso era Edimilson, trabalhador com carteira assinada, com comprovante de residência e no mesmo emprego desde 2017.

No último dia 10, o juiz da 2ª Vara de Execução Penal, Albino Coimbra Neto, expediu o alvará de soltura, condicionado à coleta das digitais para confrontar com as do irmão, inseridas no sistema prisional.

Neste meio tempo, dois problemas atrasaram a liberação, segundo o advogado: feriado local e nacional, além do erro de o pedido de coleta ter sido enviado para o presídio de Aquidauana (MS). Costa só foi liberado na última terça (21).

Menos de 12 horas depois, o gesseiro foi acordado de madrugada pela Polícia Civil com a notícia da prisão do irmão: Emilson Rodrigues da Costa foi detido por acaso, em Campo Grande, ao ser flagrado em atitude suspeita, empurrando um carro no Jardim Tijuca, por volta da 0h.

Questionado sobre a identidade, ainda tentou falar para os policiais militares que se chamava Edimilson, mas errou a data de nascimento e o sobrenome da mãe.

Na delegacia, os irmãos se reencontraram, depois de 13 anos. O preso perguntou sobre a mãe e o irmão respondeu que ela "está no céu".

O gesseiro disse que o outro chorou, pediu desculpas e tentou se justificar. "Não tem explicação, não tem desculpas para o que ele fez; falei para ele seguir com a vida dele, cumprir a pena dele e se esquecer de mim."

O advogado disse que está avaliando processar o Estado por danos morais. Segundo Godin, o uso indevido da identidade já havia sido constatado em flagrantes interiores, tanto que Emilson Costa respondeu por falsidade ideológica.

Para o advogado, faltou zelo em dar baixa no Sistema Integrado de Gestão Operacional do governo estadual e retirar do nome do cliente a responsabilidade pelos crimes do preso.

Agora, ele irá aguardar que o processo seja encaminhado para o juiz da Vara de Execução Penal para que o confronto de digitais seja realizado e permita limpar a ficha de Costa nos outros inquéritos e ações.

Edimilson Costa ainda não consegue dormir direito e tenta esquecer o que passou. Se emociona ao lembrar que perdeu o velório da mãe, Raimunda. "Não tem nada de bom para tirar dessa experiência, jamais pensei que isso iria acontecer, o erro não foi meu, foi da Justiça, foi tudo muito difícil".

A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil e a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) questionando sobre a prisão de Costa.

A Polícia Civil não se manifestou.

A Agepen respondeu que apenas cumpre ordem judicial e a coleta é de responsabilidade do Instituto de Identificação, que foi oficiado da determinação no dia 15. A coleta foi realizada no dia 20 e o preso liberado no dia seguinte. A assessoria diz não ter informação do envio de documento ao presídio de Aquidauana.

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