'Não vou puxar nem Lula Lá nem Fora Bolsonaro', diz presidente da Parada LGBT

Evento que acontece domingo na avenida Paulista é dedicado à importância do voto

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São Paulo

Depois de dois anos fora da pista por causa do isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus, a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo faz um retorno de natureza política. Em sua 26ª edição, o evento, que já entrou para o Guiness Book como o maior do seu gênero no mundo, quer defender a importância do voto e da democracia.

A parada está marcada para acontecer neste domingo (19), a partir da 10h, na avenida Paulista. A marcha se inicia ao meio-dia e faz seu percurso até a praça Roosevelt, na região central de São Paulo, passando pela avenida Consolação.

A presidente da organização da Parada LGBT de São Paulo, Claudia Garcia
A presidente da organização da Parada LGBT de São Paulo, Claudia Garcia - Karime Xavier/Folhapress

A proposta temática seria uma provocação ao atual governo, frente à proximidade das eleições e aos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao sistema de urnas? A presidente da organização da parada, Claudia Regina dos Santos Garcia, responde que não haverá nenhuma manifestação partidária durante a realização do evento.

"Não vou puxar nem 'Lula Lá' nem 'Fora Bolsonaro'", diz. "Não vou discursar a favor ou contra um candidato, somos um movimento suprapartidário. Mas defenderemos um voto que seja representativo dos nossos direitos, um voto progressista, tanto no executivo como no parlamento", continua.

Presidente da Parada desde 2017 e membro da equipe da organização do evento desde 2004, Garcia fez parte, nos anos 1980, do grupo Somos, pilar do berço do movimento pelos direitos LGBTQIA+ no país. Também tem sua trajetória ligada à fundação do PT, o que pode colocá-la na linha de fogo dos bolsonaristas. "Respeito o voto de todos, inclusive porque há bolsonaristas na comunidade", diz.

Garcia afirma, porém, que houve retrocesso na garantia dos direitos LGBTQIA+ no governo Bolsonaro. Ela critica a falta de recursos públicos direcionadas a campanhas de conscientização e políticas inclusivas, entre outras medidas da atual gestão.

Cita como exemplo de apoio à comunidade no passado uma série de palestras realizadas na rede de ensino pública em 2005 pela organização da parada, com patrocínio de uma empresa de eletroeletrônicos. "Íamos às escolas para falar de diversidade. Hoje não existe espaço para isso", diz.

Um ano antes, o governo federal, então sob Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lançou o projeto Escola sem Homofobia, que não chegou a ser implementado. Bolsonaro fez coro junto a grupos conservadores e passou a combater o que chamava de "kit gay", um material didático direcionado a professores do ensino público.

O mandatário chegou a mostrar no Jornal Nacional, em 2018, quando era candidato, o livro "Aparelho Sexual e Cia.", editado pela Companhia das Letras para adolescentes, como parte do que seria o "kit gay" falsamente atribuído a governos petistas.

Mais recentemente, cita Garcia, houve o fechamento do Museu da Diversidade Sexual por determinação da Justiça, em abril. O fechamento foi provocado pela decisão do desembargador Carlos Otávio Bandeira Lins, do Tribunal de Justiça de São Paulo, que pediu a suspensão do contrato entre a o governo estadual e o Instituto Odeon, administrador do museu.

O pedido de suspensão do contrato foi feito após manifestação do deputado estadual Gil Diniz (PL-SP), também conhecido como Carteiro Reaça, um apoiador de Bolsonaro.

Os ataques do presidente e de seus aliados, contudo, podem ter tido efeito contrário na sociedade, afirma Garcia. Ela diz que tem recebido mais denúncias e notícias de violências cometidas contra a comunidade gay, "a um nível que não se via desde os anos 1970". "Ao mesmo tempo está havendo uma reação da sociedade contrária a esse comportamento", prossegue.

"Existe uma comoção coletiva contrária ao racismo e à homofobia", diz, citando como exemplo a força que artistas trans ganharam nos últimos anos tanto nas redes sociais quanto nos shows.

A Parada do Orgulho LGBT será realizada com patrocínios de empresas da indústria alimentícia, do setor editorial, da moda, com apoio logístico da prefeitura, da CET, da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana. Nesta edição, terá 19 trios e carros distribuídos em seu trajeto, e uma programação que conta com a participação de Pabllo Vittar, Luísa Sonza e Liniker.

Também há recomendação do evento para que os manifestantes participem usando máscara, como medida preventiva contra gripe e Covid-19.

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