Descrição de chapéu LGBTQIA+

Parada LGBT+ lota Paulista com críticas a Bolsonaro

Primeira edição presencial após pandemia teve tom de protesto; público não usou máscara, mas ficou mais contido

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A avenida Paulista foi tomada neste domingo (19) por pessoas com bandeiras de arco-íris. Depois de dois anos de interrupção devido à pandemia, a Parada do Orgulho LGBT+ voltou a lotar a principal via de São Paulo —e trouxe com ela um tom político.

Com milhares de participantes, foi dos maiores eventos realizados na cidade desde o início da crise sanitária, em março de 2020. A Covid causou o cancelamento das duas últimas edições presenciais da Parada.

A expectativa da organização era reunir 3 milhões pessoas no evento. Segundo o Datafolha, a lotação máxima do trecho Consolação-Paulista é de 1,5 milhão de pessoas —num cálculo intencionalmente superestimado, considerando sete pessoas por metro quadrado.

Manifestante carrega bandeira contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a Parada do Orgulho LGBT+, na Avenida Paulista
Manifestante carrega bandeira contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a Parada do Orgulho LGBT+, na Avenida Paulista - Bruno Santos/Folhapress

Renato Viterbo, vice-presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, declarou ao canal GNews que a organização estima 4 milhões de participantes nesta edição da Parada. Em 2012, quando a entidade divulgou um número parecido, o Datafolha calculou que o público era de cerca de 270 mil pessoas. A Polícia Militar não fez estimativa de público.

O cabeleireiro Jonas Chagas 24, disse que já participou de três Paradas e que estava "morrendo de vontade de beijar, mas o povo está evitando". Embora a maior parte do público não tenha usado máscaras, o clima estava mais contido este ano.

O tema escolhido para este retorno às ruas foi "Vote com Orgulho", uma referência às eleições de outubro. A organização disse que o objetivo era realizar um evento de caráter suprapartidário, mas a maior parte das manifestações trazia críticas ao atual governo.

Desde a concentração, ainda pela manhã, muitos manifestantes carregavam cartazes ou bandeiras contra Jair Bolsonaro (PL). Vendedores também ofereciam material contra o presidente ou que faziam alusão a dois símbolos da oposição: a vereadora carioca Marielle Franco, morta em 2018, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Coros de "fora, Bolsonaro" foram repetidos por diversas vezes pelo público, principalmente durante os discursos. Diversos políticos também compareceram na Paulista para prestigiar o evento, como o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) e Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato a uma vaga na Câmara dos Deputados.

"Espero que seja o último ano da Parada com um genocida do poder, que a gente vai arrancar do Palácio do Planalto", disse Boulos em cima de um dos trios do evento.

A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy também compareceu e fez coro às críticas ao governo, mas sem mencionar diretamente Bolsonaro.

"Não é um momento qualquer da nossa história. Nós estamos num retrocesso civilizatório. Tudo o que faz com que tenhamos respeito uns com os outros é o que estamos perdendo nesses anos", disse ela.

O atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), não compareceu ao evento, diferentemente do que fizeram tradicionalmente seus antecessores. O único a não comparecer ao menos uma vez nas últimas duas décadas foi João Doria (PSDB), que em 2017 foi representado pelo então vice, Bruno Covas (PSDB).

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que a secretária de Cultura, Aline Torres, representou o prefeito. A gestão, porém, não explicou o motivo da ausência de Nunes.

Além do tom de protesto, a edição da Parada foi marcada pela exibição das marcas patrocinadoras. Nos anos iniciais da Parada LGBT, os trios eram organizados por entidades representativas e pelas casas noturnas que lideravam o cenário gay e underground da noite paulistana.

Desta vez os artistas se apresentaram associados aos carros de empresas como Burger King (caso de Ludmilla) e da Amstel (com Luísa Sonza). Cláudia Regina Garcia, presidente da Parada LGBT, diz que as empresas têm políticas inclusivas.

A entrada de Luísa Sonza em frente ao Conjunto Nacional na esquina com a Augusta, provocou grande alvoroço e empurra-empurra. Ela abriu a apresentação por volta das 16h com o hit "Devagarinho", que animou o público.

O ator e ex-BBB Tiago Abravanel também foi uma atração celebrada, cantando junto com Gretchen e o bloco Agrada Gregos.

A cantora Pabllo Vittar estava no último carro da fila, vestida de amarelo com arranjos no cabelo que faziam referência ao k-pop, gênero que a artista fundiu ao funk brasileiro. O som no carro dela, porém, estava bastante abafado e era difícil entender o que cantava.

Pabllo cantou por quase duas horas e, após sua apresentação, o último carro da parada se transformou em uma festa animada por hits da FM.

Enquanto as caixas de som tocava música das bandas Mamonas Assassinas e Los Hermanos, ainda chegava gente. As portas da estação Higienópolis-Mackenzie do metrô foram fechadas nos dois lados da rua da Consolação, o que provocou tumulto.

Até as 18h, a Polícia Militar havia registrado apenas uma ocorrência de roubo na avenida Paulista. O balanço será divulgado nesta segunda-feira (20), segundo a corporação.

Algumas pessoas, porém, afirmaram terem presenciado furtos de celular. ​

Colaborou Mariana Zylberkan, de São Pualo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.